Thiago Rapsys 14/11/2011Auto da Barca do InfernoO "Auto da Barca do Inferno" é um poema satírico medieval, onde o autor (Gil Vicente) faz uma crítica geral.
Há um rio para onde todos vão depois da morte. No rio há duas barcas: uma que leva para o paraíso e a outra que leva para o inferno. Cada barca há um "comandante": na barca que vai para o inferno há o Diabo e o seu servo; na barca que vai para o paraíso há o Anjo.
O primeiro a chegar é o Fidalgo. Para quem não sabe, "Fidalgo" (filho-de-algo) designava a camada social que tinha o estatuto de nobre hereditária, juntamente com os titulares e até os Senhores de terras. Ele se dirige para a barca do inferno onde é persuadido à entrar. O diabo insiste, e ele vai para a outra barca.
Chegando na outra barca é o Fidalgo que insiste em entrar nela. Porém, o Anjo, irritado, bloqueia a sua passagem, dizendo que ele não fez coisas muito boas quando em vida. Desconformado, Fidalgo volta à barca do Inferno e entra.
Logo após o Fidalgo, entra o Onzeneiro, que passa pela barca do Inferno. Para quem não sabe, "onzeneiro" é sinônimo de "mercenário". O Diabo tenta contornar a situação, tentando não revelar ao onzeneiro que ele irá ao seu destino, o inferno. Mas falha e acaba revelando. Onzeneiro então dirige-se a barca do paraíso.
Chegando a outra barca, mas o Anjo também bloqueia a sua passagem, argumentando sua falta de generosidade quando em vida. O onzeneiro insiste, mas mesmo assim, o Anjo - sempre irritado - manda ele ir para a outra barca. O onzeneiro desiste e entre na outra barca.
Chega Joane, o Parvo (doente metal;louco), e conversa com o Diabo. Diabo tenta convencer Joane, e, mesmo sendo "louco", resiste e não entra na barca. Então ele se dirige à barca do Anjo.
Chegando a barca do Anjo, ele começa a conversa, pede para entrar na barca, e o Anjo deixa, argumentando que, embora o que falasse era desagradável, seu coração era puro.
Até aqui, apenas Joane entrou na barca que leva ao paraíso. O onzeneiro e o fidalgo foram bloqueados e dirigiram-se à barca infernal.
Vem o Sapateiro. Aqui o autor deixa bem claro que ele ainda está ligado ao material, à vida, pois ele, mesmo depois de morto, aparece com seus moldes e sapatos. Como todos, ele se dirige à barca do Inferno. O diabo não desiste, tenta persuadir o Sapateiro, mas como todas as primeiras vezes, ele é ignorado. Sapateiro então resiste e vai ao barco celestial.
Chegando lá, o Anjo - ainda arisco - "joga na cara" que ele não foi um bom homem, cobrando preços altíssimos para pessoas sem condições de pagar. Além de vender produtos de péssima qualidade com o preço de um de alta. Então, desconformado, o Sapateiro entra no barco infernal.
Entra o Padre, cantando, com a sua esposa. Neste momento Gil Vicente critica a Igreja pela sua falta de "palavra", pois mesmo os padres não podendo se casar e prometendo celibato, eles tinha até filhos! O Diabo tenta persuadir o Padre e sua esposa, ou ficante, ou namorada, para entrar no barco. O padre acaba aceitando e entrou, junto com sua ficante/namorada/esposa no barco infernal.
Assim que o Frade entra no baro infernal, vem a Brízida Vaz, a Alcoviteira (cafetina). Como sempre, o Diabo persuade a Brízida para entrar no barco, mas não aceita e caminha até a outra barca.
Toda orgulhosa, Brízida Vaz tenta entrar na barca celestial, mas não bloqueada pelo Anjo. Desta vez Brízida V. tenta persuadir o Anjo, dizendo que cuidaste muito bem de suas "meninas" e que merecia o céu por causa disso. O Anjo recusa. De cabeça baixa, Brízida entra na barca infernal.
Por fim chegaram três cavaleiros, cada qual com uma Cruz de Cristo pela qual morreram. Eles iam passar direto pela barca infernal, mas o Diabo chamou as suas atenções. Eles não são iludidos pelo Diabo, que o deixa muito bravo e indignado. Eles usam a palavra de Deus e o nome de Cristo para amedrontar o Diabo. O Anjo se interfere na conversa, chamando os três cavaleiros para a sua barca.
Assim termina a história. Apenas quatro pessoas entraram ao céu. Todos os personagens estão presentando uma sociedade inteira.
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