R...... 05/01/2019
Edição de Fevereiro de 2005
No "Infográfico", a festa canibal, mostrando o costume dos tupinambás para prisioneiros de guerra, que dava numa festança com churrasco, mingau e ostentações de poder. Ô louco, meu! Ritual horrendo, com coisas como: o infeliz da vez tendo que declarar "aqui chegou sua comida", sendo morto numa cacetava que espirrava miolos e tendo os lábios transformados em pulseira para o carrasco, numa moda surreal. Todos conheciam e costumavam seguir fielmente o protocolo (incluindo 'a refeição') e estudiosos dizem que a palavra 'mingau' teria vindo desses ritos, no cozimento das vísceras do desinfeliz (quitute apreciado).
O "Dito e Feito" trouxe suposta origem do ditado "quem cala consente". Não vou me ater a nomes, mas teria surgido no século 13, na disputa pelo poder entre certo rei e papa, quando o primeiro mandou executar o segundo (um desafeto que o contrariava), e com a morte papal, não houve mais querela sobre suas decisões.
Entre as "Notas Históricas", achei curiosa a origem do banho de mar entre cariocas. Não era costume e até mal visto, já que as praias eram lugares associados a despejo de corpos e toneis de m#$&@ pelos escravos. Em 1810 o D. João estava com as pernas perebentas por ataque de carrapatos e, por recomendação médica, foi encorajado a mergulha-las na água do mar. O monarca foi, mas dentro de um barril em que entrava só um pouco de agua, o suficiente para alcançar as canelas... Banho nem pensar, né! Seja como for, a moda foi pegando e conquistando cada vez mais adeptos entre os compatriotas de "finos costumes europeus"...
A reportagem de capa trouxe Átila, o huno. Em destaque, a selvageria praticada como intimidação para as conquistas. A exemplo de Alexandre, seu império cresceu rapidamente, ruindo também na mesma velocidade quando morreu. E a exemplo de Aníbal, esteve também às portas de Roma, para conquista-la, mas desistiu na hora H (talvez por conta de suas tropas estarem exauridas por intensas batalhas, como aconteceu com o cartaginês também, mas outras razões são possíveis e especuladas na reportagem...).
"Os sete mitos da conquista da América". No que foi apresentado, o mais curioso é que o embate entre Cortez e Montezuma não representou, essencialmente, um confronto de europeus e astecas. Segundo o texto, o cenário era de muita rivalidade entre os povos americanos (civilizações pré-colombianas) e Cortez aproveitou a situação para reunir tropas com nativos inimigos dos astecas e Montezuma.
"O mundo por um fio" abordou a Guerra Fria, descrevendo momentos de maior tensão. Certamente o mais conhecido e acirrado foi a crise dos mísseis russos em Cuba, no ano de 1962 (e o crápula do Fidel, hein! desejando a guerra...), mas o que achei mais curioso foi o ocorrido em 1983, onde a intuição acertada de um militar russo evitou o que poderia ter sido interpretado como ataque de mísseis e início da guerra nuclear. Pagou um preço, porém, valeu demais sua perspicácia para a história contemporânea.
"Nos campos da seca" é o melhor da edição (na minha leitura), expondo a terrível seca de 1915 no Ceará, quando foram criados campos para retirantes, 'curral de flagelados' (literalmente chamados de campos de concentração), numa tentativa repressora do governo de impedir que chegassem à capital (isso lembra algo na atualidade..). Por lá eram mantidos e vigiados por militares, sem muita eficiência em assistência social. Quase 140 morriam por dia e a reportagem também mostra a realidade em uma seca mais antiga, de 1877, quando as mortes chegavam a 400 diariamente.
Dá para acreditar que uma das soluções foi enviá-los para a guerra como soldados...
Fiquei também motivado para a leitura de "O Quinze", de Rachel de Queiroz, que foi citado com trama nesse contexto (seca de 1915).
Finalizo com versos impactantes registrados em uma das imagens (chocantes) que ilustram a matéria. Não sei quem foi o autor, se foram escritos na época, mas expressando de maneira visceral o contexto abordado. Está na foto antiquíssima de uma mulher nua, sentada, com o corpo famélico, destruído pelos horrores da seca:
"Tenho fome! tanta fome
Que já não me posso erguer!
Miséria, que me consome
Faze que eu possa morrer!"