spoiler visualizarcaio_hlb 24/09/2023
Impressiona nas primeiras páginas, mas depois...
A primeira leitura que fiz deste livro deve ter sido entre 2019 e 2020. Recomendação de um professor da faculdade, fui até a livraria mais próxima e agarrei meu exemplar já fascinado pela mística envolvendo o título do livro: "Crocodilo". Interessado pelo mistério de porque esse nome, li o livro de forma rápida para tentar descobrir como o réptil encaixava dentro de uma história sobre suicídio. Talvez pela velocidade de leitura, e, claro, pelo meu pouco amadurecimento como leitor, considerei o livro muito bom, porém um pouco explícito demais, sem espaço para subjetividade e investimento do leitor a não ser nos próprios trechos envolvendo o crocodilo.
Em uma segunda leitura agora em 2023, afirmo que um livro foi uma imensa decepção. Decepção essa que tem nome: Ruy. O personagem principal e narrador do livro, pai de Pedro, é mal construído, buscando uma profundidade que não existe já que seus pensamentos são repletos de frases de efeito clichês como "a chama ainda não se apagou" ou qualquer outra coisa genérica que se escreve ao narrar um personagem velho que busca respostas. Além disso, sua fixação por sexo é extremamente incomoda. Das primeiras 29 páginas que li, deve haver quatro ou cinco referências ao ato sexual, sua mulher era nova e por isso gostava de transar, a perda do primeiro filho matou o sexo da relação deles, como eles se reconciliaram após a perda do primogênito por meio do sexo. Parece um adolescente que acabou de descobrir a vida sexual e por isso não consegue parar de falar disso e não um senhor de 73 anos, chefe de jornal, etc.
Não suficiente, para adicionar ao aspecto juvenil da obra, outro ponto sempre citado por Ruy é a maconha. Um momento marcante da vida dele com o filho foi terem fumado maconha juntos, após o suicídio do filho, pai e mãe, além de transar, obviamente, porque Javier não deixaria de inserir o sexo em uma parte relevante como essa, também fumam maconha juntos. O livro parece que, ao buscar se mostrar adulto e com personagens falhos, cai em temas trabalhados por qualquer literatura adolescente como "sexo' e "maconha" sem desenvolver isso para além de formas de levar a vida adulta. Mensagem essa irreal e pouco relevante.
O livro é mais valioso pela discussão que levanta do que pela forma que a conduz. O aspecto antinatural de um pai que deixa de ser pai pela morte de seu filho é um olhar sobre a vida muito inusitado e interessante, que rende horas de conversa. Porém, como um time de vôlei mal treinado, o autor não consegue cortar a boa bola levantada pela ideia de seu tema, fazendo assim um livro que impressiona nas primeiras páginas pela novidade de sua discussão, mas que, ao passar das páginas, chateia o leitor pelo mal desenvolvimento de seu personagem principal.
O que fica é que o livro é ótimo para introduzir alguém no mundo da leitura pela ótima temática e escrita fluida, porém, ao ser colocado diante de lentes mais atentas, seu charme se perde e resta apenas um personagem mal construído com uma visão infantil e medíocre sobre a paternidade, eternamente preocupado com os jantares e cinemas que vai perder por ter um filho, consequência de, talvez, um autor que pelo o que pesquisei, não tem filhos.