spoiler visualizarNathalia 05/05/2024
Clara, blanca y alba
Precisei de uma noite de sono pra botar as ideias em ordem e vir falar desse livro (e acabei lendo outro livro).
Tô tentando lembrar se eu já li algum livro de um país latino (com exceção do Brasil), mas acho que não (que vergonha). É bom ler sobre algo que é semelhante a vivência do nosso país - ao mesmo tempo que é uma merda perceber algumas dessas semelhanças.
Sendo sincera, eu comecei esse livro bem animada pra assistir o filme, por que tem um elenco bem interessante, mas o elenco estado-unidense e a produção dinamarquesa (?) me desanimou e depois lendo a página dele na wikipedia eu resolvi não passar raiva.
Sobre o livro: ele é perfeito?
Não.
Eu odeio ler livros devagar e demorei uns bons 10/12 dias pra conseguir ler esse livro. Os capítulos são GIGANTES (saudades da nossa boa e velha literatura de folhetim que nos presenteia com capítulos de no máximo 5 páginas), e o ritmo da história foi muito estranho pra mim. Sabe os começos dos livros da Jane Austen, que ela vai passando tipo por um prólogo, contando a história meio por cima antes de entrar de fato na narrativa, onde a gente para pra escutar os pensamentos dos personagens e acompanhar tudo de fato? Eu senti que esse livro inteiro é contado assim. Entendo que seja porque, de fato é isso, dentro da história: a Alba narrando a história a partir dos cadernos da avó, mas mesmo assim, acho que esse estilo de narrativa me encheu o saco e até me distanciou da história em alguns momentos.
Ao mesmo tempo acho que esse livro foi muito longo e muito curto, foi estranho porque o estilo me fez sentir que tudo tava muito en passant, ao passo que nunca parecia que esse livro nunca ia acabar. Nem sei explicar direito o que rolou.
Fiquei me perguntando quem era o protagonista e também não encontrei resposta - pensei que poderia ser a casa (já que tá no título), mas não achei que ela tem tamanha importância na história, assim como os espíritos. Clara e Blanca me incomodaram pela falta de agência em muitos momentos - principalmente a Blanca (PU-TA QUE PA-RIU, cê tem a chance de ficar com o amor da sua vida, ele tem dinheiro pra te sustentar, ele te ama, você ama ele e tipo eu realmente não entendi porque não - tudo bem que no final da tudo certo?) - as duas são bem pouco desenvolvidas pra mim. A vida da Clara era mexer com os rolês de espiritualismo e o que a gente sabe sobre isso de fato, o livro só menciona a mesa de três pés, mas nunca se aprofunda nesse interesse, cita que ela toca o piano com ele fecha e larga só nisso dai, ah eu hein.
Vou ser obrigada a admitir que eu achei que o livro deu uma baita guinada com a morte da Clara.
Até porque é o momento em que o livro inteiro borbulha e transborda. As histórias que estavam seguindo distantes convergem: Jaime, Alba, Blanca, Pedro Tercero, Amanda, Miguel, Esteban Trueba e Esteban García (o póbi do Nicolas completamente esquecido no churrasco e pelado acima de tudo).
E aqui eu começo a falar do que é bom no livro, e o que é bom é muito bom.
A história por si só (sem pensar em como ela é contada) é brilhante. De verdade. É muito rica e é muito latina, acho que todos os países latino-americanos tem com o que se identificar: conflitos de classes, machismo, violência, justiça, religião, política. E é muito bem construída, eu adoro como as imagens vem voltando de tempos em tempos, me dá um ar novelesco de alguma: Blanca e Pedro Terceiro dormindo embaixo da mesa e voltando a dormir na mesma posição na beira do rio, Barrabás no começo, Barrabás na noite de núpcias, Barrabás no final, Miguel se escondendo na guarda-roupa no nascimento da Alba e depois vindo se apaixonar por ela, o Esteban García sendo um nojento de tempo em tempos também. E ainda, a ideia do narrador que sabe o que vai acontecer e dá spoilers - sempre acho um máximo.
Também vou admitir que eu gostei muito da narrativa ser dividida na terceira pessoa (que na verdade é a Alba) e a primeira pessoa que é o Esteban. Entre todas as relações do livro, a que mais me interessou foi a do Esteban (Trueba hein pelo amor de deus) com a Alba. Onde a gente entende que sim, ele é um ser humano desprezível, um estuprador e batedor de mulher que não merece admiração, mas também é o avô de alguém e essa pessoa consegue encontrar o bem dentro dele e se agarra nisso, porque ele é a família dela - e as pessoas não são placas maniqueístas, mas coisas muito muito complexas.
De longe, a cena que eu mais gostei e aquilo que mais vai ficar na minha cabeça de tudo isso é o conto do Jaime: o gêmeo apaixonado pela namorada do irmão que se vê obrigado a fazer um aborto nela, e depois ainda a encontra dependente e salva a vida dela das drogas, só pra ela se apaixonar por ele no momento que ele sabe que não vai dar mais, que a hora deles passou. E ele morre. Ele é morto, mesmo quando o que pregava era o pacifismo e tudo o que ele fez durante a vida foi se dedicar ao cuidado aos necessitados. Morre da maneira mais vexatória possível. Ai gente o tanto que eu chorei lendo o final do Jaime não está escrito que coisa dolorosa.
Também chorei durante as torturas da Alba, mas foi um choro diferente. De ódio, sinceramente. Parabéns aí pra dona Isabel por fazer a gente sentir ódio de alguém com tão poucas cenas hein.
Em suma: O livro pela história é bom demais, mas a experiência de leitura me fez passar umas raivas.