readingwithigor 16/04/2024
Drácula e a sombra da sexualidade oprimida
... ou uma representação do tabu sexual na era vitoriana!
drácula é certamente um dos melhores livros que já li, e não, não desconfio dessa minha afirmativa. drácula foi, não só um sucesso ao gênero do terror, como também, um estudo muito bem estruturado que expõe, através de sangue e culpa religiosa, vários problemas sociais da sociedade vitoriana.
| "algo está desvencilhando-se de mim de maneira muito peculiar, e começo a me sentir mais livre do que tenho estado todos esses dias," |
uma das muitas críticas que o autor mais deixa clarividente é a sexualidade, e o autocontrole, das mulheres da época. confesso aqui que quando comecei minha leitura, não entendi bem o por quê de todos dizerem que drácula era um dos poucos livros clássicos?escrito em 1800 por um homem?a terem personagens femininas tão complexas e interessantes. e o motivo dessa minha confusão era gerada justamente devido a nossa protagonista mina harker. mina, que deveria ser a tal força feminina numa obra, apresentava uma personalidade definitivamente constituída pelo famigerado male gaze (fantasia masculina); e então, enquanto pensava sobre isso, notei a incompetência, e arrogância, em minha análise sobre mina.
mina harker é, nada mais, que uma personagem-metáfora não ao realismo, mas ao idealismo. stoker constrói um modelo de virtude feminina vitoriana. as palavras dos homens do livro sobre mina sempre comparam-a uma criança indefesa e inerrável, cuja maior contribuição para a odisseia é tua pacificidade e obediência. esta característica em mina é um ponto forte da estória que denúncia uma promessa de poder em mãos masculinas; denúncia que os homens de tal época podiam ter a certeza da ordem patriarcal de sua sociedade, e de seu próprio controle?sendo ele sobre a liberdade de uma mulher, ou tua sexualidade. o que mostra isso para mim, é a forma com, após ser[spoiler] mordida por drácula, a primeira preocupação de mina, e dos homens da obra, é em relação ao véu que cobria tua pureza e delicadeza. quando este véu é arrancado pela sedução de drácula, todos se desesperam, não pela saúde, mas pela mistificação de sua alma que aparenta ser uma personificação de virgem maria.
outro ponto?na qual não estenderes-me, pois já é mais discutida?são as três enfeitiçantes vampiras que habitam o castelo de drácula. suas aparições são visivelmente sexuais, mas o que intriga, é a forma como os homens nessa obra enxergam essa sexualidade, e poder, dessas três mulheres como algo maligno. estes homens admirando mulheres tão livres, contra qualquer noção de maternidade, monogamia e casamento despertam o medo que balançam o equilíbrio de suas noções sobre o patriarcado. e tudo volta para mina e lucy?deus, como stoker é inteligente?e a forma como esses rapazes temem a perda do controle sob elas. afinal, eles veem em drácula, não só uma imagem de morto-vivo, mas uma imagem de um homem pronto para despertar essas mulheres sobre suas liberdades?o que é aclarado quando drácula diz: "as mulheres que todos vocês amam já são minhas e, por meio delas, vocês e outros ainda serão meus", o que desperta desassossego nos homens envolta da obra, que ficam assombrados por tal fala progressista de conde drácula.
| "estou em um mar de maravilhas. duvido; temo; penso coisas estranhas, que não ouso confessar à minha própria alma." |
por fim, termino essa resenha dizendo que drácula é uma obra grandiosíssima que despertou minha curiosidade para mais obras clássicas; o que bram stoker escreve aqui é insano. um livro que me tira risadas por provavelmente ter sido o "found footage" de sua época. e por falar em seu estilo de prosa, que deleite. os diários são todos tão bem escritos, com tantas nuances e tão bem fechadinhos, que o sentimento de que estamos lendo uma estória real fica. bram stoker, pai.