Bela Enloukecida 17/11/2024
Será que o silêncio significa que não há nada a dizer?
Confesso que demorei mais do que eu esperava para terminar esse livro, porque apesar de
de começar de maneira muito envolvente, me senti desanimada no meio da história e vocês vão entender o porquê.
Theo, nosso protagonista, é um psicoterapeuta com muitos problemas que vão desde traumas de infância até um casamento em colapso com uma companheira adúltera que ele se recusa a reconhecer. Logo nos primeiros capítulos ele abre o jogo sobre seu passado, nos contando sobre sua infância e como a terapia o ajudou a ser a pessoa que ele é hoje. É bastante informação despejada de uma vez e você meio que fica sem saber o que fazer com isso, mas serve de gancho para justificar os passos de Theo, que tinha uma carreira brilhante pela frente e decidiu se juntar a um hospital psiquiátrico à beira de fechar as portas apenas para chegar perto de Alicia Berenson.
Alicia, nossa outra protagonista, é uma mulher que parece cercada de segredos. Era uma pintora brilhante que por alguma razão deu seis tiros no rosto de seu marido e desde então se recusa a dizer uma única palavra. Seus capítulos são contados na forma de passagens em seu diário datadas de seis anos antes do crime, então a história é contada em duas linhas do tempo diferente: Alicia narrando os eventos que a levaram até a noite do crime e Theo, seis anos depois, tentando descobrir o que aconteceu. Enquanto Theo parece seguir uma linha mais investigativa e precisa (apesar de muitas vezes ultrapassar certos limites), Alicia é mais emocional em seu diário, mostrando uma personagem confusa, onde ela não confia na própria memória, nos próprios sentimentos e questiona sua sanidade o tempo todo.
Até metade do livro, tudo estava indo muito bem. A história se desenrolava num ritmo agradável, apesar das longas passagens do protagonista num longo monólogo interno refletindo sobre a terapia, consequências do trauma... Não sei se 20% do que ele falou é realmente aplicável dentro da psicoterapia, mas confesso que achei exagerado e muito romantizado. Mas ainda assim, deu para relevar e curtir o enredo. Mas então...
Chegamos na metade do livro e a coisa meio que desanda. No início nós tínhamos um protagonista centrado e seguro de si, ou que pelo menos segurava bastante a onda para parecer assim. Mas a partir daqui o Theo meio que fica sem controle, agindo mais como um detetive do que como terapeuta. As interações com Alicia foram rasas como uma piscina infantil e ele mais projetava seus sentimentos do que conseguia informações dela. Ao mesmo tempo, foram apresentados novos personagens para a trama que simplesmente não acrescentam em nada na história, como o irmão de Gabriel (Marido de Alicia) e sua esposa Tanya, que adicionam um certo conflito no passado, mas não fariam a menor falta. Tudo (ou quase nada) que foi descoberto com eles seria facilmente obtido alguns capítulos adiante. O primo da Alicia e sua tia também são personagens dispensáveis (apesar de que eu ri bastante com o quadro que a Alicia fez da tia).
O final do livro me deixou chocada (e indignada), porque simplesmente de uma hora para outra, nos últimos 20% restante do livro, a história dá uma guinada inesperada e tudo se torna frenético e apressado, uma bomba atrás da outra até que o grande clímax da revelação se torna... morno. Depois de tanto mistério, tantas voltas, era de se esperar uma explicação mais factível ou mesmo mais estrondosa. Mas simplesmente o grande momento se mistura ao outros parágrafos numa sucessão sem fim de preenchimento de enredo que me deixou com um gosto amargo na boca ao ver tanto potencial sendo jogado no lixo.
No mais, não é que a história tenha sido totalmente arruinada. A viagem vale à pena, mas o passeio é mais interessante que o destino, vamos dizer assim.