Fome

Fome Knut Hamsun




Resenhas - Fome


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mpettrus 09/07/2024

O Escritor Faminto de Hamsun
?Foi nessa época que passei fome em Kristiania, esta cidade maravilhosa, da qual ninguém sai antes de receber as suas marcas.?

??Fome? é um romance implacável escrito pelas mãos de Knut Hamsun lançado em 1890. O romance de estreia do autor sobre seu alter ego nos conta a história de um jovem com sonhos de ser escritor vivendo na fria cidade da antiga Kristiania, hoje, atual Oslo.

?O dia-a-dia do protagonista se configura como uma série de altos e baixos em uma luta constante e obstinada para colocar comida no estômago.

O seu apoio é uma editora. O seu obstáculo é o editor dos livros, que muitas vezes não está presente. E caso lá esteja, ele não aceitará os manuscritos que lhe forem apresentados.

? Basicamente, esse é o enredo central da história. À priori, você pode achar que não acontece muita coisa nesse livro. Ledo engano.

Quando lemos as páginas desse romance com mais calma, desbravamos suas mensagens implícitas e começamos a perceber que essa história tem um enredo psicológico muito forte.

? Ao acompanharmos a jornada do protagonista, um jovem escritor vivendo em extrema pobreza, enquanto vagueia por Kristiania - às vezes sem-teto, às vezes vivendo na acomodação mais miserável que se possa imaginar -, descobrimos tão logo que a maior parte da história se passa dentro da cabeça do escritor.

Esse romance é essencialmente um estudo psicológico do que acontece com a mente, quando você está vivendo no limite, lutando desesperadamente pela sobrevivência. Fiquei na dúvida se se tratava de um romance cujo tema é naturalista ou socialmente realista.

?O protagonista passa fome porque não consegue encontrar trabalho ou porque é pobre? Ou a fome é um catalisador para tudo, exceto representações de miséria social? Bem, de qualquer modo, a fome é algo a que o escritor está exposto. É uma droga que o faz ver tudo sob uma luz diferente.

? Hamsun retrata o período de fome do escritor pouco antes da chegada do inverno. Ele vagueia inquieto pelas ruas da cidade. Vacilante, dividido e desesperado.

Sua alma é um conglomerado de fragmentos culturais do passado e do presente, restos de livros e jornais, pedaços de pessoas.

? Ele é um sujeito sem história visível e sem identidade fixa. É nervosamente observador, impressionável. Cheio de abrasões mentais vivencia a cidade e seus habitantes de maneiras distorcidas e paranoicas.

Conversa com mendigos, velhos, penhoristas, prostitutas, garçonetes e policiais. Ele fala com todos eles. Seus discursos são monólogos.

Ele sonha com encontros amorosos orientais e grandes realizações literárias. É sempre solitário e é antissocial. É uma espécie de criminoso sem crime. Sua imaginação é dominada pela paranoia, pela idiossincrasia estética, pelo orgulho frágil, pela autodefesa e pela agressividade.

Ele é uma montagem de impulsos mais ou menos arbitrários. Ele é retratado sem profundidade interior, sem experiência e com pouca visão auto analítica.

?É, portanto, tudo menos um herói de romance tradicional. Ele está no presente, e todas as suas autorreflexões são sobre as experiências presentes que não podem ou devem ser reunidas numa formação de experiência coerente, mas permanecem sempre no temporário. O romance não tem momentos construtivos.

? Praticamente todas as expressões de interesse pelos outros, todos os sinais de generosidade têm a ver com algo diferente de empatia.

Trata-se de assumir posições que impeçam a recaída na lavagem do chão, nas refeições regulares, nos apertos de mão amigáveis ??e na ternura. Trata-se de exposição a distúrbios sensoriais e mentais. Eles são sobre orgulho e arrogância.

? O escritor faminto de Hamsun se encontra constantemente ou se coloca em situações que promovem essa posição de ?outsider?. Ele se sente estranho a si mesmo, vê-se como presa de ?influências estranhas e invisíveis?.

Nada escapa a sua atenção. Ele é um ponto de encontro para os regimentos da arbitrariedade. Seu humor está além do controle pessoal. Tudo parece ?fugir de mim?, é dito em vários trechos do romance.

Não tenho dúvidas de que o autor desse romance foi exposto à fome. As descrições e os detalhes são tão vívidos e realistas que é quase como se você, leitor, estivesse passando pela experiência. Isso torna a leitura desconfortável. É doloroso ver um ser humano se desintegrando daquele jeito.

? Eu estava apertando as mãos em desespero, quando, depois de um longo período sem comida substancial, o escritor recebe uma refeição adequada, mas seu corpo, que não está mais acostumado com comida, não consegue mantê-la no estômago.

E eu queria chutá-lo, quando a dignidade e o orgulho o impedem de aceitar comida ou dinheiro, o que poderia mantê-lo por um dia ou dois.

? Hamsun mergulha direto na alma ao descrever as fantasias e pensamentos febris de um homem que se equilibra no abismo, pois aqui orgulho e decência são desafiados continuamente. Mas se há algo que permeia o livro é, afinal, a esperança.

? A esperança e o sonho de uma vida melhor, que nunca se extingue completamente. Alterna-se entre se divertir com sua tentativa desajeitada de encobrir sua pobreza e entre ficar deprimido com sua vida miserável.

Esse romance sombrio e existencial é fascinante. É escrito em estilo ?fluxo de consciência?, embora bastante comum hoje em dia, era bastante incomum em 1890.

Achei a prosa extremamente poderosa, com cada palavra queimando com raiva, exasperação, desespero, frustração. O protagonista não se entrega à auto piedade, recorrendo por vezes ao humor descontraído, o que torna tudo mais suportável.

? Do início ao fim, essa história é uma viagem insistente ao ser de um ser humano que vagueia pela grande cidade à beira de ser engolido e consumido pelas suas duras condições de vida. E é a descrição de uma luta desesperada para encontrar uma posição segura na vida.

? Uma luta descrita em linguagem formidável por Hamsun. Se você é fascinado por literatura existencial com foco na mente humana, esse romance é leitura obrigatória.

Não à toa, Hamsun foi chamado de Dostoiévski nórdico. Foi um dos pioneiros da literatura psicológica e considerado inspirador de autores como Kafka e Thomas Mann. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1920.

Admirador da Alemanha desde os tempos de Otto von Bismarck, ele detestava o modo de vida promovido pelo expansionismo industrial patrocinado pelos ingleses.

Então, na década de 1940, com mais de 80 anos, passou a apoiar abertamente o n4zism0. Em 1943, ao encontrar Adolf Hitler e Joseph Goebbels, ele presenteou o ministro de propaganda alemã com a medalha recebida no Nobel. E enfureceu Hitler queixando-se da violência das tropas alemãs na Noruega ocupada.

Com o fim da guerra, em 1945, já aos 86 anos, ele foi julgado e condenado como colaboracionista. Teve de pagar uma multa que o deixou novamente pobre e passou o resto de seus dias preso/internado em um hospital psiquiátrico.

Escritor de mão cheia, pagou um preço alto ? justamente, diga-se ? por sua detestável escolha política. E continua pagando: não há e nunca houve em toda a Noruega uma rua, estátua ou mesmo um selo em sua homenagem.

?????????????
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Ibn.Al-Ahlam 16/06/2024

Um retrato existencialista
Knut Hamsun ? ou Knut Pedersen, seu verdadeiro nome ? foi incrível neste livro. Sua escrita nos causa sede, a leitura flui tanto que é impossível não despertar em si o desejo de continuar navegando em suas águas. Apesar de sua vida pessoal ter sido de um verdadeiro pífio!, nesta obra, repito, Knut foi incrível.

O personagem, um sem-nome, possui apenas um toco de lápis, papéis e, geralmente, muito geralmente, fome. Para sobreviver, tentava escrever para jornais, sua cabeça, porém, inquieta, tornava o ofício um desafio angustiante. Cheio de orgulho e princípios, era, muitas vezes, o próprio autor de sua desgraça.

A partir das atitudes do personagem, vê-se a genialidade de Knut, vê-se o quê do existencialismo. O autor, ao longo da estória, vai "brincando" com o seu personagem, traçando os caminhos moralmente corretos, mas deixando bem claro a sua decadência a cada ato "justo" e bondoso; e, mais que tudo, deixando claríssimo que somos reféns da absurda liberdade, junto a agonizante responsabilidade. O personagem é dono de uma liberdade infinita... que fazer com tanta liberdade? Agir de má-fé! Noutras palavras, conformar-se com a visão de mundo alheia, escapando de sua própria Verdade e negligenciando a sua própria liberdade e responsabilidade. Nada nunca dando certo, o personagem vê-se fora de si, agindo muitas vezes por impulso, de maneira a acharem-no louco ou ele mesmo crer nisso... mas, no fundo de toda aquela loucura, havia sempre uma consciência... a consciência, talvez, de possuir a tal liberdade e a tal responsabilidade.

"Assim me ordena igualmente a própria consciência..."
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jurdangf 19/04/2024

Fome
Muito bom, ele conta exatamente a dificuldade das pessoas, os dias que ele quase morre de fome, com ninguém para ajudar, mesmo que ele implore, sempre expulsam ele. ele, mesmo na miséria, continuou mostrando ética e morais, dá o resto de dinheiro e posses para pessoas mais pobres que pedem para ele. ele conta que suas roupas já estão tão gastas, sem dinheiro para comprar novas.
depois de certo ponto, começa a melhorar um pouco sua vida, um cara da dinheiro para ele e ele pode comer, depois conhece essa mulher e acha que se apaixonou por ela, mas ela o manda embora. mas também achei que ele se exaltou muito nessa parte, talvez fosse masculinidade frágil.
no final finalmente sai da cidade e espero que tenha conseguido ficar bem, mude sua vida, saia da pobreza extrema.
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Alessandro117 02/02/2024

Esfomeado pretensioso
Definitivamente esse livro não funcional para mim.
Nunca vi tantas e tantas voltas em um livro tão curto, com várias repetições.
E ainda por cima peguei raiva do personagem principal que tinha hora que minha pena se transformava no desejo intenso que ele se desse mal.
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Marcela 04/01/2024

Bon appétit
O romance Fome (Sult) de Knut Hamsun, autor norueguês abriu um caminho novo à literatura escandinava. A história é a de um jovem poeta que vagueia por Oslo morto de fome (e aqui, o termo toma todos os sentidos possíveis: fome moral, social, romântica, religiosa etc.). O romance é um longo monólogo interior, a vida e os acontecimentos miseráveis do personagem só são amenizados por conta de seu orgulho interior, trazendo ao livro passagens cômicas que beiram o grotesco. Orgulho esse também responsável por levá-lo à ruína. Os efeitos físicos e mentais da subnutrição levam o protagonista à loucura. A mudança de humor e euforia e a busca pela sobrevivência é o que move o livro. Aqui, vida e obra são indissociáveis. Knut realmente passou fome durante sua vida, foi criado no interior rural do país, começou a trabalhar ainda criança. Se aventurou em cidades maiores, foi para os EUA, retornou à Noruega. O Nobel de literatura veio em 1920, aos 62 anos. Apoiou abertamente o nazismo, o que fez com que muitas de suas obras fossem esquecidas depois dos anos 60. Hamsun é avesso á modernidade e ao materialismo da sociedade capitalista industrial, seus personagens são moralistas, não agem fora das regras e sim por impulsão, e ao adorarem a vida, insinua-se neles a angústia da morte, dando ao Romance o tom melancólico, claramente inspirado por Dostoiévski, von Hartmann, Schopenhauer, a noção de super-homem de Nietzsche, Freud, ao Romantismo Alemão e à poesia e simbolismo fim de século. Não é por acaso que o livro chamou tanta atenção e influenciou atores consagrados como Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Henry Miller, Ernest Hemingway, Bertolt Brecht, André Breton, H. G. Wells, Stefan Zweig, Charles Bukowski, entre outros. Um clássico que merece ser redescoberto e ter seu espaço no cânone literário mundial.
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ana 30/10/2023

Diferente
É um livro estranho mas que te mostra oque a loucura pode fazer com o ser humano, assim como te mostra também oque a fome, a necessidade e principalmente o orgulho. Durante várias partes do livro me senti irritada e angustiada com o personagem principal.
Bom num todo não posso dizer que não gostei e nem que desgostei, mas para mim se tornou uma leitura maçante pelo estado do personagem! mas acho uma leitura interessante.
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Rond 24/07/2023

Angustiante
É interessante observar como o autor aborda a relação entre orgulho e dignidade, mostrando como o personagem central é incapaz de aceitar ajuda ou comprometer-se com trabalhos que possam garantir sua subsistência, tudo em nome de um senso distorcido de dignidade e autoimagem. Essa postura nos leva a questionar o que realmente importa quando estamos à beira do abismo, e até que ponto somos capazes de renunciar à nossa própria sobrevivência em prol de princípios e crenças.

"Fome" é uma obra-prima da literatura mundial, que captura a essência da luta humana por meio de um personagem complexo e perturbador. A habilidade de Hamsun em tecer uma história tão envolvente e visceral, sem dúvida, nos faz refletir sobre nossas próprias prioridades e a fragilidade da existência humana. Para aqueles que buscam uma leitura impactante e emocionalmente intensa, "Fome" é uma escolha mais do que acertada
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25/05/2023

Lindo
Nada a declarar. Somente dizer que aprecio demais esse livro.

































Leiam?
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Leila 02/03/2023

Eu tenho uma forte tendência a sofrer muito nos livros de desgraceira extrema, como pobreza, maus tratos e afins. Aqui em fome, como o próprio título já denuncia, temos uma obra que é o tempo todo falando sobre a bendita escassez de recursos, da fome em si, das alucinações que ela traz, da fraqueza física e toda a decadência humana que vem junto com ela. Seria um livro destruidor para mim se tivesse sido escrito por um Charles Dickens por exemplo, mas o Hamsun não tem uma mão boa para a dramaticidade não e não rolou nem uma lágrimazinha por aqui. Está certo que junto com toda essa humilhação que advém da fome, ele quis colocar humanidade no nosso personagem, quis colocar bondade no olhar dele, em ver aqueles que ainda poderiam estar piores do que ele e isso foi algo bem legal dentro da obra, é sútil, mas está presente em todo o livro. Enfim, é um bom livro, mas não morri de amores por ele não, porém valeu a leitura, até porque nunca tinha lido nada desse autor norueguês laureado com o Nobel de Literatura. E assim, fecho fevereiro! Que venha março...
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Fabricio.Santana 01/02/2023

Fome
A história sobre um aspirante a jornalista que sobrevive tentando vender matérias ao comissário, durante o decorrer da história temos relatos e avanços vividos sobre a fome e seus estágios.
Indendente da maneira na qual o protagonista se encontra, ele se recusa a desistir do seu valor mais valorizado, a honestidade, nunca roubou, mas talvez ao decorrer da leitura o destino e acaso acabem com esse valor. Possui um desfecho inesperado, mas um desenvolvimento progressivo e lento.
Knut hansum é um norueguês, nasceu em 1859, publicou seu primeiro romance aos 18, o livro "Fome" foi seu terceiro romance publicado em 1890, essa edição possuía a tradução de Carlos Drummond de Andrade em 1985, lembrando que Knut recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1920
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pineligor 31/01/2023

Pra sair da zona de conforto
No começo foi difícil pra mim digerir o estilo e o ritmo de escrita, mas do meio pro fim eu já estava imerso e fluiu muito bem. É um clássico muito bom, com passagens rápidas e curiosas, mas definitivamente não é pra todo mundo. Mostra, em um personagem isolado, a maneira com que a fome pode atingir a população, e muitas vezes nada é feito.
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Andre24 02/12/2022

Orgulhoso demais pra sobreviver
Não consegui me apegar ao protagonista. Ele conseguia piorar sua situação a cada esquina e depois ficava reclamando como se o destino fosse culpado. Cheguei a achar divertido quando ele abandona a fé e culpa os céus (talvez esperando uma resposta como a de Jó) e nada acontece. O relacionamento com a Ialaiala tbm foi bem apressado, tanto o início quanto o desfecho.
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Pedro.Braga 03/05/2022

Brazil, 2022
Esse livro é a história de um brasileiro vivendo durante o governo Bolsonaro. O cara trabalha o ano todo e no fim do mês consegue comprar um saco de arroz e um de feijão.
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Homericio 12/03/2022

POR QUE ESTE LIVRO É IMPORTANTE?
POR QUE ESTE LIVRO É IMPORTANTE?
Um dos romances mais importantes noruegueses e europeus. Perturbador, acompanhar o personagem (sem nome) vagando desesperadamente pela cidade de Kristiania (Oslo), em busca de migalha de pão para se alimentar, enquanto vomita e dorme/desmaia de tanta fome, enquanto aguarda ansiosamente por alguma notícia positiva sobre algum possível emprego, enquanto penhora o pouco que tem em troca de dinheiro suficiente para apenas uma refeição, nos coloca numa situação de desespero.

Ainda, a personagem é completamente orgulhosa, e recusa qualquer tipo de ajuda quando lhe é oferecida.

Acompanhamos este escritor vagando, delirando, e ficando cada vez mais ausente da realidade, torcendo para que supere o orgulho e aceite qualquer ajuda, mas isso não acontece. O mal maior na história é o orgulho do jovem escritor, e não a fome e miséria em si.

Vemos momentos de nobreza por parte do escritor, quando dá aos outros o pouco que tem (literalmente), como um pão, um casaco. Embora isso não fique tão claro como um ato de pura bondade, e sim que o orgulho da personagem a impedia de enxergar a sua realidade miserável, sempre se sentindo superior.

Observação: o desespero em ver a personagem passando fome era tanto, e a descrição disso pelo autor tão realista que eu parava toda vez para buscar algo para comer. Meu estômago doía de ler algumas situações.

- QUANDO FOI ESCRITO? QUAL PERÍODO?
Publicado em 1890

- QUANDO E ONDE SE PASSA A HISTÓRIA?
kristiania (atual Oslo)

- COMO É A PERSONAGEM PRINCIPAL?
O personagem principal da história nunca revela seu nome. Ele é um pobre jornalista, aparentemente em início de carreira. Seguindo a carreira de escritor, ele está experimentando dolorosamente a discrepância entre o mundo ideal e o material. Sua alma paira em algum lugar alto, mas o corpo, forçado a viver em condições deploráveis. Seus manuscritos são recusados para impressão, mas ele não para de tentar escrever uma obra-prima. Mesmo nos momentos de desespero em que passa vários dias morrendo de fome e chega a extremos, tentando morder o dedo, seu sonho não o deixou se render. Ao mesmo tempo, procura viver com a consciência tranquila, não aceita a caridade e está pronto até a dar assistência aos necessitados. Parece que ele é um grande homem e merece ser respeitado. Mas nem tudo é tão simples, a moeda tem outra face. O protagonista é um terrível egoísta, e sua nobreza e honestidade são explosões emocionais bastante insinceras. É uma tentativa de satisfazer suas ambições. Ele gosta de fazer as pessoas se sentirem tolas, enganá-las. Ele toma a inspiração como algo concedido, como algo que Deus é obrigado a prover, e é Deus quem, em sua opinião, é o culpado por todas as falhas criativas.
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Val Alves 08/12/2021

Escrever, a arte da fome
Estive, nos últimos dias, diante desse personagem sem nome que jamais esquecerei, apesar de não saber como irei chamá-lo. "O artista faminto" talvez...
Um escritor na miséria não é o enredo dos mais originais (o que me faz questionar se essa arte é assim mesmo tão mal recompensada) entretanto, nesse caso essa estória é contada de forma completamente original e, se não tivesse alcançado o êxito que teve,  certamente o mereceria.
Apesar de não ter um nome o que não falta para O artista faminto é criatividade, tanto para inventar alguns nomes para si quando 'necessário', quanto para criar personas absolutamente sem necessidade. Além de, no meio de um cenário totalmente desfavorável,  criar espaço para devaneios amorosos.
Mas ele sente fome. Muita fome. Fome generalizada. Não apenas falta-lhe comida,  mas tudo o mais que poderia manter sua dignidade enquanto ser humano e artista.
Ele não tem o que comer, onde morar e nem condições de fazer o que mais deseja que é escrever. Dignidade essa que ele defende através de seu orgulho em não aceitar ajuda, mesmo quando na mais absurda penúria. E jamais abre mão de seu ofício.

Há situações absurdas onde ele coloca para dentro de seu organismo subnutrido coisas inimagináveis, enquanto caminha atrás de seu objetivo de gerar uma obra louvável, colocando diante do leitor cenas angustiantes, que incomodam o nosso estômago e perturbam a nossa mente pois duvidamos que ele esteja passando por tudo aquilo mesmo e que, algumas coisas descritas, possam ser fruto da alucinação de uma pessoa que já demonstra perda dos sentidos de um corpo que já falha.


Entendi que um texto desses, onde um ser humano tenta desesperadamente manter
a dignidade e a criatividade mesmo no auge da privação e sem abrir mão de seu ideal criador, provavelmente deve guardar uma metáfora sobre a arte de escrever e de ser um artista nesse mundo onde a realidade frequentemente não gera espaços para sonhar, buscar inspiração e criar cenários onde seja possível superar suas mazelas e não perder a fome de viver. E, que no entanto, o ofício de escrever acaba sendo uma exigência desse ser e que para isso não encontra outra saída a não ser escrever. Isso justificaria o personagem fazer um longo caminho de volta a um lugar onde esqueceu um pedaço de lápis do qual ele descreve como algo de profundo valor.
Portanto, minha interpretação é de que a Fome do artista sem nome representa o sublime e ardente desejo de uma alma ambiciosa que não se curva diante a inópia e que nem a mais completa penúria é capaz de subjugar.

Apesar da angústia causada, um livro maravilhoso!
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