midnightrainz_ 02/08/2024
Meu doce vampiro, na luz do luar
Depois de muita insistência de minhas amigas (e uma certa resistência da minha própria parte), realizei finalmente a leitura deste livro que já foi causa de muitos pesadelos meus quando criança. agora voltando a falar que nem gente: sinceramente, não sei por que enrolei tanto pra conhecer essa história.
fugindo do clichê de “ain todo fã de terror deveria esse livro, ele é importante por ter consagrado a figura do vampiro no imaginário popular e nenhuma adaptação capta a sutileza e o clima aterrador existente na obra”, digo que todo mundo deveria ler pura e simplesmente porque ele é um livro muito legal. a história é extremamente interessante, bem do estilo de terror que eu particularmente gosto (o que vai numa crescente, de forma gradual e sem pressa), apesar de entender que não agrada todo mundo. os primeiros capítulos do livro, onde o jonathan se encontra no castelo do drácula, são extremamente claustrofóbicos e a melhor parte da obra na minha opinião, apesar de ter inúmeras cenas
marcantes - como a da lucy com a criança no cemitério. as coisas aqui podem sim soar bem lentas para um leitor contemporâneo (apesar de eu achar bem “frenéticas”, comparado a outros livros da época).
além disso, o livro tem uma narrativa fragmentada composta por diários em sua essência, mas também por cartas, telegramas, memorandos, recortes de jornal e afins, organizadas de forma até certo ponto cronológicas. isso traz uma dinâmica peculiar à narrativa e aumenta o clima de mistério no ar, além de um pequeno (bem pequeno) traço de verossimilhança, pois temos vários personagens contando uma mesma história.
apesar de ter gostado desses aspectos e de já afirmar de antemão que foi uma das melhores leituras feitas esse ano, tenho minhas críticas a respeito dele (coisas mais pontuais e que não prejudicaram a minha experiência de forma alguma). a minha principal é com relação à representação das personagens femininas aqui, principalmente a lucy. não gosto dessa personagem nem da forma como ela é construída aqui: a representação clássica da heroína romântica, de beleza estonteante, de caráter puro e extrema bondade, que ama a todos e não gosta de magoar ninguém. tudo bem que basicamente todos os personagens são assim (tirando a beleza, que é exclusiva dela), nenhum deles tem um aprofundamento psicológico e todos agem de modo teatral, exagerado, melodramático - o autor trabalhou com teatro, então faz sentido isso. só que a lucy ainda tem um bônus: ela passa a maior parte dos diários e das cartas dela BABANDO OVO DE HOMEM, falando como eles são incríveis e corajosos e gostosos e de p4u grande e um blablabla interminável que ninguém se importa. é algo que a mina também faz, mas ela é uma personagem phoda, interessante de acompanhar (a única), o que acaba compensando - diferente da lucy. aí junta esses dois aspectos, fez com que eu me irritasse sempre que ela aparecia em cena. acredito eu que isso se deva também a um certo machismo enraizado no próprio autor e típico da época - e que nem dá pra esperar que seja diferente: as duas são representadas como personagens frágeis e que precisam constantemente ser protegidas dos males do drácula pelos nossos valentes cavaleiros. mesmo quando elas se mostram como membros importantes do grupo, essa visão persiste (o grande cérebro de homem que van helsing afirma que a mina tem). e sim, msm tendo odiado esse aspecto vou continuar dando 5 estrelas pq eu sou contraditório.
contudo, apesar da construção de personagem não ser das melhores - e do certo tom xenofóbico que existe com relação ao leste europeu -, ainda acho que seja uma leitura válida tanto pelo entretenimento como para a compreensão do avanço tecnológico que marcou a virada do século XIX para o XX e da figura do vampiro sedutora que conhecemos atualmente.