Ingrid_mayara 27/01/2018
Minhas impressões de leitura
Castro Alves, o "poeta dos escravos", apresenta-se nesse livro como um observador da vida deles (escravos). Mesmo que ele seja um tipo de porta-voz nas partes escritas em primeira pessoa, EU compreendi que são poemas sobre negros, escritos preferencialmente para leitores/ouvintes brancos.
Fiquei um pouco incomodada com alguns estereótipos de escravos — infantilizados, vingativos, erotizados, estranhamente fiéis à divindade cristã, tendenciosos à rebeldia, aparentemente desprovidos de intelectualidade, etc — porém, considerando o que escrevi no parágrafo acima, acho válida a intenção.
Tendo isso em vista, ponderei minha avaliação sobretudo no que diz respeito à arte da palavra escrita, à capacidade do autor de me provocar uma infinidade de sentimentos ao ler sua obra; já sabendo que algumas releituras serão necessárias para melhor compreensão. Considerei também, ao avaliar, a exposição desse tema àquela época (1883).
Breve resumo dos meus poemas favoritos:
1- A Canção do Africano: numa senzala havia um escravo cantando próximo à fogueira que estava prestes a apagar. Logo ele iria dormir porque teria de acordar bem cedo para não ser castigado. Do outro lado havia uma escrava cantando baixinho para o filho dormir. Era uma música saudosista (que lembra a "A Canção do Exílio", do Gonçalves Dias): "Minha terra é lá bem longe,/Das bandas de onde o sol vem;/Esta terra é mais bonita,/Mas à outra eu quero bem! (...)".
2- Tragédia no lar: uma escrava cantava triste para seu filhinho dormir, parando um pouco para enxugar as lágrimas. Ele ficava assustado com o barulho vindo de fora, mas quando ela voltava a cantar, ele sorria. O canto é interrompido com a chegada do "senhor", que ordena à cativa que lhe dê seu filho, pois iria vendê-lo. Ela, em primeira instância, tenta convencê-lo a não cometer tal injustiça, mesmo sabendo que ele tinha esse "direito".
Além desses dois, nessa primeira leitura eu gostei bastante de: Vozes d'África, A mãe do cativo, Mater dolorosa, e Lúcia.
Recomendo que esse livro seja lido aos poucos. São mais de trinta poemas e eu li apenas cinco por dia, aproximadamente.
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