Rodolfo Vilar 18/01/2023
? Esse livro é para quem gosta de uma boa fofoca ?
.
Publicado em 1961, "Os velhos Marinheiros ou o Capitão-de-longo-curso" fazia parte do romance "A morte e a morte de Quincas Berro D'água", mas o autor decidiu desmembrá-la por constituir diferentes panoramas, criando-se assim dois romances distintos. É aqui nesse romance que Jorge Amado inaugura algo inusitado em suas narrativas, já que ele deixa a cargo de um personagem, esse que é bem intruso dentro da história, contar todos os fatos e prestígios do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, o nosso Capitão-de-longo-curso.
.
A história se passa no bairro popular de Periperi em Salvador, onde somos inseridos no cenário exatamente no dia em que o nosso Comandante acaba de se mudar para sua nova casinha nesse bairro, onde com o passar do tempo passa a ter prestígio, a ser considerado uma figura ilustre depois de tanto narrar as suas aventuras como Capitão-de-longo-curso, os perigos no mar e as paixões tentadoras que teve como homem marítimo. Porém, o que Vasco não percebe, é que outra figura ilustre do bairro, Chico Pacheco, funcionário público aposentado, sente-se ferido por dividir as suas glórias com uma figura desconhecida que aos poucos começa a tirar a sua atenção com os moradores locais. No pico de sua inveja, o que resta a Pacheco? Exatamente isso, investigar a verdadeira história do Comandante Vasco e trazer á tona todas as suas mentiras.
.
Com essa temática principal Jorge Amado costura um verdadeiro quebra-cabeça para reconstruir a vida de Vasco, num vai-e-vem temporal que mostra os vários lados de ambas as histórias. A todo momento o autor brinca com a verossimilhança dos fatos, criando no leitor uma sensação de incerteza sobre se o que estamos a ler constitui um fato verdadeiro ou não. Só lendo para saber o que acontece, e só Jorge Amado para usar de características tão únicas a construir uma história e a brincar com o destino.
.
O que entendemos é que a vida pode se tornar uma aventura quando cremos que os fatos inseridos podem ser verdadeiros e que necessitamos desses fatos para sermos um "alguém" na vida, constituindo um papel ilustre na vida daqueles que se importam com títulos e pompas.