Cris 20/07/2022
A vida em toda sua melancolia diária.
'Laços de Família' de Clarice Lispector foi publicado em 1960 e de maneira bem cotidiana e um tanto melancólica reúne 13 contos distintos e unidos apenas por um simples e grande motivo: a vida acontecendo.
Este é o segundo livro que leio da autora e até agora minha experiência tem valido a pena. Mas só isso, nada muito memorável ou avassalador. Gosto de sua escrita, sobretudo a narrativa de fácil entendimento e tão trabalhada em questões cotidianas e familiares. No entanto, não consigo amar ou favoritar nada que leio. Tudo é bem escrito, sem dúvidas, mas suas histórias acabam não tocando o meu coração da maneira que gostaria.
Narrado em 3ª pessoa pude conhecer muitas famílias com questões familiares a lidar e pressões psicológicas acometidas diariamente, li sobre uma mãe que não tinha descanso de suas tarefas do lar, conheci uma velhinha que não suportava cantar o próprio parabéns, também espiei um homem enterrando um cachorro de rua como forma de absolvição de uma culpa que ele carregava nas costas. E o que dizer da mulher que se sentia atraída por um búfalo num passeio ao zoológico? Enfim, uma coletânea de acontecimentos e dilemas que apenas um ser humano poderia enfrentar, obviamente.
Pelo pouco que conheço de Lispector, sei que ela foi e ainda é muito conhecida por transpor em páginas toda sua introspecção e melancolia sobre a vida. Sei também que todos os seus livros nada mais são que análises psicológicos e filosóficos que exigem, sim um certo cuidado do leitor a fim de entender o que está sendo falado, sendo assim, sempre que me proponho a ler um livro seu, já tenho em mente o que esperar e encontrar.
Com um estilo único e bem poético, a autora deixa à mercê do leitor a importância sobre cada conto. Seus diversos significados e representações têm pesos diferentes e tornam a leitura reflexiva e um tanto peculiar.
Leiam Clarice, nem que seja de vez em quando, sempre será uma boa experiência a nível de aprendizado. Sempre.
" - E se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.