Carla.Parreira 24/10/2024
Até o último fantasma (Henry James). O livro é uma coletânea de contos de fantasmas de Henry James, organizada pelo tradutor José Paulo Paes. Os cinco contos representam a última fase do autor, que se destacou pelo seu estilo refinado e pela profundidade das temáticas abordadas. A coletânea abrange contos escritos entre 1891 e 1909, trazendo uma evolução na escrita de James. O primeiro conto, "Sir Edmund Orme", é sobre um jovem que se envolve romanticamente com uma moça e enfrenta questões de interação com a mãe dela, que exibe comportamentos estranhos. James, sendo um escritor americano adaptado à cultura inglesa, traz elementos da literatura vitoriana, embora sua obra transite entre o realismo e o fantástico. O autor é conhecido por sua narrativa densa que requer uma leitura atenta para captar as camadas mais profundas de significado. James combina um vocabulário elaborado com discussões filosóficas em ambientes sociais elegantes. Cada conto revela uma mistura de tensão e sutileza, e mesmo que o elemento sobrenatural esteja presente, o cerne das histórias muitas vezes gira em torno do que esses fantasmas representam psicologicamente. A narrativa leva os leitores a uma imersão em diferentes situações sociais e emocionais, sempre sob uma atmosfera de mistério e intriga. A continuação do livro irá explorar a estrutura e os temas de cada conto, aprofundando-se nas especificidades que fazem de "Até o último fantasma" uma obra única na literatura de terror psicológico. A narrativa avança com o desenvolvimento da relação entre o jovem narrador e a mãe da moça, que apresenta comportamentos estranhos que revelam a presença do fantasma de Sir Edmund Orme. O mistério cresce quando a mãe confessa seu passado e a conexão com o espectro, que busca proteger a filha de repetir os erros do passado. O jovem, inicialmente hesitante, acaba se convencendo do seu amor pela moça, mas a sombra do fantasma continua a influenciar suas decisões. Enquanto isso, outro conto na coletânea aborda a solicitação de uma viúva a um escritor jovem para que este escreva a biografia de seu falecido marido, um autor renomado. O protagonista, amigo do falecido, percebe a delicadeza da tarefa. Ele se depara com as cartas e os escritos deixados, e reflete sobre os dilemas morais em expor detalhes privados da vida do amigo, levantando questões sobre a ética na biografia e a privacidade do morto. A análise das cartas revela uma tensão emocional, onde o narrador se sente culpado por adentrar na intimidade do autor falecido, questionando a legitimidade de sua missão. Tal como no primeiro conto, a ideia de que o passado assombra o presente se torna uma constante, com os fantasmas — tanto literais quanto figurativos — influenciando as vidas dos vivos. Essa intersecção entre a vida e a morte, bem como as repercussões das escolhas feitas por aqueles que partiram, ressoam fortemente em ambos os contos, explorando as complexidades das relações humanas e as consequências das decisões que ficam marcadas para sempre. O narrador se depara com uma situação incomum, onde pessoas aparentemente normais vivenciam experiências estranhas e inexplicáveis, mas sem a presença clara de fantasmas. A história explora a banalidade do cotidiano que se transforma em algo desconcertante, semelhante a uma trama de ficção científica, mas desvinculada de elementos sobrenaturais. O protagonista tenta entender as nuances dessa realidade distorcida que o cerca, sentindo-se preso entre o normal e o bizarro. Nos contos anteriores, houve uma forte interligação entre as experiências de vida e a influência do passado nas decisões presentes, enquanto neste novo conto, há uma transição para o estranhamento que provoca reflexões sobre a natureza da realidade. A ausência de fantasmas não diminui a sensação de assombro, mas sim a torna mais sutil, refletindo sobre como o desconhecido pode se manifestar em aspectos cotidianos. Esse contraste entre a presença constante de espectros em algumas histórias e a ausência deles aqui evidencia a diversidade temática de Henry James, mostrando que, mesmo na falta de uma presença sobrenatural, a atmosfera de inquietação e ambiguidade permanece. A narrativa, ao seguir por caminhos menos tradicionais, provoca uma reavaliação do que constitui o sobrenatural, levando o leitor a questionar as fronteiras entre o normal e o extraordinário, e a forma como a vida pode se desdobrar em direções inesperadas. O protagonista, um escritor bem-sucedido, vê sua rotina exaustiva como um peso e, em busca de descanso, acaba se entregando a um sonho que o leva a um resort onde encontra diversas pessoas. Esses encontros são reveladores e funcionam como um reflexo de suas preocupações internas, contribuindo para seu autoconhecimento. No entanto, a narrativa progride para a história sobre o retorno a uma casa de infância, onde o protagonista se depara com lembranças e um sentimento de saudade que o assombra. Enquanto ele revisita os espaços que conheceu, começa a experimentar fenômenos estranhos, como barulhos e aparições, que simbolizam sua conexão com o que poderia ter sido. Esse misto de fantasia e realidade ganha forma ao ser confrontado literalmente com seu próprio fantasma, que representa o homem que ele poderia ter se tornado caso tivesse permanecido na América. A interseção entre os sonhos e a realidade se torna um elemento central, onde a amiga do protagonista, sensitiva, também teve visões dele em sua juventude. O clímax da história ocorre quando ele finalmente enfrenta a versão fantasmagórica de si mesmo, que traz à tona não apenas suas inseguranças, mas também uma confirmação de que sua decisão de viver na Grã-Bretanha foi a correta. Essa relação com o passado culmina em um desmaio, trazendo uma explosão de emoções e a percepção de que ele também é parte do passado que deixou para trás. A resolução no colo da amiga e a interação com a faxineira que traz os detalhes do fantasma ilustram como essas figuras se conectam à sua nova realidade, reforçando a ideia de que ele precisa confrontar e aceitar suas experiências passadas para seguir em frente. A obra culmina em uma reflexão profunda sobre identidade, escolhas de vida e o que realmente significa viver de maneira plena, unindo o fantástico ao cotidiano de forma magistral. O protagonista reflete sobre como seria ridículo exibir suas posses de forma exagerada, ressaltando a necessidade de se adequar às expectativas da sociedade. A conversa entre ele e a moça revela não apenas uma intimidade crescente, mas também críticas sutis à superficialidade das aparências. A presença do fantasma, por sua vez, simboliza as fragilidades e os medos que o protagonista carrega consigo, incluindo suas limitações físicas, que só reforçam a vulnerabilidade da condição humana. Enquanto eles compartilham momentos de leveza e humor, a comparação entre o fantasma e o protagonista se torna cada vez mais evidente, destacando a busca por significado e conexão. A interação termina em um tom reflexivo, com a moça reconhecendo que, apesar das posses do fantasma, ele ainda assim não é a pessoa que realmente importa.