Luå 02/04/2024
Queijo com Goiabada
William Shakespeare nasceu na cidade de Stratford-upon-Avon, Inglaterra, em 23 de abril de 1564, e morreu no mesmo dia, em 1616. Curioso, não? Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway, com quem teve três filhos: Susanna e os gêmeos Judith e Hamnet.
Curiosa, pesquisei sobre Hamnet Shakespeare, achando que o único filho homem do casal teria inspirado o pai a escrever Hamlet. No entanto, o que encontro é uma história muito triste: Hamnet faleceu aos 11 anos, as causas de sua morte são desconhecidas, mas acredita-se que tenha vindo a óbito em decorrência da peste bubônica. Se a morte prematura do filho o inspirou a redigir Hamlet, não se sabe com certeza, mas a tristeza da perda fica evidente ao ler os versos do poeta com mais atenção. Parece que a comédia e a tragédia estão entrelaçadas com a vida, assim como as famosas peças teatrais do Bardo.
"Julieta: (...) Mas desejo algo que já possuo: minha generosidade por ti é tão vasta quanto o mar, tão profundo quanto é meu amor; quanto mais dou-te meu amor, mais eu tenho, porque é infinito."
Romeu e Julieta é o símbolo universal do amor desde o século XVI. Creia-se que a obra, escrita por volta de 1592, tenha sido inspirada em uma história real. Na minha opinião, essa obra é claramente imatura, explicarei o porquê.
Alerta de Spoiler: Querido leitor, se você não leu a peça ou não assistiu à adaptação, não recomendo a leitura desta humilde resenha.
Para começar, os protagonistas são muito jovens. Julieta tinha apenas 13 anos, quase 14, e Romeu provavelmente era mais velho, talvez 17 ou 18 anos. Infelizmente, sua idade não é revelada na peça, mas, naquela época, era muito comum jovens meninas se casarem com rapazes mais velhos. Embora Julieta seja mais nova, ela parece ser mais madura do que Romeu, pois as atitudes desse belo Montéquio são questionáveis. No ato I, descubro que Romeu está apaixonado e sofre por Rosalina. Em seguida, Benvólio e Romeu ficam sabendo que haverá uma festa na casa dos Capuletos, um baile de máscaras. Imaginando que sua “amada” Rosalina estará lá, Romeu decide entrar na casa do inimigo. Já Julieta, que fará 14 anos em poucos dias, é consultada pela mãe acerca do tema casamento.
No baile de máscaras, Romeu ESQUECE Rosalina e se apaixona perdidamente por Julieta, e ela por ele. No ato II, Romeu, certa noite, salta o muro dos Capuletos para ver e falar com Julieta. Apaixonados, trocam promessas de amor. Percebe-se que Julieta é muito doce e carinhosa, uma moça que anseia por carinho e palavras bonitas, um pouco ingênua, mas com uma personalidade forte, corajosa e fiel. Ela é minha protegida, mas Romeu... decepcionei-me muito com ele. Simplesmente não consigo entendê-lo, o fato dele ter esquecido do amor que sentia por Rosalina me faz questionar se ele realmente amou Julieta. Segundo o sábio frei, Romeu nunca amou Rosalina, mas a venerava. Era uma paixão cega, não amor. Todo o sofrimento que ele sentiu por ela no início do livro mais parecia dor pela rejeição do que coração partido.
"Ato II, Cena III.
Cela do Frei Lourenço.
Romeu: Com Rosalina, meu bom padre?
Não havia nem pensado.
Esqueci esse nome, que agora é passado.
(...)
Frei Lourenço: Ó, ela sabia bem,
que tu juravas amar sem saber o que é que o amor tem."
"O amor de homens jovens encontra morada
não em seus corações, mas em seus olhos é que fazem parada."
Sendo assim, será que Romeu realmente amou Julieta? E Julieta o amou? Bom, foi tudo muito rápido. A verdade é que os dois mal se conheciam, tiveram poucas interações ao longo da peça, e eu não sei se acredito em amor instantâneo. Acredito em paixão à primeira vista, uma conexão inexplicável que nasce em pouco tempo, provavelmente foi isso que ambos sentiram. Embora a história de Romeu e Julieta seja o símbolo universal do amor, não acho que essa envolvente doçura tenha feito morada neles em tão pouco tempo. Parecia ser mais a loucura da paixão, um fogo ardente que queimou muitas pessoas e não apenas o jovem casal. Além disso, é claro que a rivalidade entre os Montéquio e os Capuleto atrapalhou muito para o romance florescer. Pergunto-me se algumas cenas tivessem sido apagadas ou reescritas, será que o final da obra poderia ter sido feliz?
"Os pensamentos deveriam ser os mensageiros do amor,
que deslizariam dez vezes mais rápido que os raios solares (...)"
Com a ajuda da sua ama, a doce Julieta vai até a igreja, com a desculpa de se confessar com o frei Lourenço, e se casa secretamente com Romeu. Tudo parecia caminhar bem até o raivoso Teobaldo ir atrás de Romeu a fim de um duelo. É verdade que Teobaldo se virou para ir embora após Romeu dizer veementemente que queria paz, mas a afronta de Mercúcio o fez voltar.
"Ato III, Cena I.
Um espaço público.
Teobaldo: Às tuas ordens.
[Saca a espada.]
Romeu: Gentil Mercúcio, guarda a espada.
Mercúcio: Vem, senhor, tua passada dupla.
[Eles lutam.]
(...)
Romeu: O pesado destino deste dia de mais dias depende; é o
começo de mais desgraça que à frente se estende."
Entretanto, não criticarei Mercúcio porque adoro esse serzinho irritante e alegre, prefiro colocar a culpa em Teobaldo que se intrometeu onde não foi chamado. Além de ter assassinado um dos meus favoritos, filho da putä... quer dizer, perdão. Tendo matado Mercúcio com uma estocada da espada embaixo dos braços de Romeu, o covarde fugiu para logo depois voltar e ser morto pelo próprio Romeu. Como diz meu amado Chaves: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena", mas dessa vez passo pano em Romeu (até eu fiquei com sangue nos olhos e quis matar o cara). Como lemos na última fala de Romeu, parece que a obra começa a se encaminhar para caminhos tortuosos. Porém, e se essa cena fosse retirada? Será que teríamos um final feliz? Bem, nunca saberemos.
"Benvólio: Ah, o amor, tão gentil quando se vê,
tão tirano e duro quando se sente!"
Por fim, gostaria de deixar registrado aqui o meu amor, que é maior do que o oceano, por Benvólio, Mercúcio e Romeu, o meu trio maravilha. Amo muito os três juntos, amo como Romeu torna-se leve e brincalhão com os amigos, é a melhor versão dele. Inclusive, o meu favorito dos Montéquio é Benvólio. Ele é o meu menino sensato, leal e altruísta.
"Benvólio: (...) Eu, tomando seus sentimentos pelos meus, que mais
ocupados somos quanto mais sozinhos estamos,
segui meu capricho e não o dele. De bom grado evitei
quem de mim se esquivara."
"Ó, meu amor! Minha esposa!
A morte, que extraiu todo o mel do teu suspiro,
não tem poder sobre tua formosura."
Oh! Romeu, Romeu! Como posso entendê-lo, Romeu? No final da peça, no túmulo dos Capuletos, Romeu mata o nobre conde Páris, mas por quê? Ele foi até o cemitério visando cometer suicídio, mas surge o conde que poderia ter feito esse trabalho por ele, se Romeu tivesse deixado. Contudo, ele quis lutar e cometeu mais um assassinato, mais um peso para a consciência dele. Não entendi por que ele fez isso, estou sinceramente confusa. Se fosse eu, teria permitido que Páris me matasse para poupar-me do gosto do veneno, mas acho que Romeu queria ver e falar com Julieta antes, por isso fez o que fez, não que isso justifique seus atos. Sim! Romeu é extremamente dramático, insensato e impulsivo, mas eu o amo, mesmo não o entendendo.
Creio que meu amado Shakespeare tenha escrito a obra para ser imatura mesmo. Não é para morrer de amores por Romeu e nem lamentar a morte do belo casal, mas sim para aprendermos com a história, com os erros dos personagens, com a poesia que deseja passar uma mensagem, uma lição. Lembre-se de que essa peça pode ser baseada em uma história real, e os finais felizes são difíceis de conquistar na realidade. Triste, porém verdade. Todavia, sinto que os leitores focam muito no trágico final, mas há muitos momentos engraçados, doces e leves em Romeu e Julieta. Esses momentos tão lindos e valiosos são os meus favoritos, a esperança e o desejo de que tudo dê certo é tão terno e jovial, os protagonistas estavam sempre dispostos a arriscar tudo por amor.
"Janela, deixa o dia entrar e a vida sair."
Enfim, essa é a minha história favorita. Romeu e Julieta têm o gostinho da minha infância, gostinho de queijo com goiabada, um sabor irresistível. Quando era pequena, adorava passear de carro com meu pai. Ele levava-me para fazer companhia e, quando ele estava fazendo serviço na casa de alguém, eu ficava no carro esperando, e tinha uma rua que papai passava que era a minha favorita. Essa rua exalava (e acho que até hoje exala) um cheirinho forte e gostoso de goiabada, havia uma fábrica por perto que fazia esse doce e o aroma delicioso ficava no ar. Com isso, sempre lembrava da história de Romeu e Julieta, embora só tivesse ouvido falar naquela época, era muito criança para ler ou assistir à peça. O interessante é que sempre fui apaixonada por essa obra maravilhosa, e provavelmente sempre serei.