Pablo Paz 29/04/2024
No lugar das Massas, o Enxame
No lugar do Big Brother o Big Data. No lugar da sociedade do controle, a sociedade da transparência. No lugar da disciplina, o desempenho. No lugar da confiança, a desconfiança. No lugar das Massas, o Enxame.
Saem as Massas, típicas do século XIX e XX, para dar lugar ao Enxame, típica da sociedade da informação. A diferença crucial entre "massa" e "enxame" é que a primeira, para o bem ou para o mal, quando formada, ganha alma: o indivíduo perde-se, funde-se nela, com algum objetivo em comum. No enxame, ao contrário, não é possível criar um nós. São como aquelas moscas que se juntam para devorar algo (cultura do cancelamento, compartilhamento de fake-news) e, logo após, se espalharem novamente.
Eis um trecho: "No panóptico digital não é possível nenhuma confiança? ela não chega nem mesmo a ser necessária. A confiança é um ato de fé [Glaubenakt], que se torna obsoleto em vista das informações facilmente disponíveis. A sociedade da informação descredita toda crença. A confiança torna possível relações com outros sem conhecimentos precisos sobre eles. A possibilidade de uma aquisição rápida e fácil de conhecimento é prejudicial à confiança. A crise de confiança atual é, vista desse modo, também medialmente condicionada. A conexão digital facilita a aquisição de informação de tal modo que a confiança, como práxis social, perde cada vez mais em significado. Ela dá lugar ao controle. Assim, a sociedade da transparência tem uma proximidade estrutural à sociedade de vigilância. Onde se pode adquirir muito rápido e facilmente informações, o sistema social muda da confiança para o controle e para a transparência. Ele segue a lógica da eficiência." (pp. 76-77)
O Enxame representa a passagem da Biopolítica - a docilização e vigilância dos corpos pelo Panóptico e suas instituições corretoras - para a Psicopolítica: a dominação da psique pelo Big Data sem nenhuma necessidade de vigilância ou coação externa.