Vai Lendo 10/06/2020
The Outsiders: Vidas Sem Rumo, lançamento recente da Editora Intrínseca, é um livro especial. Isso porque ele tem a capacidade de, através de uma narrativa simultaneamente simples e profunda, te transportar no tempo para o início da década de 60.
Na história de S. E. Hinton, acompanhamos o narrador Ponyboy no seu dia-a-dia com a sua gangue, os Greasers – que recebem esse nome, entre outros motivos, por causa da quantidade de brilhantina que colocam nos cabelos. Ponyboy é um menino de catorze anos, o mais novo de três irmãos, que vê nos Greasers a extensão de sua família. O grupo é um constante inimigo dos Socs e, quando um crime grave acontece entre as duas gangues, Ponyboy se vê questionando tudo o que ele considerava como certo.
Família não é só a de sangue
Uma das coisas mais poderosas do livro de Hinton – que, por sinal, o escreveu com QUINZE anos – é a mensagem de que a melhor família para a gente nem sempre é aquela na qual nascemos. Laços de sangue não impediram os pais de Johnny, um dos integrantes dos Greasers, de o espancarem e o criticarem o tempo todo. Assim como não fizeram com que Dally parasse de sofrer com a indiferença do pai.
Os amigos fornecem uma rede de apoio e confiança tanto para Ponyboy quanto para qualquer outro integrante da gangue. E, eu sei, é difícil entender porque defendo meninos arruaceiros. Mas, na verdade, eles são apenas adolescentes tentando encontrar um lugar no mundo e, infelizmente, nem todos encontram o melhor lugar. Ainda assim, é muito legal ver como a amizade entre eles é forte, como podem contar uns com os outros para tudo.
O crescimento de Ponyboy
O irmão mais velho de Ponyboy o julga meio devagar para a vida. Talvez, no início do livro, ele tenha razão. Contudo, em poucos dias difíceis, o menino cresce tanto que é perceptível, que dali em diante, ele vai ser melhor, mais inteligente e mais sensível – ou, pelo menos, se esforçar para ser. Claro que dentro das limitações da adolescência.
Em The Outsiders: Vidas Sem Rumo, Ponyboy representa o complexo processo de desenvolvimento de personalidade pelo qual passamos na adolescência e torna-se bem fácil se identificar com ele. Todos os Greasers retratados na história de Hinton são, de alguma forma, universais e lembram aquele seu amigo ou colega de escola.
The Outsiders, ou aqueles do lado de fora
A tradução literal para o título original do livro é “aqueles do lado de fora”; são os marginais, aqueles que não pertencem ao conceito conservador e extremamente elitista e burro de “gente de bem”. Como se, em espaços mais pobres, fosse obrigatório que seus habitantes sejam pessoas ruins. O plano de fundo super presente no livro é a diferença entre as classes sociais. Os Socs, de classe média e alta, e os Greasers, de menor poder financeiro, vivem uma guerra interna que pode muito bem representar inúmeros grupos e lugares ao redor do mundo.
Ao dar voz a Ponyboy, em 1967, uma época em que os livros Young Adult não retratavam bem o pensamento do jovem, Hinton proporcionou voz a todo adolescente que vivesse nessa condição. Ela deu visibilidade para os impactos que inúmeros preconceitos entre classes causam num adolescente. Além de, é claro, abrir espaço para que a literatura juvenil tratasse de assuntos sérios, interrompendo a ideia de que adolescentes não entenderiam bem como é a realidade da vida. Só deem uma chance.
A edição da Intrínseca
Não tenho como fazer essa resenha e deixar de comentar sobre a perfeição que é a edição brasileira recém-lançada pela Intrínseca para The Outsiders: Vidas Sem Rumo. De capa dura, a edição conta com um projeto gráfico de três cores bases: preto, vermelho e branco. A tipografia mostra a rapidez com que a história flui e a diagramação só colabora com o processo.
No que diz respeito ao conteúdo, além, é claro, da história de Ponyboy e os Greasers, podemos encontrar um prefácio especial da autora, um especial com os bastidores do filme de Coppola – que adaptou o livro em 1982 – e uma entrevista bacana com S. E. Hinton. É aquele tipo de edição que você precisa ter na estante.
Permaneça dourado, Ponyboy
Eu adorei esse livro. Se estivesse em meus dias de glória de ritmo de leitura, teria devorado em um ou dois dias. Ainda assim, não importa a velocidade com que você o leia. O importante é que você o faça. The Outsiders: Vidas Sem Rumo, um pioneiro no seu gênero, retorna para as prateleiras das livrarias como uma leitura obrigatória para qualquer idade.
site: https://www.vailendo.com.br/2020/06/08/the-outsiders-vidas-sem-rumo-de-s-e-hinton-resenha/