jota 30/05/2015Escolhas...Este é um livro bastante conhecido dentre as obras de Faulkner, também por conta de certos pontos: são duas histórias (aparentemente uma nada tendo a ver com a outra) contadas em capítulos alternados e numa delas, a que dá título ao livro, o personagem principal diz a célebre frase “entre a dor e o nada, escolherei a dor.”, uma das mais citadas do autor.
Palmeiras Selvagens é a estranha (e trágica) história de uma paixão entre um jovem médico e uma mulher casada e com filhos, a quem o marido traído oferece um cheque de 300 dólares (quantia alta nos anos 1930) caso ela decida voltar para casa um dia. Os amantes, como que criaturas que se expulsaram do Paraíso (nem tão Paraíso assim), comem o pão que o diabo amassou para permanecerem juntos. Acompanhar a vida atribulada deles, de mudança em mudança pelo sul dos EUA, é uma das coisas mais interessantes de Palmeiras Selvagens.
O Velho, a segunda história - Velho aqui é o rio Mississipi -, é sobre uma cheia do rio ocorrida em 1927, uma enchente de proporções bíblicas, exagerada por Faulkner, que traz à tona o personagem chamado de “condenado alto” (ele conta suas aventuras para o “condenado baixo”), que entre escolher a liberdade e a prisão, opta pela segunda. Durante a enchente ele poderia fugir, mas escolhe ajudar uma mulher a dar à luz num cenário de morte e destruição e depois volta para a cadeia. Tem sua pena acrescida em dez anos, fato que aceita sem reclamar absolutamente.
Nas duas histórias os personagens estão envolvidos com a justiça e têm suas vidas marcadas pelas escolhas que fizeram – são coisas que as duas novelas têm em comum, mas existem outras. Curioso é que, mesmo que os personagens façam suas escolhas, suas vidas (ou o resultado de suas escolhas) não são governadas por eles mesmos, mas por algo externo, digamos assim, pelo destino. Agindo certo ou errado eles têm de fazer o que fazem, não poderia ser de outro jeito (ainda mais que o dono dessas vidas é William Faulkner).
Bem, ler Faulkner nem sempre é muito fácil, como se sabe. Escreve Luiz Zanin: "O trabalho com as vozes narrativas, o monólogo interior, o descentramento do texto – tudo isso torna a leitura um desafio." Nas duas histórias há trechos em que a escrita dele se assemelha a um trem que saiu dos trilhos ou um rio que foi muito além de suas margens, então talvez seja preferível ler uma história de cada vez em vez de seguir a sequência do livro e se perder pelos capítulos (ou não, não sei, depende de cada leitor).
Outra coisa: Palmeiras Selvagens me pareceu bem mais interessante do que O Velho, então talvez convenha começar pela segunda história e reservar o prazer maior para o final da leitura. Minha avaliação - Palmeiras Selvagens: cinco estrelas; O Velho: três estrelas.
Lido entre 24 e 29/05/2015.