Tiago 12/01/2021Faltou literatura"Crocodilo" lançado em 2019 soava como um dos mais promissores romances da literatura brasileira daquele ano. E a premissa a respeito do suicídio, assunto que continua sendo tabu, realmente parecia indicar um livro e tanto. Não foi.
É notável a dificuldade do autor ultrapassar o estilo jornalístico para realmente construir uma obra literária. A inserção a certa altura de diversos nomes célebres que cometeram suicídio ao longo dos anos indicam que o negócio do Contreras talvez seja o jornalismo literário. Enquanto romance, "Crocodilo" falha em diversos aspectos.
Se o tema pedia um tom mais singelo e íntimo, Contreras caracteriza seus personagens de forma grandiosa e equivocada (o pai, editor chefe do maior jornal do país que em certo momento se compara a Herzog; o filho gênio do cinema documental que aos nove anos já extraía depoimentos profundos de seus entrevistados) e não sente nenhuma vergonha de utilizar chavões batidos (o pai sobre ainda trabalhar aos 70 anos: "uma chama que ainda não se apagou") e diálogos pouco convincentes.
O tom meio que investigativo, apesar de um pouco refutado, é o que acaba conduzindo o livro, onde o pai tenta descobrir a razão factível do suicídio do filho. A todo momento ele é lembrado pelos personagens ao seu redor que isso não irá levar a lugar nenhum e realmente é o que acontece. A personagem da mãe, uma voz que poderia trazer um interessante contraponto e abordar outros aspectos de dor e luto, fica meio que esquecida após o início da trama.
Apesar de um início promissor, "Crocodilo" é um livro que peca pela falta de ritmo literário. Sua leitura é fluída e de fácil compreensão, mas em nenhum momento parece se desvencilhar totalmente do estilo jornalístico.