rlpinheiro 28/08/2020
O labirinto de Druuna
Como faz muito tempo entre a leitura do primeiro e segundo volume, há um pouco de dificuldade minha em me situar novamente na história, ainda que não seja a minha primeira vez lendo essas aventuras.
Entretanto, terminado o primeiro livro, “Mandrágora”, a mente começa a desanuviar e a história vai ganhando um contorno mais nítido na minha memória e permite que eu compreenda melhor a proposta de Paolo Serpi.
Isso também se evidencia ao chegar próximo do fim do segundo livro, “Aphrodisia”, apesar de a estória ganhar desdobramentos confusos e, ao mesmo tempo, inebriantes. São reviravoltas simples e que retomam sempre ao mesmo ponto de incerteza, como um lopping ou um labirinto.
Ao concluir o “O planeta esquecido”, anseio degustar imediatamente da leitura do último livro deste volume. Ainda que o enredo siga a mesma linha das estórias anteriores, confundindo a protagonista e o leitor do que é realidade e do que é um mero devaneio, a relação com o mundo real, comum, fica cada vez mais distante e uma distopia onde o humano não existe mais se apresenta de forma mais clara ao final do texto. Já não consigo distinguir se Druuna vê as coisas com mais ou menos clareza nesse ponto.
No quarto e último livro que compõe o segundo volume da edição de luxo de Druuna, Serpieri nos brinda com uma estória de compreensão mais simples, sem deixar - ao mesmo tempo - de perder sua densidade. Fica claro ao leitor - e para a protagonista - que o mundo não é mais o mesmo e, muito menos, ela própria. Com a premissa de que o homem é falho e isso causou sua extinção autoimposta, vemos seres híbridos, humanoides, tentando se apresentar como uma evolução natural da nossa raça. No entanto, a complexidade humana, o sentimento, as nossas dualidades e incertezas, sem dúvida, não geram outro efeito senão um imenso curto-circuito nas lógicas exatas das máquinas.
E tudo isso com “muita Druuna”, que tenho certeza que você sabe do que estou falando.