Contos

Contos Machado de Assis
Machado de Assis




Resenhas - Contos


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Hérico 10/06/2016

Escrito em 03/02/15

O Alienista", "O programa" e "um erradio" são os melhores contos até agora, ainda que no primeiro tenha ficado a mesma sensação que me ocorreu em "Memória Póstumas de Brás Cubas": um argumento genial que foi desenvolvido de maneira modesta. De qualquer modo, de maneira modesta mas por Machado de Assis.
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Bruna Moraes 21/03/2016

Contos
Machado de Assis escreveu o livro Contos composto por sete histórias curtas, cada uma com as características mais marcantes do autor, o cenário predominante é de um Brasil imperial, onde as ruas do Rio de Janeiro eram cercadas de sujeira e mau odor, a escravidão ainda era muito presente, apesar de haver alguns alforriados, a crença na religiosidade também se fazia presente, e ainda a predominância de muitas críticas ao comportamento da sociedade da época.
Os contos apresentam personagens bastantes distintos, como Nogueira, um jovem inocente aparentemente; Jacobina, um alfares que não conhecia a solidão, nem o medo e muito a menos a si próprio; Cartomante, uma mulher capaz de convencer as pessoas através de suposições; Damião, um homem egoísta que só vê o seu próprio umbigo; e Candinho vem para exemplificar que os fins não justificam os meios.
O estilo machadiano é marcado pelo duplo sentido e a ambiguidade no final da história, as ironias subjetivas fazem condenação a cultura social da época marcada de preconceito e superioridade entre as classes.
Um excelente livro para conhecer o estilo literário de Machado, além dos contos também há comentários de professores de universidades que ajudam a deixar tudo mais claro para o leitor compreender, capítulos curtos e com letras grandes facilitam a agilidade da leitura.
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Ana Luiza 09/10/2014

Para conhecer Machado de Assis
Machado de Assis é um dos maiores nomes muitas vezes considerado o maior - da literatura brasileira e conquista, intriga, diverte e provoca muita gente até hoje. Entretanto, a pior maneira de se conhecer o autor é pegando logo de cara um de seus romances mais famosos: Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba, etc. Machado era simplesmente genial e suas obras não são das mais fáceis. Infelizmente, muitas pessoas tiveram a mesma experiência com Machado que eu tive. No ensino fundamental fui obrigada, pela escola, a ler Dom Casmurro e não deu outra: odiei a obra e odiei Machado.

Particularmente, não acredito que alunos antes do ensino médio tenham maturidade e conhecimento literário o suficiente para ler os romances de Machado, o que não quer dizer que devemos os manter longe do autor. Agora, no ensino médio, tive novamente por obrigação ler Machado de Assis. Só que dessa vez foram contos, que realmente se mostraram a melhor maneira de verdadeiramente conhecer o autor.

Nesse livro, Contos de Machado de Assis, temos 14 contos do autor que representam bem o seu modo de escrita e a pluralidade de temas que ele abordou ao longo de sua carreira. Comecei o livro desconfiada por causa da experiência negativa e o primeiro conto, O Medalhão, não me ajudou a ter um bom começo de leitura.

O conto O Medalhão traz a conversa entre um pai e filho, no dia do aniversário deste último. O pai instrui o filho sobre como ser um medalhão, uma pessoa importante. Não gostei do conto, pois, honestamente, não vi muito sentido nele. A trama, construída através de diálogos, dificulta conhecer os personagens que, mesmo para um conto, não foram muito desenvolvidos. Uma surpresa boa, por ser o primeiro conto, foi descobrir que a linguagem de Machado não é difícil, algo que não esperava, já que o autor é do século XIX.

O segundo conto, O espelho, começa com 5 amigos debatendo temas metafísicos e filosóficos. O mais calado deles, Jacobina, resolve contar uma história sua para exemplificar sua opinião de que todos nós temos duas almas. A trama desse conto é muito intrigante e conta com um suspense bem construído, mas, para mim, um final decepcionante. Novamente, não compreendi complemente o sentido da história. Entretanto, gostei bastante da narração bem detalhada do autor, que faz o leitor sentir-se dentro do conto.

O terceiro conto, A Sereníssima República, foi uma excelente surpresa e um dos meus favoritos de todo o livro. Nele, um homem narra a descoberta de uma sociedade de aranhas falantes, com quem ele aprende a se comunicar e que o vê como um deus. O homem então tenta estabelecer um governo para as aranhas, a Sereníssima República, e narra, em seguida, as confusões e enganações que cercam a decisão de quem ficará no poder do novo Estado.

Com uma trama inusitada e narrativa carregada de ironia, em A Sereníssima República, Machado critica o processo eleitoral, os meios do poder e como as pessoas corrompem-se diante dele, e como o Estado é recheado de tais pessoas. O conto critico e atual me surpreendeu e agradou bastante e foi responsável por iniciar a mudança da visão que tinha do autor.

Em O Alienista, conto mais longo do livro se não me engano, conhecemos a história de Simão Bacamarte, um médico que resolve desvendar os mistérios da mente e da loucura. Simão funda, em sua cidade natal, a pequena Itaguaí, a Casa Verde, um hospício, para onde o médico não hesita em mandar qualquer pessoa que não tem um comportamento considerado normal. Conforme a Casa Verde vai ficando com cada vez mais pacientes, um verdadeiro terror se espalha pela cidade: afinal, quem pode verdadeiramente garantir quem são os loucos e quem são os sãos?

O Alienista é o quarto conto e o meu favorito de todo o livro. A trama intrigante e bem desenvolvida e a narrativa fácil e cativante envolvem e surpreendem profundamente o leitor. Os personagens são completos, complexos e cativantes. Machado nos faz refletir sobre o que é a loucura e a normalidade e o que as separa. Será que é possível distinguir os loucos dos sãos ou todos nós temos um pouquinho dos dois?

O quinto conto não me agradou como os dois anteriores. Em Conto de Escola, Machado conta em primeira pessoa uma situação ocorrida na escola, envolvendo uma moeda, um professor carrasco e seu filho, e um colega fofoqueiro. Honestamente, não entendi o sentido do conto e apesar dele ter me intrigado, o final foi decepcionante e não me agradou.

Em Noite de Almirante, sexto conto, acompanhamos Deolindo, um marujo que depois de meses no mar volta ao Rio de Janeiro para reencontrar uma moça que amava e que prometeu esperá-lo. Deolindo trouxe para ela, da viagem, várias bugigangas de presente, mas também um belo par de brincos, prova de seu amor e fidelidade durante todo o tempo em que estivera no mar. Os outros marujos brincam que, naquela noite, Deolindo iria ter uma noite de almirante, o que não sai bem como o planejado.

Gostei do conto, que é envolvente e divertido. Narrado em terceira pessoa, Machado consegue conquistar e surpreender o leitor, além de fazê-lo se compadecer com a situação vivida pelo protagonista. Em Noite de Almirante Machado ironiza os romances românticos, mostrando que juras de amor não são tão eternas quanto queríamos que fossem e que as expectativas que criamos sobre os outros podem nos decepcionar, o que torna o conto bem atual.

Em A Cartomante conhecemos Camilo, um jovem rapaz que tem um caso amoroso com Rita, esposa de seu grande amigo. Rita, incerta do amor do amante, consulta uma cartomante que lhe tira todas as dúvidas. A mulher conta da cartomante para Camilo, um cético, que ri da amada. Aparentemente, o caso de Rita e Camilo não é um segredo, pois o homem recebeu uma carta anônima de alguém que sabe dos dois. Entretendo, tudo muda mesmo quando Camilo recebe um recado do amigo, esposo de Rita, convocando a casa dele. É nesse momento que o caminho de Camilo e da cartomante se cruza novamente e, pode ser, que em momento de desespero, até um cético passe a acreditar no poder das cartas.

O sétimo conto é intrigante e de final surpreendente, o meu segundo favorito do livro. Machado consegue envolver o leitor nessa história de ar místico e narrada em terceira pessoa. O conto tem um ar de mistério e magia delicioso e flui rapidamente. A trama é bem desenvolvida e os personagens cativantes, além de imprevisíveis e humanos e nem sempre de bom caráter. Em A Cartomante Machado explora e critica as relações humanas não só com pessoas, mas também com os aspectos da vida, como a sorte, o destino e o místico.

A Causa Secreta é meu terceiro conto favorito do livro. Nele conhecemos a história de Garcia e Fortunato, dois médicos. Garcia já havia reparado no outro homem, mas o conheceu apenas quando ele ajudou um ferido que morava no mesmo lugar que Garcia, na época, ainda estudante. Anos se passam e Garcia e Fortunato se reencontram. Dessa vez, surge amizade e Garcia passa a frequentar a casa de Fortunato, com quem abre uma Casa de Saúde. Entretanto, Fortunato é um homem incomum, estranho até, coisa que Garcia percebe com o tempo e que, em um fatídico episódio envolvendo um rato, o faz entender o que move aquele homem.

Esse oitavo conto é delicioso, com ar de mistério e um desfecho surpreendente. Com traços de ironia e divertimento, Machado narra em terceira pessoa sua trama envolvente e inteligente, onde explora mais uma vez as estranhezas dos seres humanos e o que os move. Os personagens são imprevisíveis, de quem o autor faz uma profunda análise psicológica.

No nono conto, Uns Braços, temos a história de Inácio, um jovem de 15 anos apaixonado pela mulher de seu empregador, com quem mora. Inácio é encantado com os belos braços de D. Severina, que sempre os deixa a mostra. A mulher parece perceber a paixão de Inácio, mas o julga apenas uma criança e impossibilitada de corresponder tais sentimentos. Mas, como o passar do tempo, um observando o outro, será que opinião e sentimentos da mulher continuarão os mesmos?

Esse conto é mais singelo, mas, como sempre, Machado não deixa de abordar um tema pesado e recorrente em seus textos: o adultério. Apesar de tratar de amor (mas também de atração), o autor constrói tramas realistas, onde talvez o final não seja feliz, que coisa que adoro, pois foge do clichê de felizes para sempre. Machado mais uma vez se prova genial na hora de envolver o leitor com sua narrativa em terceira pessoa e não deixá-lo parar de ler até que chegue o final. Ele também trouxe novamente personagens, situações e um desfecho surpreendentes. Ainda falando dos personagens, Machado consegue criar protagonistas únicos, cativantes e bem reais, de quem faz profunda análise psicológica e comportamental.

No décimo conto, Missa de Galo, Nogueira, um jovem de 17 anos, que se mudara para o Rio de Janeiro para estudar, narra um episódio acontecido na véspera de Natal, e que envolve Conceição, esposa do homem que o hospeda. Esse conto me intrigou a início e o final não foi o que eu esperava, apesar de que preferia outro desfecho. Mais uma vez Machado aborda um de seus temas favoritos: o adultério, em sua narrativa envolvente.

Cantiga de esponsais é o décimo primeiro conto e traz a história de Mestre Romão, um músico estranho e solitário, que no final da vida vê-se compelido a terminar uma última composição, a que começara a criar para a esposa falecida, mas nunca terminara. O conto é um pouco triste, mas conseguiu me envolver. Machado consegue nos intrigar com essa história simples e singela e de final satisfatório. Narrado em terceira pessoa, a trama é bem conduzida, mas os personagens pouco memoráveis.

No décimo segundo conto, Um Homem Célebre, conhecemos Pestana, um talentoso pianista, e acompanhamos sua relação com sua arte ao longo da vida. Inspirando-se nos grandes, Beethoven, Mozart, Bach, etc., Pestana se entrega a música, mas, em vez de obras eruditas, clássicas, ele só consegue compor polcas, que todos consideram geniais, mas que ele mesmo não gosta e o que relegam a uma vida de insatisfação e infelicidade.

O conto é interessante justamente por tratar da relação de um artista com sua arte e sua insatisfação de não conseguir produzir o que queria. A narrativa em terceira pessoa de Machado, como sempre, consegue nos envolver rapidamente e eles nos faz aprofundar junto com ele nas profundas análises psicológicas de seus personagens, sempre variados e únicos. A trama foi bem construída e desenvolvida, e o final satisfatório.

No décimo terceiro e penúltimo conto, chamado Pai Contra Mãe, temos a história de Cândido, um caçador de escravos fugidos. Cândido leva uma vida regrada, visto que há muitos outros caçadores pela cidade e que os escravos fugidos já o conheciam. A situação fica mais complicada quando Cândido se casa e sua mulher engravida. Sem condição de sustentar a criança, a tia da esposa de Cândido sugere que eles se desfaçam do filho, mas o homem recorrerá a todas as outras maneiras antes de abandonar a prole.

O conto é muito bom, especialmente por mostrar com muita clareza o modo de vida da época e a situação dos negros escravizados. A trama é bem conduzida e surpreendente, o final polêmico e com um questionamento que pode dividir opiniões: é justificável prejudicar os outros se sua vida, ou a de quem você ama, depender disso?

Em Conto Alexandrino, o último do livro, acompanhamos Stroibus e Pítias na antiga Alexandria. Um dos filósofos acredita que todas as essências humanas encontram-se nos bichos e, com ajuda do amigo, está disposto a provar sua teoria fazendo experimentos em ratos, o que pode não trazer boas consequências para os dois.

O conto me intrigou por ser o único do livro que não se passa no Brasil. A trama é bem desenvolvida, de final surpreendente e recheada com boas doses de ironia. A narrativa em terceira pessoa cativa o leitor e o autor demonstra muito conhecimento a cerca do mundo e história antigos. Para mim, o texto ironiza a ciência e seus métodos, além dos próprios cientistas e sua busca incessável pelas verdades universais.

Esse livro foi uma excelente experiência e ótimo para conhecer o estilo de Machado de Assis, que com seus contos conseguiu acabar com o ódio que tinha por ele. Machado é realmente genial e único e fiquei curiosa para ler outras obras do autor, especialmente seus romances.

O melhor desse livro é a edição super caprichada, com essas ilustrações incríveis e que deixaram a leitura um pouco mais gostosa. Minha única reclamação é que, enquanto estava lendo, as páginas começaram a soltar sozinhas, o que, felizmente, consegui reverter com um pouquinho de cola.

site: http://mademoisellelovebooks.blogspot.com.br/2014/10/resenha-contos-de-machado-de-assis.html
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Havi 08/09/2012

Contos
Antepenúltimo e penúltimo contos são simplesmente fantásticos ! Machado, como sempre, magnífico.
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Rômulo 03/03/2012

Contos Machadianos
Maravilhoso!
Se você quiser ler só uma obra do gênio Machado, leia os contos, não são muito longos, embora exijam uma certa atenção na interpretação por causa das ironias etc.

São Exelentes!
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Crispim 24/01/2012

Machado de Assis é um maestro das palavras. Seus contos são simplesmente fantásticos. Retrata o ser humano de maneira sútil e com um carinho todo especial. Adorei a leitura do livro. Das minhas últimas aquisições despretensiosas essa, sem dúvida, foi a melhor.
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carol 05/11/2011

Realismo
Machado de Assis em seus contos,mostra a realidade da sociedade do séc. XVIII. Mostra seus vícios e pecados, de forma intelectual e bem humorada(descontraída) ao mesmo tempo. Uma façanha típica de tal autor, é manter seus contos atuais, mesmo depois de tanto tempo de escritos.
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G. 01/06/2011

lembro que li esse livro na oitava série e gostei muito dos contos!
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Bruna 13/05/2011

Machado, novamente, não me decepcionou.

Gostei dos contos, que são, em sua maioria, convincentes, devido ao realismo empregado. A escrita é envolvente, objetiva, irônica - marca registrada de Machado, e sempre deixa a vontade de ler mais obras dele.

Recomendo, em especial, os contos que foram os meus preferidos: "A Cartomante" (claro!), "Cantiga de Esponsais" e "O Caso da Vara". Um único conto me assustou, pois esperava muito mais - "Felicidade pelo Casamento". Aquele final não me desceu...

PS: Minha edição é a da "Série Bom Livro", que contém as seguintes histórias: "Almas Agradecidas", "Conto de Escola", "Cantiga de Esponsais", "Longe dos Olhos...", "Carolina", "O Caso da Vara", "Felicidade pelo Casamento", "Um Apólogo", "A Cartomante" e "Missa do Galo".

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Vê Tezoni 06/05/2011

A igreja do diabo; A carteira; O empréstimo; A desejada das gentes; Monólogo do burro; Uns braços; Suge-se gordo; Idéias do canário; Pai contra mãe; Missa do Galo.
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Rosa Santana 25/04/2011

O ESPELHO
O que temos em O Espelho é um tipo de narrativa chamada de encaixe.

Ou seja: um narrador observador começa a nos contar os fatos, descreve-nos o cenário, fala-nos dos personagens que estão a discutir e aí nos conta de um que se mantém distante, que não se pronuncia... Ele (Jacobina) é conclamado a participar da discussão, mas, como não é afeito a esse tipo de ação , toma a palavra e começa a narrar sua experiência e se assume então como um segundo narrador, que conta sua própria história. No final, o narrador um, que se afastara, reassume a voz narrativa.

Gerárd Genette diria que Jacobina é um narrador autodiegético ou seja, aquele que relata suas próprias experiências como personagem central da história. O narrador um seria, na concepção de Genette, heterodiegético: aquele que relata fatos que lhe são estranhos no sentido de que ele não os vivenciou. Ou: ele não integra nem integrou, como personagem, o universo diegético em questão.

Se fôssemos representar em forma de gráfico poderíamos desenhar um retângulo (a narrativa de Jacobina), dentro de um outro, mais amplo representando a narrativa aquele narrador que detém a “voz narrativa” mas que, em um determinado momento, cede-a ao alferes. Por isso esse tipo é chamado de “narrativa de encaixe”.

Tenho a acrescentar que Jacobina, o narrador dois, conta a sua história e se revela como sendo uma pessoa pronta, acabada. Ele não aventa a possibilidade de discussão! Alguns exemplos:

. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendoque a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam em nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna.

.” - Nem conjuntura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto”

.” - ... Espantem-se à vontade; podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica”

"Sozinho no sítio pôs-se triste, nem comia, "sentia uma sensação inexplicável... como defunto andando, um sonâmbulo, um boneco mecânico." Por que? Porque ele precisava de outros à sua volta, para bajulá-lo. Era a adulação, a bajulice que ele recebia do outro que definia sua personalidade. Sem ninguém por perto, ele tb era ninguém... ou seja: um desprovido de espelho... Que era tanto aquele objeto grande na parede, mas que era tb o outro objeto, aquele falante que o rodeava, que o bajulava...

Jacobina demonstra ser uma pessoa que, não admitindo réplicas, não admite o outro como pessoa, como sujeito, apenas o vê como bajulador, como um medalhão, teoria que MA expõe no conto “Teoria do Medalhão” - presente nesse mesmo livro. Ele se julga, como os serafins e os querubins, a perfeição eterna...

O Espelho, nesse conto, distancia-se daquele descrito por Manuel Bandeira:

"Espelho, amigo verdadeiro
tu refletes as rugas, os meus cabelos brancos"


Também daquele de Cecília:


"Eu não tinha esse rosto de hoje
assim calmo, assim triste, assim magro...
... nem esse lábio amargo."

Porque aqui, ele apenas reforça o externo. Busca a aparência. E, diga-se: a aparência que revela o "corpo sarado", a roupa que será bem apreciada pelos outros, que dará status; Aqui é visto não como uma volta para o interior, mas apenas para refletir o externo: a farda e o que ela representa: a máscara, o eu social de cada um, que, como diz Fernando Pessoa, já estava "pegada à cara"

Enfim, o conto mostra que o indivíduo acaba por se transformar naquilo que aparenta, como se fosse impossível exibir impunemente essa ou aquela máscara e depois se desfazer dela...


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TEORIA DO MEDALHÃO

Sobre esse conto, é importante ressaltar a técnica usada por MA: o narrador se afasta, para criar o chamado “tipo dramatizado”, ou seja não há descrição do cenário, dos personagens, não há a mediação do narrador. Isso para que não haja suspensão das cenas. É no discurso das personagens que o espectador/leitor vai montando o cenário, assim como vai, também, apossando-se do conceito do que seja o “medalhão”. Esse termo (medalhão) é, em nenhum momento, definido diretamente. Pelo contrário, é do conjunto que nasce o verdadeiro medalhão, tal como o entende o pai. Assim é que no tempo preciso de uma hora, da noite de 05 de agosto de 1875, dia do aniversário de Janjão, o “professor” frustrado que quer ver concretizado o seu sonho no filho, recolhe-se, (das 23 às 24 horas) com ele, ao quarto - espaço de recolhimento propício e necessário para a aula que será ministrada.

É dessa maneira que o pai traça ao filho um retrato em branco e preto de uma realidade sem retoques: ambição, mesquinharia, interesse, oportunismo, cumplicidade, egoísmo surgem aos olhos do leitor revelando um ser humano sem idealizações, ou cuja idealização é, única e meramente, dar-se bem na vida.

Assim também o pai mostra que sucesso, prestígio, fama, dinheiro - que deveriam ser resultados secundários de ações positivas – convertem-se em finalidade absoluta das ações ou: elas são o valor-em-si. Por isso ele cita Maquiavel aquele que diz: os fins justificam os meios. O dinheiro, o sucesso, a fama(...) justificam quaisquer atos perpetrados, pois o importante é que eles sejam obtidos!!!

Outro fato interessante é o de que os vinte e um anos, na verdade, é passagem da adolescência para a maioridade, e a “aula” é o rito de passagem para que o agora "maior" reja sua própria vida, siga seu próprio caminho segundo o que lhe acaba de ser ensinado!

A ironia machadiana se dá, sobretudo, porque o medalhão que o pai busca e define para o filho é um **personagem-tipo, que, na verdade, é o homem interesseiro, bajulador que visa a subir na vida a qualquer custo.

**personagem-tipo é, para a Teoria da Narrativa, o personagem que representa toda uma série de pessoas. Segundo essa mesma teoria, por isso, esse personagem é chamado de plano, porque é desprovido de profundidade. Ele se contrapõe ao redondo.


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Srtª Kelly 23/04/2010minha estante
Adorei :)




Renata 31/05/2010

O livro é bom. Machado realmente é genial, pena que não gosto muito dele. Mas adorei o último conto, o "Capítulo do Chapéu".
Jailson 28/07/2017minha estante
Contos - Coleção Grandes Literaturas (2002)
Frei Simão; Aurora sem dia; Teoria do Medalhão; A chinela Turca; O Segredo do Bonzo; O Espelho; Verba Testamentária; Cantiga de Esponsais; Conto Alexandrino; Noite de Almirante; Ex Cathedra; A Cartomante; Uns Braços; A causa Secreta; O enfermeiro; Mariana; Conto de Escola; O caso da Vara; Missa do Galo; Um cão de lata ao rabo; Uma Noite; Maria Cora.




Maris 04/11/2009

Os contos de Machado são sempre excelentes. Infelizmente a edição desta coletânea é péssima. O prefácio é ridículo, poucos estudantes de ensino médio analisariam tão mal a obra de Machado de Assis, tornando este livro, portanto, uma má escolha até como introdução à obra do autor.
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