clarawlx 09/09/2022
Somos como homens para o mar, pegos na correnteza.
Na escola, estudei sobre as mulheres queimadas e afogadas, li sobre algumas em certos livros e relatos de historiadores, mas sempre me mantive afastada delas, pois odeio o sentimento de impotência que vinha ao lembrar delas. Esse sentimento me acompanhou por todo esse livro. Fui mergulhada nesse mar de mulheres solitárias, desesperadas por encontrarem qualquer coisa para se agarrarem, e me senti impotente porque nunca poderei aliviar a dor de mulheres que passam pelo mesmo. Esse desespero que é comum e visto claramente durante a história da humanidade, que foi constantemente usado contra essas pessoas para que certos homens acumulassem mais poder. Guerras foram travadas e religiões se formaram as custas de mortes, humilhações e choros silenciados brutalmente.
Kiran, a escritora, situou a trama no século dezessete, mas explorou não apenas os podres desse período, mas de todos os outros, e construiu uma narrativa extremamente forte e repleta de passagens devastadoras ? como, por exemplo, a descrição da morte das mulheres acusadas e o cheiro dos corpos queimados delas. Apesar da brutalidade dos atos, ela os descreveu de uma maneira bonita, arrebatadora, que emanou até mim como o calor de uma fogueira. A beleza da escrita dela alcançou até o romance entre as duas personagens centrais, que me deixou sem fôlego, torcendo loucamente pela felicidade de ambas e aos prantos com o desenrolar. Foi escrito de maneira bela, sensível, humana. Raramente vejo relacionamentos entre duas mulheres sendo colocado dessa maneira e apreciarei eternamente, assim como farei com a construção das outras personagens, imperfeitas e machucadas e amargas e esperançosas. Como Maren, a personagem principal, desejei tomar as dores de cada uma para mim.
Como qualquer trama que promete mostrar a vivência feminina de quaisquer acontecimento, funciona como cutucar uma ferida profunda com raiva e jogar álcool por cima. Entretanto, serve também para nos relembrar de algo: nunca, nunca um homem saberá de nossas dores e cuidará de nossas feridas como nós mesmas; devemos manter a união e tampar os ouvidos para o que eles falam quando notamos que é nocivo não apenas para nossa individualidade, mas para todas nós. A história, apesar de sua tristeza manumental, lembra que possuímos uma força estrondosa, que assusta homens e os afasta constantemente, mas deixa claro que só possuímos quando estamos juntas. E isso é mais que suficiente para compôr um livro arrebatador.