Lukas_Gabriel 11/07/2023
A voz do diabo é doce de ouvir.
Bem vindo de volta a Castle Rock! Cidade muito conhecida pelos fãs do King, e dessa vez com mais um acontecimento que marcou a história desse lugar para sempre, novamente. A palavra que definiu esse livro para mim foi: intrigante. Já digo que ele tem spoilers grandes de outros livros, especificamente os que tiveram como palco a magnifica Castle Rock. Entre as referências que eu consegui pegar: uma sutil de A Zona Morta, uma novela do livro Quatro Estações, informações de A Metade Sombria, e referências pesadíssimas de Cujo. Tem outras, mas não identifiquei.
Trocas Macabras começa com um forasteiro que chega na cidade apostando tudo o que tem com o slogan de sua loja chamada "Artigos Indispensáveis". Logo em seu primeiro cliente já podemos ver algo diferente, que comumente não vemos nos comerciantes, ele sempre consegue fechar negócios com seus clientes pois ele sempre vai ter o que você está precisando. Barganhando, artigos caros são vendidos por uma pechincha, mas além do que você pode pagar em dinheiro ele também cobra o que achamos ser um inofensivo favor.
Tem cenas bem violentas, e a escrita do King é bem descritiva, o que torna impressionante e chocante. É um livro que fala da ganância e do materialismo, como até onde estamos dispostos a ir por causa de um bem material. Presenciamos os personagens se questionando, "tudo que ele cobrar, ainda será barato", e somos levados a visualizar nossa frase "eu daria tudo para ter aquilo" em prática nesse livro. Todo final de capítulo, e principalmente das partes - pois o livro é dividido em 3 partes, ele te prende e incita você a começar o próximo, até que você se vê viciado.
São vários os personagens dessa história, protagonistas cativantes e outros coadjuvantes, mas nenhum deles é citado sem sabermos algo de sua história. A cidade em si é uma personagem, Castle Rock tem personalidade, tem sentimentos, tem energia, e quem mora lá absorve essa gama de emoções. É muito bem explorado o conflito entre eles, sabemos o contexto de seus interesses ao comprarem o produto que tanto sonham, e como essa troca que o Leland Gaunt faz com os clientes acaba criando um show macabro, aumentando o clima de horror na cidade.
Queria dedicar um parágrafo ao queridíssimo Leland Gaunt. Gostei muito desse vilão, gostei que ele só gosta do caos, usa seus poderes de manipulação esplendorosamente, não suja suas mãos, e sua história me lembrou muito a de alguns outros vilões sobrenaturais do King. A forma como ele usa da fragilidade humana, e em cada momentos quando ele compartilhava seus planos comigo, mais eu sentia ódio por gostar dele. Um vilão com uma lábia de dar inveja, e um propósito que o conduziu a cidade certa (ou errada).
O xerife Alan retorna nesse livro como protagonista, e pelo seu passado em A Metade Sombria temos a visão de sua vida após o trauma. Assim como ele, somos apresentados a todos os personagens pois eles almejam algo simbólico, que julgam ser extremamente necessários ao encontrar na vitrine da "Artigos Indispensáveis", e o Gaunt sabe de seu passado e presente, sabendo assim o que você quer, para te vender pelo preço que com certeza você pode pagar.
Comentando sobre a conclusão, o Stephen sempre tem uma crescente magnifica entre o meio do livro até sua reta final, e por isso muitos se frustram com o fim de suas histórias, pois elas podem não ser equivalentes ao clima que vem sendo preparado para seu maior ápice. Confesso que com um poder de influência tão grande como o do antagonista, me questionei como o King lhe daria um fim, e pra ser sincero, eu fiquei confuso sobre o que achar durante um tempo pois achei várias vezes que estava ficando bom e, posteriormente, que estava ruim. Então eu não gostei do que ocorreu e de como aconteceu.
O caminho fugindo da paranormalidade foi brilhante, pois a capa faz jus ao Gaunt, ele manipula seus clientes como um show de marionetes, mas não posso deixar de comentar que o livro também ficou muito extenso. Eu gosto muito da forma de trabalhar do King, mas em algumas obras ele poderia ter encurtado. Em Trocas Macabras vai sendo trabalhado as consequências dos atos dessas pessoas, mas isso já podemos prever, queremos saber somente como, e nisso o Stephen acabou postergando muito.
Alguns capítulos são parados por causa disso, a ambientação dele é impecável, até podemos ver nessa edição um mapa de Castle Rock baseado nas obras do mestre, mas por conta de ter vários personagens que vão colocando fogo na cidade através dessas pegadinhas o King foi trabalhando todas as visões deles, e isso me deixou desinteressado e até quase numa ressaca no meio do livro. Continuei num outro ritmo de leitura e deu super certo, mas pelo livro ser um calhamaço pensei que fosse ser um parto.
Entretanto é inegável como ele acertou mais uma vez, essa obra mereceu muito um relançamento e principalmente uma nova tradução. Espero muito que a Suma nos apresente mais dos livros que não conseguimos mais adquirir, pois escolher para o lançamento, acompanhado do selo Biblioteca King, os livros "O Iluminado" e "Carrie" foi avacalhação, sendo que temos vários outros fora de circulação atualmente. Já estou ansioso para o próximo, Dolores Claiborne!
Com o lema "compre agora e pague depois", o risco será sempre do comprador.