Thamy Palloni 23/08/2023
Feminismo: subversão da identidade
Obra de difícil leitura, com linguagem pouco pedagógica e por vezes prolixa, Judith Butler construiu uma tese sólida e vigorosa, dizendo o que precisava ser dito, sem medo de divergir de grandes nomes que vieram antes dela.
Subversão desde seu título, Problemas de Gênero traz à luz da filosofia (e todas as outras ciências humanas) questões de alcova, de juizado e das ruas. Os tabus são literalmente desnudados, escancarados, com o olhar frio ? diria gélido ? da filósofa.
O leitor gostando ou não, Butler expõe. E subverte ? destrincha as capacidades de construção de identidade, significado de gênero, sexualidade, sentimento e Feminismo. Ela vai para muito além do que poderia ser dito como ?gentil? ou ?sutil?. Justamente por falar do ?inadmissível?, a autora constrói sua teoria com olhar cirúrgico, complexo e com a voz de quem diz (independentemente se há concordância ou compreensão geral).
Ela expõe o ridículo que constrói nossas sociedades, as regras que regem desde o inconsciente coletivo até as leis das constituições. Psicologia, poder, sociologia, antropologia... Nada escapa ao trabalho gigante escrito por esta professora norte americana.
Afinal Butler fala do óbvio. Mesmo que não aparente, cada detalhe desta obra densa como rocha, fala do que nos toca a carne, nas fibras mais pessoais, mais secretas. O controle dos quais somos vítimas e coautores é exposto dentro de cada linha ? eufemismos não são permitidos nesta obra.
Ler Problemas de Gênero foi necessário ? e é preciso que tal forçamento se torne lei. Coração da Teoria Queer, a sexualidade e a psique humana são apresentadas com a sinceridade da verdade ? sem que haja pedras nas mãos, ela apenas mostra o que já é, o que já somos, em detrimento de qualquer regra, qualquer punição.
Incesto, homossexualidade, bissexualidade, trans, heteros... Não importando o título que se coloque, Butler abre, neste livro, o caminho do diálogo e expõem os degraus a serem transpostos.
Muito além do sexo de quem amamos, ou do nosso próprio, Problemas de Gênero abre a porta da liberdade absoluta de questionar, de subverter, e de sempre manter o olhar crítico. Judith Butler, a seu modo, nos olhou no rosto e nos relembrou que antes de qualquer lei, tabu, dogma ou título, nós simplesmente somos.