Fael 29/12/2022
A invenção do ?Oriente?
Durante a aclamada obra, Said aponta as fases do ?Orientalismo?, que seria uma erudição destinada a estudar o Oriente, essa porção ao leste do mundo, visto da Europa como centro dele.
A partir disso, Said trabalha com críticas perante aos orientalistas pretéritos, citando a forma de trabalho e as características presentes, além de situar tais obras no contexto histórico vivenciado pelos autores. A partir da invasão de Napoleão ao Egito, no final do século XVIII, teríamos uma primeira fase que seria responsável por trazer descrições desse Oriente, além dos estudos sobre as línguas, etc.
Com o avançar do tempo, o fascínio descritivo iria dando lugar às verdades constituídas, onde a leitura do orientalista perante o objeto de estudo iria criando fatos consumados, sem levar em consideração a constituição histórica daquela área geográfica classificada como Oriente.
Com essas verdades estabelecidas, a ideologia superior europeia, alinhada à política de dominação, faz do Orientalismo uma peça importante nesse tabuleiro da geopolítica mundial, onde Grã-Bretanha e França ocuparam papeis importantes pela hegemonia global e na constituição desse campo de estudos nomeado Orientalismo.
No século XX, pós Segunda Guerra Mundial, os EUA ganham notoriedade, dando continuidade ao processo já instaurado.
Said busca, em todo momento, criticar o ponto de abordagem de intelectuais que resumiram o Oriente, o Islã, os muçulmanos, etc, além de apontar a complexidade que tal região possui. O autor também deixa evidente em seu posfácio escrito 15 anos depois do lançamento, que seu livro não é uma obra anti-ocidente, ressaltando, como pode ser visto no trecho a seguir, os ?perigos? atrás dos interesses do orientalista:
?Minha objeção ao que chamei de Orientalismo não é que seja apenas o estudo antiquado de línguas, sociedades e povos orientais, mas que, como sistema de pensamento, aborde uma realidade humana heterogênea, dinâmica e complexa de um ponto de observação acriticamente essencialista; isso sugere tanto uma realidade oriental duradoura como uma essência ocidental opositora, mas não menos duradoura, que observa o Oriente de longe, e por assim dizer, de cima. Essa falsa posição esconde a mudança histórica. Ainda mais importante, de meu ponto de vista, ela esconde os interesses do orientalista?. (p. 443).