Babi159 13/01/2024
Quando os homens eram homens...
ATENÇÃO: este comentário possui spoilers violentos.
Sentia-me bastante culpada por ainda não ter lido Drácula. Estou aliviada agora. Menos um pecado literário em minha lista quilométrica. Embora não seja o pioneiro em explorar a figura mítica do vampiro, Bram Stoker realizou a versão definitiva do ser das trevas, que inspirou gerações de escritores a redigir sua versão sobre a sanguinária criatura da noite.
De forma geral, a leitura foi agradável e instigante. Tive ápices de leitura eufórica, porém em outros momentos achei a leitura arrastada, sobretudo o interminável núcleo de Lucy, que atormenta o leitor de todas as formas possíveis.
O livro é composto majoritariamente por epístolas, o que não me enfadou. No entanto, incomodou-me muito a quebra de atmosfera que temos após Jonathan fugir do castelo de Drácula. A estadia de Jonathan no castelo é um dos pontos mais altos do livro, ocorrendo nos primeiros capítulos. Senti medo e fiquei encantada pelo Conde no início. É um clima de suspense e fascínio crescente até que o foco muda para a interminável e supracitada história de Lucy, primeiramente na companhia de Mina. No entanto, o livro melhora muito com o surgimento da figura lendária de Van Helsing, o grande algoz de Drácula. Surpreendi-me positivamente com o referido personagem, pois não o imaginava tão amável, cativante e sábio.
Agradou-me muito também ver todas as características vampirescas que permearam os séculos seguintes sendo apresentadas aqui, como o “deixe ele entrar”, o uso de crucifixos, água benta e alho contra vampiros etc. Não sei se foi Bram Stoker que inventou tudo isso ou bebeu de outras fontes, pois como escrevi anteriormente: Drácula, apesar de ser a obra vampiresca mais conhecida, não foi a primeira a ser lançada com a temática.
Outro ponto negativo da obra, além da já citada arrastada história de Lucy, ficou por conta de alguns erros que notei, como por exemplo Bram referir-se a Enoque, o homem que andou com Deus, como filho de Caim, irmão de Abel (?).
As referências à Bíblia me deram uma certa vergonha alheia, aliás, mas, de modo geral, o que severamente chamou-me a atenção no livro foi o cavalheirismo presente na obra. Li resenhas aqui falando que o livro é dotado de um machismo ímpar, todavia, filhas e filhos, por favor. É singular o comportamento masculino na obra.
Os homens de Bram Stoker devem ter lido Efésios 5. É sublime o amor e devoção cristã que Jonathan e os amigos de Mina oferecem a ela, assim como Arthur emprega à Lucy. São homens que dão literalmente o sangue por suas amigas, noivas e esposas e as protegem com suas vidas, ficando contentes em morrer por elas (Quincey que o diga). A vida feminina tem mais importância que a masculina e homens de verdade têm o dever de proteger a mulher até mesmo se tal proteção custar suas vidas.
O feminismo e a misoginia fizeram um estrago imenso na cabeça das mulheres e dos homens pós-modernos, pois o ser humano que vê o que foi descrito no parágrafo anterior como “machismo” ou “femismo” (sim, femismo, não digitei errado) está totalmente morto por dentro.
Apesar de alguns probleminhas já descritos, gostei muito do livro. Não tinha muitas expectativas positivas, contudo fui plenamente satisfeita. Espero agora, após essas semanas de leitura, assistir a “Drácula de Bram Stoker” (leia isso com a voz mental do narrador do Cine Belas Artes). Ainda não assisti à obra fílmica máxima do Conde. Confesso mais um pecado... agora cinematográfico.