spoiler visualizarperdos 25/11/2023
Sobre o conto enriquecedor "O fim do ciúme"
Honoré, no ponto mais alto de sua paixão por Françoise, nunca tendo tido tanta vontade de alguém, sente medo de que sua paixão acabe, como muitas vezes aconteceu a ele com outras mulheres, e pede a Deus a "graça de amá-la para sempre!". Depois de uma conversa inocente com o Sr. de Buivres, ele experimenta o ciúme e a dúvida agoniante de não saber se tem Françoise só para si. Perto dela, confiava em suas palavras, mas distante, surgia a inquietação de que ela mentia, afinal "não era necessário não amar para mentir", e sua imaginação amplificava toda sua dor da dúvida: "ao criar um objeto para o seu ciúme, por momentos parecia-lhe que era sua própria mentira e sua própria sensualidade que ele projetava em Françoise".
Agora, possesso pelo ciúme, "temendo viver, implorava para morrer, rogava a graça de não amar Françoise, de não amá-la por muito mais tempo, de não amá-la para sempre, de fazer com que enfim pudesse imaginá-la nos braços de outro sem sofrer, visto que só conseguia imaginá-la nos braços de outro". Assim, quando a havia encontrado e se despediam, Honoré corria à cama para que sua felicidade pudesse ser perpetuada em sonho e afastasse os maus pensamentos.
Um dia, no entanto, quando o ciúme já havia se dissipado devido ao amor de Françoise, sentiu o prazer por ter estado em uma condição superior ? quando sentira indiferença por um acidentado ? voltar-se contra ele próprio pelos outros, após ser atropelado por um cavalo. Não devia morrer, mas "é todo um conjunto" que faz adoecer. No hospital, voltaram-lhe medos, lembranças, pensamentos, de modo que suas maiores dores foram criadas unicamente pela sua própria cabeça. Afundou-se cada vez mais em seu egoísmo e em sua negatividade. Percebeu que seu ciúme era "do prazer dela", e não de seu amor: queria que ela pudesse ser feliz com outro, mas não que sentisse prazer.
Como seu ciúme era corpóreo, pois vinha apenas do desejo carnal, somente quando deixasse de ser corpo é que Honoré deixaria de ser ciumento e poderia amar verdadeiramente ? o puro amor só é possível na morte. Desse modo, por medo e ciúme, desejava morrer, e assim lhe foi concedido. O furor do ciúme o enlouqueceu e o próprio peso de seu "amor" o sufocou, espremeu seus pulmões, o matou.
Percebeu que "fora uma vida de esmagado a que levara", que perdera todo seu tempo passado na mediocridade mundana e, todo seu tempo futuro, numa distração: comicamente, foi ao olhar as horas na rua que o cavalo o atropelou.
Honoré acreditara que sua vida era sua paixão, confundiu ambas até a morte. Mas foi nela que desvendou o amor puro, tendo sua alma se desprendido do corpo. Esse amor, contudo, justamente por isso, só pode ser aquele direcionado para todas as almas, que são semelhantes, sem preferência. O amor puro é, portanto, por toda a humanidade.