Bruno Leandro 03/12/2010
Pulsação acelerada e conflitos contínuos.
Primeiro, quero dizer que achei fantástico o ponto de vista que a Janda resolveu usar. Afinal, escrever um livro em segunda pessoa é muito difícil e desafiador. Ou seja, ela foi extremamente corajosa e, creio eu, bem-sucedida no que pretendeu.
O ponto de vista do livro faz duas coisas: primeiro, te faz pensar como o personagem, o que há dentro da cabeça dele, como se você fosse o próprio. No entanto, eu senti algo diferente. Conhecem fadas? É como se houvesse uma fada, ou a consciência do personagem, falando a toda hora. É como se você fosse essa consciência, esse ouvinte secreto descobrindo os últimos pensamentos daquele rapaz antes da entrada no ônibus. Como ele poderia ter se sentido, como ele poderia ter reagido às situações e, claro, aqueles pensamentos que o levam de volta ao passado, onde descobrimos um pouco mais da história de um personagem tão controverso e que já sofreu tanto na vida.
O livro também conta com uma tensão contínua. Simples assim: não há momentos calmos. O pensamento do rapaz é sempre agitado, fazendo com que haja maior ou menor tensão, com vários picos, mas nunca se permitindo uma normalidade. O pensamento é confuso, coflituoso, vertiginoso. Simplesmente não para.
Enfim, o livro cumpre o que promete de maneira magistral. O que vem depois é fato, mas não precisa ser relembrado no livro. Assim, a partir da entrada no ônibus, a história segue novamente seu curso e sai da fantasia (uma fantasia feia, má,tão cruel quanto a realidade, mas, ainda asssim, uma fantasia) e volta à realidade; um campo onde, sabiamente, a autora evita pisar e nos deixa ali, à porta daquele ônibus, onde aquele rapaz, infelizmente, resolveu entrar...