Problemas de Gênero

Problemas de Gênero Judith Butler




Resenhas - Problemas de Gênero


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Fer Paimel 13/03/2021

Leitura mais técnica
Peguei alguns livros na temática de gênero para contribuir com minha pesquisa na minha pós graduação... mas esse, em especial, achei bem difícil de entender as ideias...
Talvez seja pelo fato de eu estar apenas começando o estudo sobre gênero, mas as ideias de Butler foram bem complicadas de entender, precisarei de leitura complementar sobre a obra.
Do que eu entendi, também, discordei em alguns pontos... assim, não é uma leitura que eu recomendo em geral, mas sim para quem já tenha uma base de estudos de gênero, para poder aproveitar melhor as discussões do livro...
Jepthur 30/08/2021minha estante
Eu amei a leitura e concordo muito com a autora, mas o ponto que vc falou que n é uma leitura pra iniciantes é um fato. Quando eu li eu tbm estava estudando gênero, mas acabei encontrando muita dificuldade. Levei muito tempo e já revisitei o livro pra ter uma compreensão melhor.


Fer Paimel 30/08/2021minha estante
Oi, Arthur! Pois é, foi meu primeiro contato oficial com a autora? Foi uma leitura importante para mim e com certeza pretendo revisitá-la em um momento de mais calma. Eu gostei da autenticidade dela, tanto das ideias como da forma de escrever, motivo pelo qual quero reler e entender melhor o que foi exposto, depois que eu tiver uma base de leitura maior também :)


Jepthur 30/08/2021minha estante
Faz isso sim! Depois desse baque que eu tive com a autora eu fui procurando guias de como fazer a leitura das obras dela. Ainda estou nessa jornada hahaha, espero que dê bom!


Nanna 08/09/2021minha estante
Oi gente, sobre livros abordando questões de gêneros, quais seriam as indicações de vocês?


Fer Paimel 08/09/2021minha estante
Oi, Nanna! Vou te indicar dois, que são bem diferentes, mas eu achei uma linguagem mais simples e pude acompanhar melhor o raciocínio. O ?Gênero, patriarcado, violência?, da Heleieth Saffioti; e ?A dominação masculina?, do Pierre Bourdieu?
Como eu disse, ainda estou no início das leituras dessa temática, então não tenho muitas referências para te passar e tb depende do enfoque que vc quer dar? mas eu quero ler ?O mito da beleza? da Naomi Wolf e ?O segundo sexo?, da Simone de Beauvoir, pois são sempre bem citados nos estudos de gênero? eu precisei diminuir meu ritmo de leitura por outras questões, então ainda estou meio atrasada nessas leituras? enfim, se vc tiver sugestões, eu aceito tb :)


Marcelão 23/12/2022minha estante
Realmente, pra poder usá-la em minhas dissertação e tese foi preciso também ler pra ter noção ao menos dos principais autores e teóricos que ela apenas pincela ou que utiliza como base para argumentar (seja refutando-os ou expandindo o trabalho de seus predecessores). O que mais contribui pra leitura dele sem dúvida é o velho Foucault na maior parte do tempo. Mas talvez o graal mesmo seja contato com a desconstrução e Derrida (este a base da escrita dela)


Fer Paimel 24/12/2022minha estante
Pois é, Marcelo? sem dúvidas as constatações dela são importantíssimas, mas é uma leitura acadêmica, que pode ser vista, criticamente, como forma de distanciar o estudo das pessoas que são o objeto desse estudo? ao mesmo tempo, são teorias complexas, que exigem um vocabulário próprio? é difícil hehehe


malueconomista 11/07/2023minha estante
Achei de um mal gosto acadêmico terrível. As pessoas reclamam dos economistas e seu linguajar petulante, elas ainda n viram os teóricos de gênero. Me pergunto como eles querem que suas ideias sejam propagadas sem enorme distorção de conceitos. Desisti.




Ana Usui 19/09/2022

Para os que são verdadeiramente dedicados
Ler Problemas de Gênero é uma tarefa árdua e não sei direito a quem culpar, Judith Butler por ser prolixa, utilizar uma linguagem muito rebuscada e elitizar o texto, ou a equipe de tradução e edição por optar por certas palavras em detrimento de outras e não traduzir alguns termos estrangeiros (e sim, eu entendo que alguns termos filosóficos possuem significados específicos, maaaas muitos outros não, como a palavra différence por exemplo).

Só pra dar uma ideia: eu não estava entendendo nada e pesquisei um guia de como ler Butler, descobri que seria bom ler Foucault primeiro. Assim fiz, mas não foi o suficiente, li uma obra sobre gênero e performance na educação, alguns artigos sobre a área e mesmo assim tive dificuldades. No decorrer do livro precisei do auxilio constante do dicionário e fui grata por já ter uma boa base de estudos feministas. Mas se você quer ler esse livro e realmente entender recomendo de verdade uma boa base em: feminismo (O Segundo Sexo de Beauvoir, Wittig e Irigaray são bastantes citadas), psicanálise (Lacan e Freud, sendo essencial entender o que é recalcamento e o complexo de édipo) e um pouco de filosofia (Foucault e Hegel, especialmente a história da sexualidade; e a dialética do senhor e escravo).

Entretanto, uma vez que você passa dos dois primeiros capítulos a leitura finalmente engrena. O importante é pegar os conceitos principais que a Butler traz como argumentos para provar o seu ponto, que nada mais é que: gênero é uma performance, um mito cultural que precisa ser treinado constantemente e regulado pelos discursos e aparatos de poder.

A Butler começa o livro questionando o feminismo e sua constante inclinação para a busca filosófica das diferenças entre os “sexos/gêneros”, ela afirma que o feminismo, em sua tentativa de expor e rechaçar o patriarcado, apenas reafirma o conceito binário e acaba por excluir em sua própria análise diferentes tipos de mulheres/pessoas. A autora aponta que o feminismo deixou há muito tempo de ser uma questão das mulheres contra o patriarcado para ser uma oposição das minorias e/ou dos desprivilegiados ao poder vigente hegemônico.

Ou seja, não existe uma mulher universal, que sofra as mesmas condições e abusos em todos os países e culturas (algo que já tem sido visibilizado pela interseccionalidade). Para chegar nessa conclusão de que o feminismo não é *para as mulheres*, Butler percorre um longo caminho para evidenciar que sexo biológico e gênero são a mesma coisa. Não existem. São mitos. Ficções da cultura.

E aqui a galera pira. “COMO ASSIM NÃO EXISTE SEXO BIOLOGICO?!!!!”
Pois é, doidera não?

Mas Butler (quando compreendida rsrsrsrs) nos convence de que realmente não existe. É tudo mito da carochinha. Ter uma vagina ou pênis não define seu comportamento, seus sonhos e aspirações, seus traços de personalidade. Nunca definiu, temos isso provado de novo e de novo em vários campos acadêmicos. A única diferença reside em carregar ou produzir uma criança. Que não muda em NADA sua pessoa. Quem define se você pode ou não trabalhar, se você deve ou não ficar em casa, se é bom ou não para essa ou aquela função, é a sociedade. Ou seja... Se a ÚNICA DIFERENÇA ESSENCIAL entres os sexos é ter uma criança, porque nos deixamos moldar completamente por essa única função?

E as pessoas inférteis? E as pessoas que adotam? E as evoluções médicas que permitem casais terem filhos? Ser mulher é pintar a unha? É ter cabelo comprido? É usar saia? É falar demais? É ser delicada? Ser homem é ter barba? É ser forte? É chorar menos? E desde quando nosso físico nos restringiu dessa maneira? Qual cromossomo é responsável por isso? Em que aspecto minha genitália me impede disso ou daquilo?

A verdade é que não há resposta plausível para essas perguntas, o gênero existe por causa do sexo biológico, mas quando pensamos em sexo biológico já estamos pensando em gênero. Então quem veio primeiro? O ovo ou a galinha?

Nessa jornada tortuosa da Butler, percorremos pontos feministas, filosóficos, psicanalíticos e culturais para chegamos na conclusão de que o gênero é uma ficção que nos contamos, desenvolvemos diversos aparatos para ocultar essa ficção e então nos esquecemos de sua origem, passamos então a viver em um sistema regulado de opressão que vive através de sua mentira.

A leitura vale muito a pena para quem estuda tanto feminismo quanto estudos queer, mas exige bastante força de vontade. Caso não seja sua vibe, recomendo a leitura de obras posteriores ao pensamento da Butler, a compreensão será mais fácil e você chegará no mesmo ponto. Dizem por aí que Corpos que Importam é mais acessível e responde alguns dos pontos que Problemas de Gênero levanta, espero ter uma melhor experiência nele (assim que me recuperar desse trauma literário, pq vou te contar...).

~Agora vou ler coisas leves e felizes porque ninguém é de ferro~
Andrea 25/09/2022minha estante
IMPACTADA com a sua resenha, minha filha. ? Muita coisa a se pensar só com a sua visao, imagina com o texto e as referências??? Não sei se me encontro apta no momento para tal tarefa, apesar de querer bastante conhecer a autora.


Ana Usui 26/09/2022minha estante
Eu sofri nessa leitura ???, valeu a pena, mas só consegui pq tinha tempo hábil pra me dedicar


Rafael3768 25/11/2022minha estante
Li esse livro recentemente para realização do TCC e queria ver alguma opinião externa.
Achei sua resenha INCRÍVEL. Butler se mostra cada vez mais necessária


Ana Usui 27/11/2022minha estante
Muito obrigada ?????? esse livro é tão denso que sinto até que somos companheiros de guerra Kakakkakakakakak. Butler é mesmo incrível, estou me preparando para ler mais duas obras dela ano que vem


Ana Usui 27/11/2022minha estante
Inclusive, licença perguntar, qual o curso? ?
Sabe, acho q sou masoquista pq as vezes até bate saudades de fazer tcc


Rafael3768 28/11/2022minha estante
Sou formando em Letras! Meu trabalho de conclusão é sobre diversidade sexual e de gênero em fanfictions, em especial para o fandom de Jornada nas Estrelas. Para a parte de estudo de gênero, precisei ler bastante de Butler, Beauvoir e Foucault.


Ana Usui 29/11/2022minha estante
Caracas que legal!!




Erick 02/04/2021

sobre os estudos queer
Os estudos queer revelaram a brutalidade impositiva dos chamados “gêneros inteligíveis”, que exigem uma coerência e continuidade entre desejo, sexo, gênero e práticas sexuais. A tentativa de se categorizar os gêneros, para depois estabelecer uma relação de continuidade entre o sexo biológico, o gênero social, o desejo e as práticas sociais e sexuais deve ser entendida como impositiva, como parte das estratégias das relações de poder que sustentam uma sociedade patriarcal e desigual socialmente. O gênero deve ser interpretado antes como uma construção política que busca legitimar essa estrutura, a partir de sua naturalização e de “atos performativos discursivamente compelidos”.
Por isso, o surgimento dos estudos queer enquanto negação dessa estrutura direciona-se no sentido de superá-la. A partir do pressuposto de que “são as experiências que constituem os sujeitos e não os sujeitos que têm experiências”, podemos estabelecer pessoas intersex e trans, por exemplo, como subversivas enquanto negação dessa configuração.
A reflexão imposta a partir de pessoas intersex nos coloca em situação de problematizar toda nossa compreensão de identidade no interior dos processos de normalização e controle social dos corpos. O nascimento de uma pessoa da qual não se possa determinar o sexo biológico recoloca o debate sobre o que é um corpo sexuado, assim como o que determina os atributos de homem e mulher. Esse paradoxo identitário não deve ser restringido ao discurso científico, nem tampouco ao filosófico, mas considerar como cada pessoa relaciona-se com sua intimidade enquanto ser sexuado.
Segundo Butler, a categoria queer pode ser entendida como aquela que questiona e subverte as noções padrões de sexualidade. Ela desconstrói e pluraliza as identidades de gênero. O corpo, mais do que um espaço a ser preenchido de significações culturais, deve ser interpretado como um interposto político.
A naturalização de identidades deve ser constantemente problematizada, assim como a reificação dos gêneros. A produção dos saberes que se pretendem científicos, passando pela psicanálise, sexologia, psiquiatria, biologia etc, direciona-se nesse sentido. Sem aprofundar-se na questão da performatividade desses saberes, a naturalização a que se submeteram os conceitos de homem/mulher nas ciências é sintoma de processos históricos e sociais com profundos efeitos.

A sociedade patriarcal em que vivemos normatiza comportamentos sociais de forma que atributos generalistas são considerados naturais em sua manifestação. Dessa forma, liga-se ao gênero feminino uma série de atributos referentes a maternidade, cuidados domiciliares. sensibilidade; enquanto ao gênero masculino associa-se os de virilidade, responsabilidades econômicas e atividade sexual. Essa última característica – atividade – é entendida como prioritária para uma construção social do gênero enquanto continuidade do sexo biológico. Apenas um homem ativo sexualmente é marcado pela masculinidade inerente a reificação do gênero. Da mesma forma, o ser passivo sexualmente não pode ser associado ao masculino, devido a uniformidade da coerência interna que a legitima.
A produção de uma verdade sobre o sexo tem a intenção de excluir o surgimento de multiplicidades e a diferença que deveria caracterizar qualquer manifestação de desejos. Quando se tenta impor um imperativo, ainda mais quando se trata da sexualidade – uma das principais formas em que o ser se concretiza socialmente -, impede-se que novos modos de ser emerjam.
Vivemos numa sociedade heteronormativa, onde a determinação congênita do sexo é mediada por discursos compulsórios de reconhecimento e exclusão. A ciência é permeada por preconceitos da razão reificada, e o gênero enquanto construção binária é um dos pilares dessa organização.
O conhecimento científico pode ajudar a decidir, mas são os ditames sociais e as crenças no gênero que definem o sexo(...) os protocolos médicos são atravessados por questões de gênero, sendo também misóginos, homofóbicos e heterossexistas. (p.157)
A postulação de como o corpo é sexuado inscreve-se nos estudos queer fora do âmbito da coerência interna do sujeito. O pressuposto cissexista de que o desejo sexual deve ser restrito ao corpo biológico é ignorado. O corpo deve ser entendido não como causa, mas como ocasião da realização do desejo. A descontinuidade é o princípio estruturador de identidade subversivas. A relação entre corporalidade e manifestação do desejo é colocada em novos termos, não-normativos, livres para romper a inteligibilidade estabelecida.
A lógica social que determina o modo de funcionamento da sexualidade deve ser constantemente questionado, pois eles não abarcam todos os sujeitos do desejo e excluem da vida social aqueles que buscam exercer o direito ao corpo, mas apenas subordinam-se ao modelos médicos-jurídicos, de modo a interditar novas formas de gozo que subvertem o binarismo.
Talvez a principal contribuição dos estudos queer seja a desconstrução do pressuposto da naturalidade heterossexual da manifestação do desejo. Teóricos como Gayle Rubin, por exemplo, acreditam que as s ubstâncias homem e mulher marcam os estudos de gênero de forma a desprezar as demais probabilidades do desejo. Para ele "antes da transformação de um masculino ou feminino biológicos em um homem ou mulher com traços de gênero, cada criança contém todas as possibilidades sexuais acessíveis à expressão humana" (p.112). Proposta endossada também por Freud, que tematiza a bissexualidade inerente à condição humana e depois barrada pela dimensão simbólica que possibilita que apenas a manifestação hetero do desejo sexual seja aceita.
Na verdade, a questão da continuidade dos gêneros inteligíveis nos remete para uma crítica à metafísica da substância, concepção de que há um eu causa do pensamento e, por assim dizer, do desejo enquanto manifestação do sexual. Essa tradição, cujo ápice é o Cogito de Descartes, está inserida na lógica da identidade substancial, essa crença desmedida na linguagem que afirma que existe um eu substancial de onde se derivam as características do sujeito - sendo o sexo, a estruturadora. Deve-se estabelecer esse idealismo como alvo de uma crítica incisiva à ontologia de gênero estabelecida nos marcos da heteronormatividade, com vistas a dessubstancializar os sujeitos.
Desnaturalizar essa unificação do eu corporificado significa questionar a coerência interna. A categoria de pessoa transposta na linguagem abre caminho para um conceito ontológico que estrutura a divisão dos seres em sexo. As substâncias, figuradas por homem e mulher, são entendidas como “coerência contigentemente criadas pela regulação de atributos”. Assim “o fato de que ‘ser’ um sexo ou um gênero é fundamentalmente impossível”. (Butler, p. 28)
Deve-se conceber essa categoria linguística do sexo como criada pela heteronormatividade que exige um eixo desejante e heterossexual. Devemos problematizar todas as categorias normativas, consideradas parte da ordenação compulsória de gêneros inteligíveis: “Quando não problematizados, as afirmações ‘ser’ mulher e ‘ser’ heterossexual serem sintomáticas dessa metafísica elas substâncias do gênero. Tanto no caso de ‘homens’ como no de ‘mulheres’, tal afirmação tende a subordinar a noção de gênero àquela de identidade, e a levar à conclusão de que uma pessoa é um gênero e o é em virtude do seu sexo, do seu sentimento psíquico de eu, e das diferentes expressões desse eu psíquico, a mais notável sendo a do desejo sexual” (p.32) .
De fato, a noção da metafísica da substância opõe-se ao sexo enquanto construção social, repetição de atos e estilização dos corpos. Ela tenta articular-se no espectro na pré-discursividade sexualizante que entende as identidades enquanto naturais, não como construtos. A inscrição do sexo anterior ao discurso tem como intuito excluir da possibilidade da existência das pessoas trans, intersex, assim como de todas pessoas que operam uma ruptura no interior da inteligibilidade. Por isso, para Butler, o recurso ao natural é sempre político.
Político ou biopolítico, levando em consideração que toda dominação social se direciona também a uma dominação dos corpos dos indivíduos. Dessa forma, a biopolítica encerra uma corporalidade normatizada, reconhecida social e juridicamente e que concede uma identidade ao sujeito: o ser que concretiza a coerência entre eu desejante e práticas sociais.
A partir disso, a distinção que pode ser realizada entre interno/externo, a descontinuidade do desejo, a imagem do corpo enquanto espaço a ser significado, nos remete ao caso de Herculine, uma jovem intersex francesa que se suicidou. Ela escreveu um diário sobre suas experiências e as descobertas que essa característica lhe proporcionou. Esse diário foi analisado por Foucault para problematizar a inscrição do sexual no discurso.
O caso de Herculine sugere uma “crítica genealógica das categorias reificadas de sexo”, assim como preconizava Foucault. O hermafroditismo desestrutura as relações binárias de sexo e gênero, impossibilitando a construção de um discurso médico-jurídico da heterossexualidade naturalizada, pois “Herculine não é uma ‘identidade’, mas a impossibilidade sexual de uma identidade. (...)As convenções linguísticas que produzem eus com características de gênero inteligíveis encontram seu limite em Herculine, precisamente por que ela/ele ocasiona uma convergência e desorganização das regras que governam sexo/gênero/desejo”( p.34)
Dessa forma, podemos entender, no escopo dessa interpretação, que identidades subversivas como intersex e trans escapam da forma representativa preconizada pela ontologia de gênero derivada da metafísica da substância. Assim como a representação no âmbito binário de homem e mulher devem ser constantemente problematizadas e colocada num sistema inteligível de expressões de gênero enquanto suposta causa de uma identidade substancial. Nietzsche já preconizava de que “não há ser por trás do fazer, do realizar e do tornar-se”. Portanto, resta reconhecer as mais diversas formas realizar-se enquanto tal, tendo em vista que há um alto preço para se tornar um eu.
No interior das experiências sociais, o processo de reconhecimento é um dos mais conflituosos. Cada tempo histórico possui uma determinada configuração social, que se reflete nas relações de poder e nas formas jurídicas estabelecidas. Nossa legislação atual tenta estabelecer, fundamentada num discurso científico, os sujeitos de representação e de direitos.
Dessa forma, ocorre a produção de determinadas formas de se ser reconhecido e a consequente exclusão daqueles que não se encaixam. Com a sexualidade, a produção desse discurso obedeceu a um dispositivo que se estruturou em torno do que deveria ser permitido ou proibido, atendendo a conjuntura do poder e
as grandes estratégias de saber (p.117). Nesse caso, há um discurso sobre o quê deve ser considerado como um gênero. A medicina tornou a possibilidade da manifestação do desejo numa forma de binarismo, onde homem e mulher são as únicas possibilidades possíveis.
Logo, tudo que emperra essa reprodutibilidade é entendido como nocivo e surge a necessidade de transformar-se num sujeito do reconhecimento. Cada período histórico possui seus sujeitos que buscam algum tipo de reconhecimento, seja pessoal, seja social.Nosso tempo demanda novos tipos de reconhecimento, como por exemplo, os relacionados aos diversos gêneros, que se sentem sub-representados nos diversos meios em que circula uma ideia do que eles deveriam ser de fato.
Por isso que, em seu “Problemas de gênero”, Judith Butler retoma uma tradição que questiona os ditos gêneros inteligíveis, numa perspectiva de problematização da chamada coerência interna e continuidade entre sexo, gênero, desejo e práticas sexuais.
As formas constituídas de poder estabelecem uma regulação sobre como devem manifestar-se os desejos dos indivíduos, e excluem como irrepresentável tudo que escapa a esse dispositivo. Aqui, pretende-se expandir o que é reconhecido como humano e sujeito de representação.
A teoria do reconhecimento recoloca em debate quais os parâmetro que devem ser levados em conta quando se trata de sociabilidade.
A subversão que os sujeitos queer operam no sistema inteligível de compreender a sexualidade humana nos leva a questionar como o poder produz normatizações – exclui subjetividades – e maneja o aparato jurídico, negando direitos civis básicos.
Somente uma política queer capaz de questionar no real essa brutalidade impositiva e reguladora de corpos conseguirá ressignificar o modo como a subjetividade é produzida.
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vagnerrg_ 02/05/2022

Política e linguagem numa avaliação psicanalítica
BUTLER, Judith. [1990]. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Civilização Brasileira, 2021.

Nesse livro Butler discorre sobre sua perspectiva de que o sexo não limita o gênero, pois o gênero é uma forma culturalmente estabelecida de interpretar um corpo sexuado, não sendo limitado à aparente dualidade dos sexos. ?Gênero? não é um marcador cultural estático, embora venha sendo historicamente considerado assim.

Segundo Butler, ?o gênero seria uma espécie de ação cultural/corporal que exige um novo vocabulário, o qual institui e faz com que proliferem particípios de vários tipos, categorias ressignificáveis e expansíveis que resistem tanto às restrições gramaticais substantivadoras que pesam sobre o gênero?. É nesse movimento que Butler elenca muitas indagações ao estruturalismo e à psicanálise, estabelecendo o que ela considera problemático entre o que havia sido discutido no contexto do livro (anos 1990).

Esse livro me fez entender um pouco mais sobre as questões políticas que determinam os problemas de gênero, agora com um pouco mais de recursos teóricos, que os dilemas contemporâneos sobre uma crise da linguagem também incidem de forma filosófica e gramatical nas crises de identidade. Apesar de ter mais de 30 anos desde sua primeira publicação, é um livro muito atual, isso porque os problemas apontados por ela ainda estão bem distantes de serem superados, o que implica também na necessidade de expandir o debate proposto.

Butler me ajudou a voltar aos problemas de uma visão de mundo que se propõe epistemológica, me alertando, de forma complementar a outras filósofas feministas, sobre a importância de uma visão mais plural, que considera tanto os problemas da ordem do mundo do agir quanto às questões de ordem analítica. Os problemas de gênero são também problemas políticos e problemas de uma filosofia da linguagem.

Fica aí a dica de leitura. É um excelente livro.
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Adriana Scarpin 15/08/2015

Clássico fundador da teoria queer que coloca o gênero como performance, está dividido em três capítulos maiores que por sua vez estão divididos em sessões:
Capítulo 1- Sujeitos do sexo/gênero objeto: onde consta um apanhado geral do gênero segundo a história e teoria feminista.
Capítulo 2- Proibição, psicanálise e produção da matriz sexual: onde consta o gênero a partir de conceitos psicanalíticos a partir de Sigmund Freud, Jacques Lacan e Joan Riviere.
Capítulo 3- Atos corporais subversivos: capítulo em que aborda o pensamento vigente subvertido pelas releituras de Julia Kristteva, Michel Foucault e Monique Wittig que são os princípais teóricos que Butler se apoia para a construção da teoria queer perfazendo seus passos com um texto crítico a cada um deles e encerrando com uma conclusão que os digere.
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mayaraliye 14/01/2021

Judith, te venero!
É um desafio falar de forma resumida sobre este livro, primeiro que eu leio da Butler, autora bastante importante dentro dos estudos sobre gênero e sexualidade. A experiência de lê-lo, pois, não poderia ser outra: me foi profundamente marcante, ao dialogar com algumas das verdades e perguntas que carrego comigo, especialmente no que concerne a minha experiência como mulher feminista. Eu gosto do panorama teórico construído pela Butler, pois ele oferece um olhar crítico que me é interessante para as estruturas sociais produtoras de opressões às mulheres e às pessoas LGBTQIA+, além de permitir ações que considero possíveis de se concretizarem contra essas violências. Ao posicionar o gênero como uma categoria descritiva construída socialmente como determinante da identidade de cada pessoa para que ela possa existir, Butler consegue, ao meu ver, expor bem a arbitrariedade existente na divisão das pessoas em homem/mulher, binário que só alcança o status de verdade inquestionável por estar alinhado ao que ela denomina "heterossexualidade compulsória". Logo, Butler propõe, ao fim, como fundamental a legitimação da existência das identidades subversivas (em que sexo, genêro e sexualidade não correspondem ao alinhamento normativo) validando-as como tão possíveis quanto as identidades normativas (a do homem e da mulher heterossexuais). Além disso, por meio desse movimento, segundo ela, tornaria-se possível a denúncia gradativa do caráter performativo do gênero (concretizado por meio de ações repetidas que constroem a ilusão de estabilidade do gênero), em lugar da compreensão de que os gêneros são estáveis e definidores das subjetividades humanas. Este livro sem dúvidas se tornou um dos meus queridinhos, que guardarei junto a minha cabeceira para que eu possa consultar sempre que precisar (pois o livro é denso e aborda muitas outras questões bem importantes dentro dessa temática).
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Julio.Gieseler 03/02/2024

Problemas de Gênero de Judith Butler é uma obra seminal que desafia conceitos tradicionais de identidade e gênero. Butler questiona as normas sociais ao explorar a performatividade de gênero, influenciando profundamente os estudos feministas e queer. Sua escrita provocativa e perspicaz continua a ser uma leitura essencial.
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Baconzitas 18/01/2022

Muito difícil!
Dei essa nota não pelo livro ser ruim, mas porque devo ter entendido no máximo 30% do que ele fala e olhe lá
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Jam 12/12/2020

Denso
Na moral, que livro difícil de ler! Por mais que no final (aos 45 do segundo tempo) Butler fale sobre sua teoria da performatividade do gênero, que é uma sacada foda, a escrita dela nesse livro é extremamente difícil e maçante, com MUITAS referências a diversos autores e à psicanálise. Pra entender algumas coisas, tive de pedir um help pra uma amiga psicanalista haha
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Camila 10/02/2021

O terror das radfem
Literalmente sem fôlego depois de ler esse livro. Bastante denso e extremamente complexo em algumas passagens, muitas vezes me via precisando voltar em algumas argumentações pra tentar seguir a linha de pensamento da autora - e ainda assim não sei se fui bem sucedida sempre kkkk....
Butler é genial, foda, destemida e colocadora de dedos nas respectivas feridas. Com um embasamento invejável e conhecimento aprofundado de diversas(os) autoras(es) e teorias, destrinchadas profundamente em cada capítulo do livro, Butler não tem medo de discordar de suas referências e defender as suas próprias ideias de forma bastante coerente.
A autora é incisiva quando expõe a desnaturalidade das categorias de sexo e gênero, ao passo em que questiona a própria pré discursividade do sexo, muitas vezes proclamada de forma progressista. Nada é natural, nada é fixo. Tudo é construído e tudo é passível de ação. Butler massacra (com razão) todas as explicações binárias e fala de construções (e reconstruções) que extrapolam o dualismo entre livre arbítrio e determinismo.
Gênero não é substantivo, mas verbo. Um eterno fazer-se de repetições performativas cuja naturalidade é puramente ilusória. É absolutamente incrível que a proposta subversiva da Judith Butler esteja justamente em romper com essas categorias não através da sua negação ou rememoração de um passado desconhecido - como muitas teorias feministas pregam -, mas justamente na extrapolação destas a partir do seu interior.
Performar o inatural até expor as suas contradições e romper com a lógica repressiva linear triádica composta por sexo - gênero - sexualidade. É isso. A subversão está na inconsistência. Mas nem de longe vou conseguir contemplar todo esse livro numa resenha.
Dora52 28/04/2023minha estante
você resumiu muito bemm




Paulinha 31/03/2024

Muito bom
É um livro incrível, destrói o binarismo e mostra o óbvio, tentar mudar mantendo as edificações dessa sociedade machista, patriarcal e capitalista não vai mudar nada. Precisamos destruir tudo e criar uma nova política sem a influência do binarismo.
A leitura é bem difícil, densa, pouco pedagógica, com muuuita teoria.
Mas vale super a pena
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Safo from Lesbos 24/03/2022

Difícil, porque o assunto é muito complexo....
Em vários momentos eu tive que largar ele um pouco, ler outras coisas pra respirar e voltar, a linguagem é verdadeiramente difícil, mas nada que um dicionário do lado não resolva, a questão da dificuldade não é a linguagem em si, mas a complexidade do assunto.
Ela comenta os escritos de muitos autores, que se opõem ou se acrescentam, isso enriquece muito o livre e te dá mais muitas possibilidades de leitura.
O que mais deixou a minha cabeça ? com tudo que eu li é: o que, de tudo que eu penso e sinto é meu?
Não desista da leitura, essa é a dica!
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Júpiter.69 11/07/2022

NECESSÁRIO!!!
Judith Butler e seu livro "problemas de gênero" e extremamente necessários para se entender a questão de gênero em seus conceitos e construção em uma sociedade extremamente hetero normativa e homofóbica.

Recomendo a leitura.

Com amor, Júpiter. ?
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Vivi de Assis 20/09/2022

Excelente e fundamental, porém de linguagem muito academicista
Uma leitura bem difícil, não pelo vocabulário, mas sim pela escrita um tanto quanto exageradamente complexa e tortuosa. A autora fica indo e voltando, dando várias voltas em alguns conceitos, de modo que fica um pouco repetitiva em alguns momentos. Muitas vezes, é necessário voltar várias vezes e ler novamente para conseguir entender o que a autora quis dizer. O assunto é muito bem destrinchado, mas poderia ser muito melhor aproveitado se o texto não fosse tão academicista. Se para mim, que já estou em nível de especialização, está sendo difícil de entender, imagino que, para alguém de fora da academia, esse livro é quase totalmente incompreensível. O que é uma pena, porque o assunto é demasiadamente importante e a autora é brilhante em relação à ele. Se ela escrevesse de modo que mais pessoas conseguissem entender, seria perfeita.
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jujuwithbooks0 07/07/2024

Livro muito esclarecedor sobre posições de gênero e as relações que nós subvertem até ele. Recomendo a leitura de alguns autores antes desse livro já que em alguns capítulos a autora debate com eles. Muitas vezes me senti perdida com as palavras também, não é uma leitura muito fácil de ser feita, recomendaria tb acompanhar outras pessoas lendo para debate pro melhor aproveitamento da obra.
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