Felipe 16/08/2021
Sócrates, igualmente irritante e sábio.
Em um dos diálogos aporéticos de Platão, vemos Sócrates, prestes a enfrentar seu julgamento, encontrando Eutífron, que ia acusar o pai de assassinato (ação que na época poderia ser mais grave e desonrosa que o próprio assassinato).
Sócrates questiona "Diga, então, o que você diz que é o piedoso e o ímpio?" e Eutífron procura estabelecer uma relação entre o que supostamente seria piedoso/certo e aquilo caro aos deuses.
Sócrates segue, da maneira mais debochada que Platão fazia, apontando os furos no discurso de Eutífron. Desde o impulso de conceituar algo através de exemplos à incerta certeza que Eutífron teria do que realmente seria caro aos deuses.
A conversa flui pelos conceitos de certo, errado, piedoso, ímpio, justo, injusto, amor e ódio, e o dilema de "Então, a piedade é amada pelos deuses porque é piedade, ou é piedade porque é amada pelos deuses?"
Assim termina em aporia. Sócrates aponta as falhas no discurso do companheiro mas também não nos oferece uma resposta.
Levando em consideração o anacronismo, visto que atualmente a questão do assassinato e de justiça são completamente diferentes, temos um provocativo diálogo no qual, através da figura de Sócrates, lembramos como temos tantas falsas certezas quando deveríamos reconhecer a própria ignorância.