spoiler visualizarnathanbrgs 14/05/2023
Nelson Rodrigues é fantástico!
Essa leitura foi o meu primeiro contato com a obra de Nelson Rodrigues e eu não sabia o que esperar sobre seus romances. De certa forma, a única ideia que tinha sobre o autor era em relação às suas grandes peças de teatro que viriam a se tornar obras televisas. O que me chamou atenção para adentrar no universo do autor, foi algumas citações do filósofo Luiz Felipe Pondé e uma entrevista da atriz Fernanda Montenegro, comentando sobre o Nelson.
De fato, o Nelson é um autor que incomoda (ou pode incomodar) muitos leitores. Ele não se abstém de trazer temas como: traições, amores proibidos e desejos homicidas originados da sujeira humana. Nelson pode incomodar justamente para aqueles que se julgam moralmente bons e que proferem o substantivo "nunca" para os pecados que a vida proporciona.
"Meu Destino é Pecar" é uma leitura fluída e muito bem estruturada em cenas e diálogos (ahh... os diálogos são ótimos). Personagens complexos com as suas trajetórias morais nada previsíveis, tornando o flerte com o absurdo algo normal, como as seguintes questões:
Como amar alguém que, inicialmente, odiamos?
Qual o sentido em casar com uma moça sendo um sujeito extremamente asqueroso?
Até onde o egoísmo corrói a alma de um homem extremamente belo e mimado?
Suicídio e homicídio por amor pode ser uma consequência doentia para todos?
O que é amar?
O ódio pode transformar-se em amor?
São muitas perguntas que derivam dos sentimentos mais obscuros. A posse, a ideia de se sentir um lixo, o desespero por almejar o impossível, todas essas absurdas reações pueris, evidencializam a IRRACIONALIDADE quando estamos cegos por um sentimento. E consequentemente, atos e reações tão pueris, me fazem pensar em como o descontrole emocional de uma criança ainda habita dentro de nós: adultos.
A única coisa que sempre tive em mente, lendo autores modernos é: nunca diga nunca para os pecados.
A obra proporciona um olhar crítico para a trajetória histórica da mulher, dos seus direitos e necessidades como seres humanos. A relação de posse dos homens e os machismos de época muito bem contextualizados. Fora a relação entre os preconceitos da sociedade com os negros, deficientes e doentes mentais. E uma coisa muito interessante é a terra sem lei entre fazendeiros da época, e sim ainda há muito disso no Brasil.
Sobre alguns desfechos eu creio que alguns leitores não irão se sentir satisfeitos, mas eu me diverti com o processo que levou tais conclusões.
Há algumas pequenas incoerências na obra que são justificadas, mas nada que impede o desenvolver da trama. Recomendo! E sim, irei assistir a minissérie produzida pela globo, sobre o romance.