Reccanello 16/05/2021Östlich den Vergessens...Não é que não me tenha impressionado a forma cruel e sem subterfúgios com que o autor descreve o cotidiano de Buchenwald. O que não me impressionou foi justamente esse cotidiano: por não ser um campo de extermínio como Auschwitz II, Treblinka ou Maidanek, o que fazia com que a maciça maioria das mortes ali se deu por esgotamento frente ao trabalho forçado, a vida naquele lugar parece menos assustadora (tanto que o autor nos revela que "um dos flagelos mais funestos da vida em Buchenwald" era a inevitável e permanente promiscuidade que fazia com que "nem um único ato da vida privada pudesse ser realizado de outro modo se não sob o olhar dos outros"). Não, isso não diminui de forma alguma o horror do sistema de encarceramento e eliminação criado pelos nazistas; pelo contrário, reforça seu horror, quando comparado com locais de real e burocrático extermínio, onde "as trevas do Mal, pulsão ativa da liberdade originária do homem" se espalharam de forma tão absurda, e o "inimitável sorriso da humana alegria do mal" era tão comum.
Por outro lado, ao mostrar como a "elite comunista" conseguiu se infiltrar no real comando do campo, o autor mostra não apenas a indiferença desses líderes para com a "plebe" que morria à míngua como, principalmente, sua voluntária surdez diante do desconforto trazido pelo conhecimento acerca das atrocidades de Stalin.
De uma forma velada, portanto, e assim como o fato de Buchenwald não ser um campo de extermínio não o redime de forma alguma, o fato de o comunismo não ser o nazismo também não lhe dá qualquer possibilidade de redenção.