Djeison.Hoerlle 15/02/2021
Faz uns dois meses que eu comprei a coleção de edições de luxo de Y - O Último Homem. Não que houvesse uma razão especial para isso, eu apenas me deparei com a oferta por um preço (razoavelmente) acessível no Shopee, e já tendo ouvido falar da série - tida como uma das melhores da Vertigo - decidi que seria um dos meus presentes de Natal para mim mesmo.
E bem, tirando os caprichos introdutórios sobre a história (caso você tenha curiosidade, procure a sinopse na internet), posso dizer que é uma trama bem “Vertigo”. Quer dizer, a premissa naturalmente é muito interessante, afinal, acredito que todo cara já tenha vislumbrado em seus sonhos algum tipo de variação de um mundo sem outros “concorrentes” no árduo trabalho de impressionar as fêmeas da nossa espécie, o que bem sabemos que não funcionaria muito bem na prática, tendo em vista nossa inata capacidade de meter o pé na jaca.
Mas deixando de lado o discurso sexista, o principal mérito da obra não se dá no enredo, que caso você tenha lido por completo, há de concordar: é bem imaturo, principalmente no desfecho, demonstrando uma certa inocência do consagrado Brian K. Vaughan. Também não é na exploração massiva do gênero humano enquanto objeto de discussão social. O mundo de Yodrick, 355 e companhia é sim, dominado por mulheres, mas no geral, elas são pintadas como piratas, ninjas, assassinas de aluguel e cultistas na maior parte do tempo, sem apresentar nenhum esboço de utopia feminista ou algo que valha uma discussão mais aprofundada, sempre pendendo para o lado menos pretensioso e mais “cool” da coisa.
O grande mérito de Y - O Último Homem se dá nos diálogos entre seus personagens super carismáticos. Você consegue rir, aprender alguma nova curiosidade sobre cultura popular ou mesmo notar alguma dissonância de gênero que nunca havia percebido antes em praticamente todas as páginas da HQ. Para mentes naturalmente curiosas como as dos fãs de quadrinhos costumam ser, ter a atenção totalmente presa é inevitável.
A nível pessoal, fiz questão de colocar a HQ na mesma prateleira de Preacher, e digo isso no sentido literal, vide fotos abaixo. Tá certo que aqui não temos um Garth Ennis no auge de sua fanfarronice, enchendo todas as páginas de humor negro e escatológico, mas se pararmos para analisar (e nem precisamos pensar muito), são duas HQ`s cuja força se dá nas interações entre os personagens, que não conseguimos não gostar.
Para quem assim Y serve como um interessante estudo de construção de narrativa, pois aqui fica evidente o fato de que bons personagens podem levar obras inteiras nas costas.