spoiler visualizarHeloisa.Cristofoli 19/11/2024
"Os vampiros realmente existem, e temos provas disso."
Seu rosto era enérgico, muito enérgico e másculo, o nariz fino era aquilino e as narinas eram peculiarmente arqueadas. A testa formava uma curva arrogante e o cabelo crescia escasso ao redor das têmporas, porém aparecia em profusão em todos os outros locais. Suas sobrancelhas eram muito espessas e quase se uniam sobre o nariz, formadas por bastos pelos que pareciam encaracolar-se devido à sua profusão. O pouco que via de sua boca, pois um grosso bigode a escondia, indicava-me que era séria e de aparência bastante cruel, apresentando dentes brancos particularmente afiados; estes se projetavam sobre os lábios, cuja extraordinária vermelhidão denotava surpreendente vitalidade para um homem já idoso. Quanto ao resto, suasorelhas eram pálidas, extremamente pontudas em cima; o queixo aparecia largo e enérgico e as faces denotavam firmeza, embora fossem finas. O efeito geral era de extraordinária palidez.
- Estou satisfeito porque descobriu isso aqui, pois tenho certeza de que encontrará muitas coisas interessantes. Estes companheiros ? e colocou a mão sobre alguns livros ? têm sido meus bons amigos e, há bastante tempo, desde o momento em que concebi a ideia de ir a Londres, me proporcionaram muitas e muitas horas de alegria. Por meio deles conheci sua grande Inglaterra e aprendi a amá-la. Desejo ardentemente caminhar através das ruas populosas de sua poderosa Londres, mesclar-me à agitação e azáfama da humanidade, compartilhar de sua vida, suas modificações, sua morte e tudo o que a torna aquilo que é. Mas, céus! Até agora, só conheci sua língua por meio dos livros e parece-lhe, meu amigo, que a sei falar.
Estamos na Transilvânia e esta não é a Inglaterra. Nossos costumes não são os seus e notará muitas coisas que lhe serão singulares. Ora, pelo que me contou acerca de suas experiências, já deve saber algo sobre coisas estranhas que podem suceder.
Amo a escuridão e a sombra, e gosto de ficar a sós com meus pensamentos, quando possível.
Nós, os Szekelys, temos o direito de ser orgulhosos, pois em nossas veias corre o sangue de muitas estirpes bravas, que lutaram pelo poder com fúria leonina. Aqui, no turbilhão das raças europeias, a tribo úgrica trouxe da Islândia o espírito lutador que recebera de Tor e Wodin, e que seus guerreiros nórdicos ostentaram com tão bárbaras intenções no litoral da Europa, e também da Ásia e da África, até o povo julgar que os próprios lobisomens haviam surgido. Aqui também, quando vieram, encontraram os hunos, cuja fúria guerreira devastara a terra como chama viva até os moribundos afirmarem que em suas veias corria o sangue daquelas velhas feiticeiras que, expulsas da Cítia, se haviam acasalado com demônios no deserto. Tolos, tolos! Que demônio ou feiticeira foi tão poderoso quanto Átila, cujo sangue corre nas veias daquele povo? ? levantou os braços. ? É pois de admirar que fôssemos uma raça conquistadora? Que demonstrássemos orgulho e que, quando os magiares, os lombardos, os bávaros, os búlgaros e os turcos despejaram seus milhões em nossas fronteiras, nós os tenhamos afastado?
É estranho que Arpad e suas legiões nos tivessem encontrado aqui quando atravessaram a pátria húngara e alcançaram a fronteira, que os honfoglalas aqui se adaptassem? Quando a maré húngara se moveu para o leste, os Szekelys foram considerados consanguíneos pelos vitoriosos magiares, e a nós durante séculos foi confiada a guarda da fronteira da Turquia; mais do que isso, o infindável dever dessa guarda, pois, como dizem os turcos,
"as águas dormem, porém o mesmo não ocorre com os inimigos". Quem recebeu mais alegremente do que nós, através das Quatro Nações, a espada sangrenta? E quem, ao ouvir seu apelo guerreiro, se agrupou mais rapidamente sob o estandarte do rei? Quando foi redimida aquela grande vergonha de minha nação, a vergonha de Cassova, quando as bandeiras dos valáquios e dos magiares caíram sob o emblema do antigo império turco? Quem, senão alguém de minha raça, como o Voivoda, atravessou o Danúbio e abateu os turcos em suas próprias terras? Este, sim, foi um Drácula! Que infortúnio o fato de seu próprio irmão, após sua queda, ter vendido seu povo aos turcos e feito a pecha da escravidão cair sobre eles! Com efeito, não foi esse Drácula que inspirou aqueles de sua raça que, em épocas posteriores, inúmeras vezes transportaram suas forças através do grande rio, penetrando em terras turcas?
Aquele que, quando vencido, retornou vezes sem conta, embora tivesse de regressar sozinho do campo sangrento onde suas tropas eram trucidadas, pois sabia que apenas ele poderia triunfar posteriormente! Dizem que ele pensava apenas em si mesmo. Bobagens! De que valem camponeses sem um chefe?
O que sucede à guerra quando não há um cérebro nem um coração para conduzi-la? Mais uma vez quando, após a batalha de Mohács, nos libertamos do jugo húngaro, nós, os que possuíamos sangue dos Dráculas, estávamos entre os chefes, pois nosso espírito não podia suportar a ideia de não sermos livres. Ah, jovem senhor, os Szekelys e os Dráculas, constituindo estes o coração, o cérebro e a espada daqueles, podem orgulhar-se de um passado que os novos ricos, como os Habsburgos e os Romanovs, jamais poderão igualar. Os tempos de guerra terminaram; o sangue é precioso demais nestes dias de paz desonrosa e as glórias das grandes raças assemelham-se a lendas.
Que Deus preserve minha sanidade mental, pois apenas isto me resta. A segurança e a certeza de possuí-la são coisas do passado. Enquanto viver aqui, devo desejar apenas uma coisa: não enlouquecer, isto é, caso ainda não esteja louco. Se é que estou são é certamente enlouquecedor o fato de pensar que, de todas as coisas repugnantes que se emboscam neste lugar odioso, o Conde é o que representa menor perigo para mim; ele será o único capaz de me defender, embora isso suceda apenas enquanto eu servir aos seus desígnios. Grande e piedoso Deus!
Permita-me ter calma, pois, caso contrário, certamente perderei a razão.
- Então deseja que minhas convicções prévias não impeçam minha mente de acreditar em algum fato estranho. Compreendi bem?
- Ah, ainda é meu aluno favorito. Vale a pena ensiná-lo. Agora que demonstra vontade de compreender, já deu o primeiro passo para a compreensão. Acha que os pequenos furos no pescoço das crianças foram feitos pelo mesmo indivíduo ou animal que os fez no pescoço de Lucy?
- Suponho que sim.
Levantou-se e disse solenemente:
- Então está enganado. Oh, antes fosse assim! Mas, infelizmente, a verdade é mil vezes pior.
- Em nome de Deus, professor Van Helsing, o que quer dizer? - gritei.
Com um movimento desesperado atirou-se sobre uma cadeira, colocou os cotovelos na mesa e cobriu o rosto com as mãos ao falar:
? Foram feitos pela própria Lucy!
Ocorreu algo semelhante a um milagre: diante de nossos olhos e quase durante o tempo de um fôlego, todo aquele corpo se transformou em pó, desaparecendo.
Durante toda a minha vida relembrarei com satisfação aquele momento de dissolução final, pois, naquele instante, houve uma expressão de paz. no rosto do Conde, expressão esta que eu jamais imaginaria poder existir ali.