Queria Estar Lendo 29/06/2023
Resenha: Columbine
Columbine, do Dave Cullen, é uma análise do massacre de 1999 que chocou o mundo e traz discussões até hoje. Publicado pela Editora Darkside no selo Crime Scene, é uma visão bastante ampla sobre tudo que aconteceu na escola - e as consequências daquele dia horrendo.
No dia 20 de abril de 1999, os atiradores Eric e Dylan entraram em Columbine munidos de armas e abriram fogo contra quem apareceu em seu caminho. O terror daquele dia foi amplamente discutido e analisado; as motivações dos assassinos, seu planejamento doentio, as relações com amigos e familiares; o livro traça uma análise bastante minuciosa sobre os dois, mas também sobre as inúmeras vítimas (fatais, feridas, as que escaparam e sofreram sequelas psicológicas pelo atentado) e a cobertura da polícia e da mídia naquele incidente aterrorizante.
Esse não é um livro fácil. Já no começo, o autor apresenta o terror que foi aquele dia, desde as bombas plantadas pelos dois quanto o desenrolar do atentado e o fim dele.
Toda a cobertura que o livro dá para as inúmeras localidades onde coisas terríveis aconteciam (o professor que ficou preso na sala de ciências, sangrando até a morte; o aluno baleado na biblioteca que precisou ser resgatado pela janela; a professora e o aluno que encontraram os atiradores no corredor e escaparam por pouco) mostra a amplitude do horror que foi aquele dia. E quão rápido terminou; mas quão demorado foi o resgate e a ação conjunta da polícia e a da SWAT para resolver aquela situação.
Daí até o fim, o autor se divide entre minuciosos estudos sobre o que a polícia e os investigadores descobriram a respeito dos dois garotos, além de dar espaço para falar sobre as vítimas, suas famílias e a repercussão que aquele caso causou na mídia e no mundo.
É revoltante, não apenas pelo atentado, mas pelo que surgiu em consequência a ele. O modo como a mídia tratou os sobreviventes e seus familiares, caçando entrevistas e exclusivas e minando até o fundo dessa tragédia é de ferver o sangue; chegou ao ponto de pais e conhecidos precisarem formar uma barreira em frente à escola, meses depois, quando reabriram para o fim do período escolar. A mídia não era bem-vinda - não com o tratamento que ofereciam ao incidente.
As análises sobre as ações policiais também causam problemas de nervos. Enquanto alguns pontos foram bastante eficientes, outros deixaram tanto a desejar que não é possível terem sido coordenados por especialistas naquela situação; a do professor Dave Sanders, que sangrou durante três horas até a morte - depois dos policiais terem visto uma PLACA NA JANELA dizendo que havia alguém mortalmente ferido na sala de ciências - foi a que mais me revoltou.
A falta de cuidado deles com o aluno Patrick Ireland, que caiu sobre o capô do carro durante sua evacuação pela janela, também é de arrancar os cabelos.
Os estudos sobre todo o material que os atiradores deixaram para trás foram bastante instrutivos sobre quem eram. Diários, filmagens no porão, planos de ataque; Eric e Dylan deixaram tudo para trás, um rastro de horror. O investigador responsável pelo estudo de todo aquele material elucidou muitos pontos a respeito da personalidade dos dois - Dylan, depressivo, ansioso para morrer. Eric, psicopata, ansioso para matar.
É assustador e perturbador ao extremo; a facilidade com que eles falavam de morte, com que o Eric convencia o Dylan de que homicídio era o caminho certo. O discurso psicopata dele é enjoativo; é um "por que?" simplista, mas já começa a raspar tudo que eram e os motivos que seguiram por esse caminho. Nada justificativo ou compreensível no sentido empático da coisa, mas no sentido científico e psicológico.
O livro é, principalmente, sobre os sobreviventes. Sobre suas vidas transformadas e a jornada até a rotina depois de escaparem de um momento tão terrível. Fala sobre o diretor, os alunos, seus familiares. É empático por dar tantos pontos de vista aos que escaparam e às famílias dos que não sobreviveram.
É devastador pelos alunos que perderam tanto em tão pouco tempo, e pelos que conseguiram fugir e reergueram suas vidas a partir daí. O significado de Columbine para eles, diferente do que significava para a mídia e o mundo, era a escola; seu lugar. Sua Columbine.
"Muitas das vítimas são consumidas pelo porquê, mas Val já cansou disso. "Não me pergunto mais. Quanto mais você se contradiz e se questiona, mais atrapalha o seu progresso. Se deixar Columbine arruinar minha vida, então eles venceram."
Eu me emocionei demais com os relatos do diretor e dos alunos. É de partir o coração, também, ler sobre os pais dos atiradores; Sue e Tom, pais do Dylan, foram os que "mais" se abriram, ainda que ambas as famílias tenham se reclusado desde o atentado. Sue, inclusive, publicou um livro de memórias, relatando sua experiência de mãe e então da estigma como mãe de um assassino.
Columbine foi um livro tenso. É um estudo profundo sobre tudo que aconteceu e dá visão a diferentes pontos de toda aquela situação; é uma peça de análise criminal, com os relatos dos investigadores e dos especialistas em psicologia e psicopatia. É, acima de tudo, importante por dar tanta voz aos sobreviventes e suas famílias.
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