Duda 10/03/2021
O livro mostra a qualidade que um cientista precisa ter
Viagem ao Centro da Terra é fruto da época da primeira Revolução Industrial, influenciada pelo Iluminismo. Portanto, Júlio Verne, o autor, está preocupado em valorizar “o didatismo e a vulgarização científica”, como diz Carla Renard, tradutora do livro pela editora Martin Claret. Por isso, o livro é recheado de diálogos muito técnicos entre os personagens principais, o geólogo e professor de mineralogia Otto Lidenbrock e seu sobrinho Axel, dupla que adentra milhares de quilômetros abaixo do nível do mar, pelo vulcão islandês Sneffels.
Por fazer parte desse período de culto à ciência, o livro contém descrições muitas vezes longas, elaboradas sobre geologia, física, química, matemática entre outras matérias. Há citações a nomes reais de químicos e anatomistas como Humphry e Cuvier. Por isso, muitos trechos do livro podem ser enfadonhos, de difícil compreensão, por mais que o autor se preocupasse em fazer com que os ensinamentos fossem transmitidos de forma simples.
Apesar desses momentos intragáveis, principalmente para quem é totalmente leigo no assunto de mineralogia e geologia, o autor consegue fazer uma narrativa que aguça a criatividade, a curiosidade e consegue manter o interesse do leitor até o fim. Júlio Verne tem o seu mérito de bom escritor. Era leitor e literato voraz. Escreveu 62 romances e 18 novelas. Contém influência da literatura fantástica de Allan Poe e Theodor Hoffmann. É considerado criador do gênero literário intitulado como romance geográfico e científico.
Por tanto, a história é uma grande aventura, bem escrita, imaginativa. Também inspiradora. Ela demonstra o vigor e a sagacidade de um cientista, através do professor Lidenbrock. Por alguns momentos esse personagem poderia se assemelhar com Capitão Ahab de Moby Dick por causa de sua busca desenfreada, cega e obstinada em alcançar um alvo que parecia impossível e que levaria à fatalidade. Mas, Ahab era movido pelo ódio e desejo de saciar sua vingança. Otto Lidenbrock era apaixonado pela verdade, queria a glória daqueles que contribuíram para o avanço da humanidade.
Diante de todos os desafios, oposições, risco iminente de morte, o geólogo não desistia. Por várias vezes, durante as aventuras, superou as objeções de seu sobrinho Axel. Em um momento em que o jovem perdeu toda esperança de salvação, perguntou se Otto ainda continha esperança. O garoto recebeu essa resposta: “Enquanto o coração bater, a carne palpitar, não admito que um ser dotado de vontade abra caminho ao desespero” (p. 301).
O jovem Axel admirou-se da firmeza do seu tio. Refletiu, diante disso, que para alguém dizer alquilo, sob aquelas circunstâncias, “tinha certamente um carácter incomum”. Claro que Lidenbrock é um figurão central de uma grande epopeia, que poderia estar acima da média dos outros pesquisadores. Mas, sem dúvidas, essa narrativa revela os traços que todo cientista precisa ter e eles se encontram em Otto Lidenbrock, principalmente em sua ânsia sagaz pela descoberta.
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