jota 03/12/2022BOM: aqui o suspense psicológico encobre a verdadeira trama, uma rebelião de escravos num navio negreiro comandado por CerenoLido entre 22 de novembro e 02 de dezembro de 2022
Procurando informações sobre Benito Cereno (1855), principalmente se essa novela de Herman Melville (1819-1891) havia sido adaptada para o cinema alguma vez, descobri que sim. Do mesmo modo que outras duas novelas suas também ganharam as telas, Billy Bud (publicado postumamente em 1924) e Bartleby, o Escrivão (1853). Isso sem contar as diversas adaptações de Moby Dick (1851), sua obra mais conhecida. Foi em 1969, numa produção francesa e curiosamente o diretor brasileiro Ruy Guerra (embora nascido em Moçambique) fez o papel principal, de Benito Cereno. Infelizmente o filme, muito bem avaliado no IMDb nesta data (8,0/10), é difícil de ser encontrado. O outro personagem importante da história é Amasa Delano (1763-1823), que registrou o episódio, depois ficcionado por Melville, em suas memórias publicadas em 1817. Delano foi um ancestral direto do presidente Franklin Delano Roosevelt.
Aqui temos a maior parte do tempo o embate psicológico entre o espanhol Benito Cereno e o americano Amasa Delano, ambos homens do mar, numa situação passada no sul do Chile no ano de 1799, em que as coisas não são exatamente o que parecem ser. Melhor, não são o que Cereno diz ser, o que o faz cair constantemente em contradição, porque não pode revelar o que realmente aconteceu com o navio negreiro então sob seu comando. E isso confunde Delano, que coloca em oposição sua consciência e sua intuição – a intuição de que há algo seriamente errado no San Dominick, a nave de Cereno, que ele tenta ajudar porque nela falta água e comida. Não apenas isso...
Somente no final do livro, através de vários documentos, tomamos conhecimento do que realmente se passou com Cereno, os tripulantes e passageiros do navio e os escravos africanos e como a coisa toda terminou – num tribunal americano. Benito Cereno não me pareceu ser uma história lá muito agradável de ser lida – não apenas porque conta um episódio dramático envolvendo escravidão –, por vezes me pareceu um tanto confusa, mas penso que era exatamente isso que Melville queria transmitir ao leitor, a confusão que se passava na cabeça de Delano frente à narrativa de Cereno e o comportamento de Babo, o africano. Bem, de volta ao início, outra coisa curiosa que encontrei sobre o livro foi que Melville foi acusado de escrever Benito Cereno para incentivar a revolta dos negros no sul dos EUA contra os brancos. Grande bobagem, claro.