Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018
Primeiro Da Trilogia
O Auto da Barça do Inferno", de Gil Vicente, foi escrito num momento de transição, quando o homem abandonava as trevas medievais e emergia para a luz do humanismo e esse conflito domina a obra, isto é, ao mesmo tempo que o autor critica a sociedade de seu tempo, seu pensamento continua centrado em Deus.
Também denominado "Auto da Moralidade", ele foi representado pela primeira vez em 1517 e é a primeira parte de uma trilogia da qual também fazem parte o "Auto da Barca do Purgatório" e " O Auto da Barca da Glória".
Dividido num único ato e com um linguajar de acordo com o nível sócio-cultural das personagens, seus versos são Redondilhas Maiores, exceto em alguns trechos e como Gil Vicente sempre manteve um padrão constante em suas obras, esse fato sugere possíveis erros de impressão.
Seu cenário é um porto onde estão ancoradas duas barcas: uma com destino ao paraíso cujo comandante é um anjo e a outra com destino ao inferno que tem na chefia o diabo. Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar, para serem julgadas. Dependendo dos seus atos, elas são conduzidas a uma ou outra embarcação e tanto o anjo quanto o diabo podem acusá-las, mas somente o primeiro pode absolvê-las.
Nesse auto, só serão julgados representantes típicos da sociedade lusitana: o fidalgo, o onzeneiro ou agiota, o parvo, o sapateiro, o frade, a alcoviteira metida com bruxarias, o judeu, o corregedor, o enforcado e quatro cavaleiros que combateram nas Cruzadas.
Entre mortos e feridos, só resta descobrir quais figuras do seleto grupo ganharão o direito de uma bem-aventurada existência no Paraíso. Faça sua aposta.