Perassoli 19/11/2020
Gil Vicente na sua melhor obra
Esse livro foi publicado em 1517, escrito pelo português Gil Vicente. O tema principal é a chegada de diversos personagens, logo após a morte, a uma praia onde se encontram duas barcas: uma que vai para o inferno, e uma que leva ao paraíso.
Acompanhando a chegada das personagens individualmente, vemos o diabo chamando cada um, dizendo que ali é a barca que devem entrar; porém, se negando a entrar na tal barca, recorrem àquela que é comandada por um anjo, querendo entrar ali de qualquer jeito.
Escrito como um roteiro para peça de teatro (por isso o termo ?auto? no título), a leitura é muito rápida, escrita em versos com rimas, e é divertido ver as tentativas dos participantes para não acompanharem o diabo para o fogo eterno.
Apesar de ter sido escrito há mais de 500 anos, o livro consegue ser atual nas personalidades. Embora só os vemos após a morte, os julgamentos feitos pelo diabo e pelo anjo nos mostram como as atitudes consideradas erradas na época continuam presentes nos dias atuais.
Para mim, a obra é incrível, mostrando o pensamento antigo, as formas de vida em sociedade e, de forma muito marcante, a crença religiosa. Como se sabe, na época em que Gil Vicente viveu, a religião ditava como viver, e essa encenação pós-morte mostra claramente a visão social sobre o assunto.
O único problema é o fato de não falar mais sobre as vidas dos indivíduos. Por ser ambientada em um local pós-morte, a história não dá espaço para mostrar o que os levou ao pecado, apenas há o julgamento do ato em si, e pronto. Mas isso não tira a beleza de uma das maiores obras portuguesas da história, cuja influência do autor atinge escritores e leitores até hoje.
Um livro curto, que você lê em duas horas, se não houver interrupções, e que vai te divertir e mostrar sobre como eram alguns valores de Portugal no passado. Uma forte indicação a todos.