mbragajr 17/09/2023
Vitriol
A trama simples, a unidimensionalidade dos personagens e o ritmo folhetinesco da narrativa podem incomodar quem prefira densidade nos romances.
Não obstante, tudo isso é mero contexto para a gema preciosa da especulação científica vibrante, recheada de informações sobre as áreas dos saberes em causa e sobre seus expoentes.
Também (e mais importante), essa erudita discussão sobre as crises paradigmáticas a partir das quais se estrutura e evolve a ciência, aqui especialmente representada pela geologia e pela paleontologia, confere a notável descrição do espírito de uma época tão maravilhosa (e talvez tão perigosa) quanto a que hoje vivemos.
Porém com uma marcante diferença: o otimismo contagiante das descobertas, que eram recebidas pelo público ilustrado com entendimento e entusiasmo, em contraste com o desassombro hodierno de uma massa humana desdenhosa de toda acontecimento extraordinário, porque nauseada com sua espetacularização vertiginosa.
Se, ao tempo de Verne, desciamos resolutos ao interior da verdade, hoje somos projetados acima, aos confins da ignorância, para um destino menos auspicioso.