Asakov 15/10/2024
"Uma chance em mil ainda era uma chance."
A obra literária "Viagem ao Centro da Terra", do renomado Jules Verne, narra a jornada da qual participaram o professor Lidenbrock, o guia islandês Hans e Axel — sobrinho de Otto Lidenbrock e o próprio narrador da aventura. Juntos, decidem mergulhar nas profundezas do vulcão glacial Sneffels, almejando alcançar o centro da Terra "previsto" pelo alquimista quinhentista Arne Saknussemm.
O professor Lidenbrock, um mestre da geologia e da mineralogia, poliglota e dominador de outros saberes, é excêntrico. Apesar de sua genialidade, não se encaixa na categoria dos intelectuais que pregam que "a pressa é inimiga da perfeição". Na verdade, durante seu curso, ele ensina mais a si do que aos estudantes, pouco se importa com a assiduidade de seus alunos e é frequentemente assistido para fomentar a diversão zombeteira de terceiros, uma vez que Lidenbrock trava perante palavras difíceis ou longas — o que o faz praguejar e ser ridicularizado por isso. Como dito anteriormente, a paciência é um traço que destoa de sua personalidade; para conceder uma ideia a futuros leitores, cabe mencionar que Lidenbrock, quando plantou determinadas plantas em sua propriedade, tinha a mania de puxar os membros das plantas diariamente para tentar acelerar seu crescimento. Ele também é temido por Axel, seu hesitante sobrinho, e Marthe, a empregada.
Axel, por outro lado, é um jovem de cerca de 19 anos. É entusiasta da mineralogia e da geologia, cultiva seus interesses com a inteligente e destemida Graüben, sua amada, e é o tipo de pessoa que prefere não sair de sua zona de conforto. É notável que Júlio Verne conseguiu transmitir bem a essência jovial de Axel, o que é perceptível em seu senso de humor. Inegavelmente, este é um livro que te faz rir, e Axel está nesses momentos de frutíferas gargalhadas.
Eis os trechos de algumas das cenas mais engraçadas dessa aventura:
"— Por quê? Por quê? Como vou saber? Galileu não agiu dessa forma com Saturno? Aliás, é o que veremos; descobrirei o segredo desse documento, e não vou comer nem dormir enquanto não o adivinhar.
'Nossa!', pensei.
— Você também não, Axel — continuou.
'Raios!', pensei. 'Felizmente, jantei por dois!'"
"À nossa esquerda, vimos uma imensa construção que parecia um hospital.
— É um hospício — disse um de nossos companheiros de viagem.
'Bem', pensei, 'está aí um estabelecimento onde talvez passemos o fim de nossos dias! E, por maior que seja, ainda seria pequeno demais para conter toda a loucura do professor Lidenbrock!'"
"Essa parte da conversa ocorreu em latim. Entendi tudo, e fiz um esforço para manter a seriedade ao ver meu tio conter sua satisfação, que transbordava por toda parte, assumindo um ar de inocência que parecia a careta de um velho diabo."
"Eu não conseguia deixar de sorrir ao vê-lo tão alto sobre seu pequeno cavalo, e, como suas longas pernas roçavam o chão, ele parecia um centauro de seis pernas."
Bem, Axel é uma pessoa oscilante. Ele pode se mostrar incrivelmente entusiasmado em um momento, mas terrivelmente desolado no outro. Isso acontece em situações que ocorrem fora de sua zona de conforto, aparentemente. Ele é um pouco manipulável também.
Apesar de ser alguém irascível, Lidenbrock realmente se importa com Axel. Em sua jornada, Otto Lidenbrock guarda os últimos goles de água para seu sobrinho, que estava marchando rumo ao óbito, e se mostra sentimental perante o sofrimento físico do jovem.
A principal característica de Hans é, sem dúvida, sua lealdade e sua sabedoria empírica. Em um certo momento, Axel, alterado, questiona se ele não tem amor à própria vida.
Ademais, recomendo-lhes a seguinte coisa: tenham um dicionário ou um celular ao seu lado. "Viagem ao Centro da Terra" conta com diversos termos que a maioria da população desconhece, e, no que diz respeito à montagem do cenário em sua imaginação, esse desconhecimento pode ser um óbice considerável. Em sua maioria, esses termos possuem relação com a paisagem, apresentam um teor geológico e mineralógico, se não me engano.
É válido mencionar que o uso desses termos e as teorias formuladas por Lidenbrock para fundamentar a desconstrução das teorias científicas vigentes à época (referentes às condições no interior do planeta, por exemplo) demonstram um grau considerável de pesquisa por parte do autor. Pesquisas superficiais a respeito de sua vida bastam para encontrar informações acerca das raízes de sua alma aventureira, a qual foi fortalecida em seus primeiros anos de vida, quando Verne morava perto de um porto e nutria certo fascínio pelos mares, pela ideia de desbravar o mundo e de caminhar sobre o solo de terras distantes. Aparentemente, inclusive, em meados de 1839 (quando tinha cerca de 11 anos), ele tentou viajar para encontrar sua prima e entregar-lhe um colar de diamantes. Jules teria prometido ao pai, que o interceptou, que "viajaria apenas nos sonhos".
Também devo mencionar que o momento em que aqueles enormes animais marinhos aparecem e o fato de que os três estavam à deriva em um mar desconhecido são perfeitamente capazes de despertar certos níveis de megalofobia e de talassofobia.
Li esse livro no ano passado, em 2023, então a presente crítica é baseada em lembranças.
É uma aventura que ainda rende risadas. Ainda consigo me lembrar das expressões de Lidenbrock, do silêncio e da lealdade de Hans, do cenário incrível e assustador encontrado no interior da Terra, dos pensamentos vingativos e engraçados que povoaram a mente de Axel quando seu tio estava passando mal durante uma viagem marítima, etc. Lembro-me do entusiasmo e da bravura de Graüben, dos impagáveis acontecimentos que sucederam a "expulsão" dos três das entranhas da Terra, da pureza de Axel (sim, de certa forma, Axel parece ser uma pessoa pura, como se uma parcela mental ainda conservasse a infantilidade), etc.
Para quem gosta de relacionar livros a pinturas — e vice-versa —, eis uma recomendação: a obra "Caminhando sobre o mar de névoa", de Caspar David Friedrich.
Afirmo e reafirmo: planejo reler. Recomendo muito.
Darei quatro estrelas, e a única razão pela qual não concedo a quinta é pela imperfeição da minha memória.