spoiler visualizarJeff_Rodrigo 31/07/2024
Mais do que perigosos, frios, obsessivos e canalhas. Nesse livro de contos, vemos personagens perdidos em si mesmos, consumidos por seus desejos egoístas. Também presenciamos, da forma que só Fonseca poderia criar, a ironia causada pela dicotomia entre a culpa e a tentativa de redenção.
"O COBRADOR"
Um psicopata, perverso e muito mal humorado, num dia qualquer, com a sua arma resolve cobrar tudo que o mundo nunca lhe deu (mulheres, dinheiro, sono, casa, carros, felicidade, sexo, etc...). Assim, assistimos o desenrolar de acontecimentos macabros, que começam em uma consulta ao dentista, passando pelas ruas desertas da cidade do Rio do Janeiro até encontrar a praia da Zona da Sul, onde ele conhece uma musa, também pra lá de pinéu das ideias, que acaba mudando a vida dele (ou não).
"PIERRÔ DA CAVERNA"
Esse é um conto de embrulhar o estômago. Vemos um escritor, muito canalha, falando ao gravador sobre as suas reflexões e confusões amorosas: o envolvimento com três mulheres e com a filha de uma delas (de doze anos), que acaba engravidando. Mesmo sendo um monólogo, percebe-se que a história se passa num ambiente da alta sociedade, onde as pessoas fingem que nada acontece. E quando acontece, procuram qualquer tipo de decisão engenhosa para não macularem a sua reputação - como o aborto. Tudo isso narrado por um personagem perturbado e perturbador, que costura a história em meio a memórias e reflexões intrusivas confusas. Qual foi a intenção do autor com esse conto tão desconfortável? Sinceramente, não sei.
"ENCONTRO NO AMAZONAS"
Dois homens misteriosos estão em uma missão atrás de um terceiro, em plena selva amazônica. Através de investigações preliminares, os dois concluem que o alvo está a caminho de Manaus, partindo da cidade de Belém. Porém, não sabem exatamente como e quando o alvo chegará até lá. Assim, os dois decidem seguir o rastro do alvo de forma distinta, sendo que um vai de avião e o outro irá de barco até a capital do Amazonas. Acompanhamos, então, o personagem que vai de barco, com as suas divagações e descrições detalhadas da paisagem local, enquanto este viaja ao longo dos principais rios da Bacia Amazônica, num barco popular de passageiros, até o seu destino final.
"A CAMINHO DE ASSUNÇÃO"
O conto se passa em primeira pessoa, onde o narrador relata a sua experiência durante alguns dias na Guerra do Paraguai. A narração é espetacular, aliás. Vemos um pelotão de soldados brasileiros em algumas batalhas e escaramuças a caminho de Assunção. Basicamente, um grupo de soldados todo arrebentado, desmoralizado, estropiado - enfim, fudidos mesmo - descritos com uma riqueza de detalhes que formam imagens impressionantes na nossa mente. Uma bela homenagem ao "Exército de Caxias" (rs).
"MANDRAKE"
O advogado Mandrake recebe o pedido de ajuda de um empresário famoso (Cavalcante Méier) que está sendo chantageado por um vigarista sobre o seu suposto envolvimento amoroso com Marly, uma de suas jovens secretárias que foi assassinada misteriosamente. Temendo a repercussão do caso e o vazamento de informações para imprensa e à polícia (que tinha poucas pistas sobre o assassinato da moça), o empresário solicita a Mandrake que intervenha junto ao vigarista como o seu procurador. Mandrake, porém, vai além: ao investigar o caso à fundo, acaba descobrindo os podres da família Mayer, de suas filhas e sobrinhas e de Marly, onde aparecem: puladas de cercas; um romance entre Carlos e a própria sobrinha (dependente química e amiga do vigarista e traficante chantageador); uma filha maluca; e envolvimentos perigosos com traficantes, políticos e polícia.
"LIVRO DE OCORRÊNCIAS"
Sequência de três contos curtos, como se fossem o diário de um delegado e investigador da polícia civil. O primeiro, relata o atendimento de uma vítima de violência doméstica, onde o delegado vai buscar o agressor e acaba por lhe balear na perna, visto que o mesmo tentou resistir à prisão. No segundo, vemos uma ocorrência de um acidente de trânsito, onde uma criança é atropelada por um ônibus, tendo a sua cabeça esmagada. E no terceiro, acompanhamos o atendimento a uma ocorrência de suicídio por enforcamento.
"ONZE DE MAIO"
Em um asilo, assistimos o desenrolar de um motim protagonizado por três idosos (um historiador, um ex-policial e um ex-ginasta) que se recusam a acabar de forma vil e banal. Para isso, eles decidem sequestrar o médico chefe da instituição.
"ALMOÇO NA SERRA NO DOMINGO DE CARNAVAL"
Um jovem vai à festa da família de sua namorada, numa chácara de veraneio no alto da Serra. Acontece que esse imóvel pertencia à família de nosso jovem, e, à medida que ele se aproxima de seu destino, lembranças e raiva começam a consumir o seu ser.
"H.M.S CORMORANT EM PARANAGUÁMIOLO"
Um assustador e louco jovem poeta, no sul do Brasil do início do século XIX, sofre com fortes alucinações com seu ídolo, Lord Byron, enquanto conversa com a sua irmã e uma prostituta. Enquanto acompanhamos os seus devaneios, vemos o desenrolar de protestos contra as investidas do império Britânico contra o tráfico de escravos no Brasil, além de conhecer outros personagens excêntricos. Simultaneamente, também vemos como o protagonista é tão aficionado com o poeta britânico, se inspirando nele para fazer quase tudo.
"O JOGO MORTO"
Um grupo de comerciantes cariocas costuma se reunir para jogar e fazer apostas sobre quase tudo. Um deles, injuriado por estar perdendo sempre, resolve realizar apostas sobre os dados publicados no jornal O Dia, a respeito dos serviços do Esquadrão da Morte. Acontece que isso não dá muito certo para ele, que injuriado, resolve fazer uma trapaça pra lá de macabra e traíra.