oviajantedasestrelas 03/01/2021
Resenha: ‘A Noite Escura da Alma’ de São João da Cruz
Sabe quando você está dormindo e começa a sonhar que está caindo de um penhasco ou passando por qualquer outra situação difícil, e você acorda aliviado por ter sido somente um sonho, como se um peso gigantesco tivesse sido tirado de cima de você?
“A Noite Escura da Alma”, de São João da Cruz, é um pouco assim — uma jornada dolorosa e desafiadora, mas que conduz a uma libertação maior. Escrito pelo místico espanhol, padroeiro dos poetas, no século XVI, este poema é uma travessia pela escuridão do espírito humano rumo ao encontro com Deus.
João da Cruz descreve a “noite escura” como um momento em que, mesmo na aparente ausência, Deus está mais presente do que nunca. A alma percorre o vale da sombra da morte, mas, como no Salmo 23, não há motivo para temer: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, eu não temerei mal algum, porque eu sei que Deus está comigo. Tua vara e teu cajado me consolam."
Essa confiança no Divino é o que sustenta a alma durante o silêncio e a escuridão, guiando-a até a luz. É como a chama de uma vela, que apesar de pequena, ilumina toda a escuridão ao seu redor. No meio da noite mais densa, essa luz suave se mantém firme, oscilando ao vento, mas sem se apagar. Assim é a fé descrita por São João da Cruz em "A Noite Escura da Alma": uma chama frágil, porém resistente, que guia a alma através da escuridão espiritual.
O poema nos envolve em sua profundidade. A repetição da noite e da escuridão reforça que o sofrimento faz parte da jornada espiritual, e não uma interrupção. Ao final, João da Cruz nos lembra que, mesmo nas horas mais sombrias, há um propósito maior. A “noite escura” é um convite para mergulhar no silêncio e encontrar ali, na ausência, uma presença divina que transcende tudo o que conhecemos.