yara 17/06/2020"é uma organização imperfeita, aprendizagem de corrupção, ocasião de contato com individuais de toda origem? o mestre é a tirania, a injustiça, o terror? o merecimento não tem cotação, cobrejam as linhas sinuosas da indignidade, aprova-se a espionagem, a adulação, a humilhação, campeia a intriga, a maledicência, a calúnia, oprimem os prediletos do favoritismos, oprimem os maiores, os mais fortes, abundam as seduções perversas, triunfam as audacias dos nulos? a reclusão exacerba as tendências ingênitas? tanto melhor: é a escola da sociedade".
como protagonista e narrador, Sérgio - em seus 11 anos de idade - compartilha como foi deixar o conforto de sua casa para adentrar a rotina do Ateneu, um renomado colégio interno. seu pai, ciente das vindouras dificuldades, pede para que o filho seja forte, porém - pela primeira vez sozinho - Sérgio experimenta pujante dor em seu âmago. designado para uma turma com colegas de diversas essências, a maturidade de Sérgio é construída em meio a humilhações, risadas, amores, inimizades, escândalos e afins.
clássico da literatura nacional e único escrito impressionista da realidade brasileira, "O Ateneu" desvela a rotina de uma escola que em nada se difere da atual contemporaneidade. edificada sobre interesse, falsidade e hostilidade, a educação brasileira - principalmente sob perspectiva privada - é exposta como detentora de interesses capitalistas e corporativos minimamente transformadores.
apesar da estética e do vocabulário apurado, acompanhar o desenvolvimento de Sérgio foi uma ótima experiência de catarse. estudar o Ateneu, como alegoria de uma instituição social básica para o desenvolvimento pessoal, foi bastante questionador, pois tal ambientação acadêmica ainda existe e ainda acoberta diversos elementos de inércia que sondam a atual sociedade brasileira. todos sabem que a educação precisa ser mais, acredito que denúncias assim devem ser mais dignas de apreciação para uma futura possibilidade de transformação.