yomaeli 19/04/2021
Permaneça dourado, Ponyboy
The Outsiders é um livro de 1967, de Susan Hinton, que começou a escrever essa obra quando tinha quinze anos, motivada pela sensação de indignação ao ver um amigo 'greaser' ser atacado por um 'soc'. Vale ressaltar que Susan usa o S. como forma de resistir ao machismo e também, possivelmente, ao etarismo, pois essa decisão de ter apenas a inicial foi tomada pelo receio de que críticos pensassem que uma menina não teria a habilidade para escrever sobre isso. A autora defende que isso até lhe trouxe mais privacidade, mas a razão primária não deixa de ser mencionada por ela. Em 1988, ganhou o prêmio Margaret Edwards Award por essa obra, que reconhece grandes nomes do young adult, ou seja, escritores que usem de suas escritas para darem intensidade às vozes e vivências dos jovens.
Aqui acompanhamos grupos rivais que entram em diversos confrontos e possuem várias diferenças. Há os rapazes do lado oeste, que ostentam carros, namoradas, impunidade e dinheiro, representando uma burguesia. Esses são os Socs.
Os Greasers representam uma subcultura da classe trabalhadora e "abaixo" da deles, sendo comumente reduzidos ao estereótipo de delinquentes pelas pessoas da cidade, por causa da luta constante que travam pela sobrevivência, dos jeans puídos, das noitadas, das confusões e dos cabelos cobertos por brilhantina. O peso desse estigma acaba moldando não só a visão de quem julga, mas de quem é julgado, pois muitas vezes eles acham que de fato é inevitável que seus destinos sejam marcados por crimes, brigas, canivetes e falta de acesso aos estudos e mercado de trabalho.
Ponyboy Curtis é um adolescente que vive com seus dois irmãos, Sodapop e Darry, todos órfãos, dividindo sua rotina entre a escola e a gangue. Tem uma amizade muito bonita com Johnny, que nos emociona por ser palpável a cumplicidade e pureza.
A maior sacada do livro é como ele mostra esse debate sobre classes e também os sofrimentos decorrentes desse processo de exclusão e marginalização. Interessante citar inclusive que há um trecho em que uma Soc, Cherry, diz que a vida é dura pra todo mundo, incluindo os do lado oeste. E, sim, a vida é dura pra todo mundo, mas o livro enfatiza como pode ser ainda mais dura para outros, e faz isso sem diminuir em nada as possíveis dificuldades pessoais dos Socs, como no caso de Bob e Randy, que Ponyboy descreve como possíveis membros de um ambiente familiar disfuncional, assim como alguns greasers, mesmo com toda riqueza e facilidades.
The Outsiders fala sobre a formação de adolescentes em sobreviventes ou em algozes, muitas vezes acarretando na adultez e rigidez precoce perante à vida; o poder da amizade, mas também o da influência, assim como o senso de proteção e a consequência de ser apontado e excluído. Não há aquela necessidade gritante de mostrar uma lição de moral ou o que é o certo e o errado, mas sim em mostrar as avalanches de sentimentos, respostas e dúvidas dos personagens, por isso, quando aparecem discursos como: "o que estou fazendo não é legal", "eu preciso ou quero mesmo fazer isso?", "por que fazemos isso?", não acontecem de maneira moralista ou parecem lições embutidas pela autora (aquele típico: não façam isso, hein, crianças), e sim de modo orgânico, parecendo realmente um senso crítico que parte dos meninos enquanto repensam e analisam suas vidas.
Essa edição da Intrínseca carrega informações valiosas sobre a autora, sobre a adaptação ao cinema pelas mãos de Coppola e sobre a história de como o livro chegou até o diretor; além de trazer declarações do elenco que se mostra até hoje apaixonado e marcado por pela história, da mesma maneira que eu sinto que permanecerei.