Lara.Dias 05/03/2018
"Enganam-se / os que me julgam vencido. /No desterro destas grades / forjo as armas do combate / da batalha do oprimido. /Crescem-me na alma/os germens dos proscritos / e irrompe do meu peito / um brado de revanche / em surdos gritos: / Eu não fui vencido! / Repouso no sepulcro sem nunca ter morrido. / Neste desterro / de grades guarnecido / onde às vezes brilham /luzes estelares, / dos livros sorvo o saber / e as lições de lutas milenares. / Embora da derrota / a lança sangre-me ainda o coração / não temerei novas batalhas / se empunho agora a arma da razão. / Regressarei à vida / onde me espera a luta, / no corpo / levo o execrável estigma das grades, /no coração / uma esperança nova, / na alma / uma paixão que arde / liberdade,liberdade!"
"O que eles chamavam de Comando Vermelho não poderia ser destruído
facilmente: não era uma organização, mas, antes de tudo, um comportamento, uma
forma de sobreviver na adversidade. O que nos mantinha vivos e unidos não era nem
uma hierarquia, nem uma estrutura material, mas sim a afetividade que desenvolvemos
uns com os outros nos períodos mais duros das nossas vidas. Como fazer nossos
carcereiros (ou mesmo a sociedade) acreditarem nisso?"
"Ao contrário do que saía publicado, as lideranças nascidas da luta eram um fator de equilíbrio. Todos os grupos sociais têm seus líderes, inclusive as minorias segregadas. Por que isso não pode ocorrer com os presidiários? Por que considerar que a formação de grupos é sempre negativa? O homem não é um ser social?
O preso é alguém tão despojado, tão despossuído, que sua conquista do direito à
voz soa como anúncio da inevitável desestabilização, do caos, da insegurança coletiva.
Já é uma rebelião em si. No inconsciente de nossa sociedade, a vontade mais
disseminada é a da aniquilação do marginal."
"Uma coisa é certa: a população carcerária, majoritariamente jovem, não será
recuperada se ficar trancafiada em celas, brutalizada. Tivemos razão em lutar contra
isso. Orgulho-me de ter integrado o grupo que inaugurou e difundiu, nas prisões, o
comportamento — não a organização — que se chamou depois Comando Vermelho.
Algumas vezes, as batalhas e os motins de que participei ajudaram a melhorar
momentaneamente certos aspectos do sistema penal. Com o preço de muitas vidas."