Tina 13/10/2024
Utópico e demagógico
Começo dizendo que esta foi a pior leitura que fiz no ano de 2024. Na verdade, ela entrou na minha lista somente no início de outubro, quando começaram as aulas da disciplina de Reflexões Contemporâneas em Docência que estou cursando no mestrado da UNIFESP; logo, não pretendia lê-lo. Mas dado o fato de que foi uma estratégia de ensino da disciplina, fiz a leitura e agora posso dar meu parecer, me apropriando desse direito pois agora tenho conhecimento do que nele está escrito.
Sempre se disse por aí que "Paulo freire é ruim" e eu nunca entendi o porquê. Por mais que alguém nos diga, precisamos compreender por nós mesmos, pois de nada adianta criticar sem ter lido a obra (hipocrisia, certo?). O fato é que sim, agora eu entendo e concordo com quem diz que Paulo Freire é ruim. É demagógico, ideológico, político, utópico, reacionário em um tópico que não deve ser nada disso: a educação das pessoas, sejam elas crianças, jovens ou adultos.
O engraçado é que as suas ideias não são ruins, pelo contrário. Existem muitas passagens boas, com as quais eu concordo: a incompletude do ser humano, a curiosidade que deve permear nossa vida para nos alçar à frente, o aprender a aprender, a troca que acontece entre professor e aluno (um aprende com o outro) e o fato de que o professor não é o ser onipotente que sabe de tudo e que não deve ser questionado. Entretanto, todos esses tópicos são descritos com reflexões e mais reflexões que levam sempre ao lado político e não-neutro (tão defendido por ele) que dão ojeriza. Ele, inclusive, menciona várias vezes a reforma agrária como algo indispensável à sociedade, pensando utopicamente que isso algum dia funcionaria em qualquer país no mundo, que não um governado por um ditador de extrema-esquerda. Extrema-esquerda que até mesmo o autor condena, Vai entender.
Discordo veementemente de que o professor deve ser não-neutro. Não quero saber em quem meus professores vão votar, se são de esquerda ou de direita, se defendem ou não a reforma agrária, as políticas públicas A ou B; eu quero é aprender o que eu preciso saber para a vida. A parte política eu me encarrego de aprender vivendo na sociedade, com minha família e meus amigos, e formo minha própria opinião quando tiver bases para isso, sem ter sido doutrinada em sala de aula. Sempre tive um respeito enorme pelos meus professores, do colégio à graduação, e nunca deixei de aprender ou fui prejudicada porque algum professor não se mostrou político militante em sala de aula, como o autor acredita ser.
Tenho orgulho de ter me graduado na melhor universidade federal do país (a UFRGS) sem jamais ter passado por qualquer professor demagogo e não-neutro. É por isso que ela é a melhor do país. O mesmo já não posso dizer da UNIFESP, onde faço minha pós-graduação. São Paulo realmente é peculiar nesse aspecto.
Professor precisa ser uma figura que impõe respeito, mas que dialoga com os alunos e que está em constante reciclagem e atualização. Que serve de inspiração, e que não precisa de nenhuma ideologia para formar bons cidadãos. Ponto final.