Monique 15/02/2011
"A alegria daquela liberdade era pouca para a desgraça daquela vida"
Capitães da Areia é um romance de Jorge Amado que foi escrito em 1937, o que para falar a verdade, para mim, não faz a menor diferença: é um livro que (infelizmente) é completamente atual, e creio que assim será por vários anos... ou até mesmo sempre.
Trata-se de um livro onde Jorge Amado, um escritor baiano, autor também de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", escreve a incrível e emocionante história de meninos que vivem como homens, roubando para viver, não tem mãe, pai, carinho, nada, crianças baianas, crianças brasileiras.
Ao ler o livro, tive uma dificuldade em associar a idade dos personagens com a vida dos mesmos, afinal quem imagina que crianças de cinco anos, como Pedro Bala a idade em que saiu pelas ruas da Bahia, fique abandonada, sem ninguém, sendo enxotada por todos os cantos? Eu prefiro não me conformar com essas imagens, como a maioria já parece ter feito.
Nesse romance que mais parece um retrato muito mais que fiel e detalhado do Brasil atual, é narrado a história de personagens:
Pedro Bala já citado, que era filho de um grevista, que morreu lutando pelo direito dos trabalhadores durante uma greve, com um covarde tiro, quando Pedro tinha cinco anos, o menino saiu pelas ruas, e depois, ao brigar com um do líder dos Capitães da Areia, luta a qual ganhou uma cicatriz no rosto, ganha também a liderança do grupo.
Vida Seca um menino do sertão apadrinhado por Lampião, sim o Virgulino Ferreira da Silva, um garoto que vinha com sua mãe, uma mulher valente, porém que morre na viagem para Bahia, deixando seu filho seguir a viagem sozinho, Vida Seca, em quase todo o livro é descrito como um menino com um semblante sombrio, assim como seu padrinho odiava a policia, e ao se juntar enfim aos cangaceiros se mostra mesmo jovem, ao 16 anos, uma pessoa cruel, sempre com seus olhos sombrios.
Sem Pernas, um pobre garoto coxo, com raiva do mundo, alias um dos personagens mais marcantes do livro. Este garoto tinha ódio de tudo e de todos, ele era o responsável por investigar a casa que seria alvo do furto dos Capitães, Sem Pernas chegava na frente casa, aonde contava sua história: um menino coxo, que não tinha família, mas que não queria viver roubando, queria um emprego. E conseguia, por piedade, as donas das casas o deixavam ficar, porém depois o olhavam com desprezo, arrependimento de tê-lo dado emprego e moradia, por isso, logo que sabia aonde se encontravam os pertences de valores, para contar ao Capitães, Sem Pernas fugia da casa com uma felicidade, uma alegria por se sentir vingado. Porém, ao executar este plano, o pobre garoto não encontrou uma mulher com uma falsa piedade, o ajudando por se sentir obrigada, encontrou Dona Ester, que o abrigou como um filho, um filho que ela havia perdido, com o nome de Augusto, o mesmo que o menino abandonada disse se chamar. Nesta parte do livro, uma das melhores na minha opinião, Sem Pernas entra em um dilema, ele enfim havia encontrado o amor e carinho de que tanto queria, e precisava, como toda criança, mas ficar naquela enorme casa, seria trair os Capitães, a narrativa desta parte é muito emocionante - porém o desfecho terá que ser lidos por vocês.
Professor, um garoto que buscava refugio e era apaixonada por livros, lia para todos no Trapiche, onde esses garotos, mais de cem, viviam abrigados, este garoto, mesmo sem ter frequentado muito a escola, quase nada alias, sabia desenhar, e assim ganhava alguns trocados pelas ruas. Quando se torna mais velho, é o Professor que antes de maravilhas o país, o aterroriza com a realidade da vida dos abandonados.
Gato, um jovem elegante, vigarista, um malandro baiano, que vivem enrolando os outros, amiga-se com uma prostituta, a Dalva, e vai vivendo como os outros, de roubos e extorquindo dinheiro da "sua mulher".
Dora, a única garota que entrou para o grupo, ela é um figura muito importante, pelo menos na minha (humilde opinião de leitora de - quase - 17 anos, e com muitas páginas ainda a percorrer), ao chegar ao Trapiche todos a olham com desejo, apesar de muito novos, ainda criança, como já disse, eram como homens, ladrões, tendo uma vida miserável, nunca foram crianças. Dora, como ela não tinha mais ninguém quando chegou ao Trapiche com seus dois pequenos irmãos, perderam a mãe, não tinham mais ninguém. Porém todos percebem: ela é só uma menina, e tudo começa a mudar, os olhares de homens, mostram-se olhares de crianças, que a viam como mãe, irmã, que nunca tiveram.
Enfim este livro é muito mais que recomendado, ele é necessário para todos, não foi à toa que ele entrou para os meus favoritos, é um livro emocionante, incrível que todos, sem exceções deveriam ler. Merece muito mais que só cinco estrelas...