Nise 04/01/2013Resenha do blog Diamante LIterário O livro Frankenstein - As muitas faces de um monstro é um levantamento que a escritora Susan Tyler fez sobre o mito originado de um romance escrito pela Mary Shelley no séc. XIX. Sendo ele um trabalho acadêmico, ele não tem um enredo em si, ou seja, não conta uma narrativa, e sim, reuni fatos para mostrar o quanto o personagem do livro é conhecido mundialmente. Ele é dividido em três partes e em cada uma delas a autora vai tratar sobre um aspecto diferente do monstro.
A primeira parte nos conta a origem da criatura, partindo de uma pequena biografia da Mary Shelley e de onde veio a ideia para o livro. Na segunda parte nós conhecemos o processo que originou a saída do personagem para o mundo. E na terceira é o mito que conhecemos hoje. Nesse trabalho a autora utilizou vários livros que analisam o Frankenstein e a sua influência, mas também os diários da Mary Shelley. É interessante no decorrer da leitura nos deparamos com trechos que foram escritos pela autora. Esses diários são usados principalmente no começo do livro para descrever a ideia do enredo e o que ela achava sobre a propagação do seu livro. Ela chegou a viver o sucesso do mesmo.
Descrever parte por parte do quanto o mito é importante levaria muito tempo, por isso, ressaltarei duas curiosidades que acredito não ser de conhecimento da maioria, a primeira delas seria do nome. É comum a denominação da criatura como sendo Frankenstein, mas no livro o personagem não tem um nome, ele é chamado de criatura, mostro ou até mesmo de diabo. Quem chamava Frankenstein e que na verdade é o sobrenome, é o homem quem criou o monstro, o Victor Frankenstein. O estudo da Susan mostra que era, e ainda é, comum dar o nome de quem criou para o ser criado. Nós vemos isso principalmente nas descobertas cientificas, o que não deixa de ser o caso, já que o Victor era um médico com pé na ciência.
A outra curiosidade é sobre a aparência do Frankenstein. Fazendo uma rápida pesquisa em sites de buscas sobre a imagem do monstro, veremos a caracterização de Boris Karloff, o ator que interpretou o Frankenstein nos cinemas na década de 30 e imortalizado por isso. Essa aparência ou jeito de falar e se portar em nada tem a ver com a criatura original. O Frankenstein que conhecemos é uma criatura boba, sem muita articulação e que mal sabe falar. No livro de Shelley, o monstro é culto e por muitas vezes descrito até mais inteligente do que outros personagens do enredo. Isso advêm da falta de convivencia do Frankenstein com humanos que busca uma forma de aproximação nos livros. O monstro que conhecemos hoje é fruto de produtores cinematográficos e que passa muito longe da ideia original.
Esse livro está recomendadíssimo não só para os que gostam do Frankenstein e que queiram saber mais sobre de onde ele surgiu e do sucesso que fez, e faz, passando pela literatura, cinema, politica e ciência, mas também para quem tem vontade de escrever um livro a partir de um trabalho acadêmico. A autora dedicou 20 anos da sua vida para estudar o Frankenstein e dois para escrever esse livro e isso de forma simples, para qualquer leigo de trabalhos acadêmicos entender. Para ler Frankenstein - As muitas faces de um monstro você não precisa conhecer afundo literatura inglesa e muito menos ser formado nisso. A linguagem dele nem requer que você conheça o Frankenstein, pois o livro o apresenta mesmo antes dele ser concebido.
Para finalizar comentarei sobre um ponto que poderia ser um pouco mais explorado pela Susan, que seria a parte literária. É lógico que a publicidade maior do Frankenstein é no cinema e na televisão, mas ele com certeza deve ter servido de base para outros livros, e a autora só dá uma pincelada nisso, no quanto o livro original foi discriminado e só foi reconhecido como clássico na década de 70. Acredito também que se ele tivesse fotos e ilustrações seria ótimo, esse não é o padrão de livros acadêmicos, só que uma parte dele é tão visual que seria realmente interessante, de fato, ver algumas referencias. Porém, isso são apenas detalhes para melhorar algo muito bom.
"No fundo, Frankenstein fala de um conflito eterno, próprio da condição humana. Que é a tensão entre o que temos e o que desejamos, entre o que esta firmemente ao nosso alcance e aquilo com o que podemos sonhar, mas não materializar."