Antes do 174

Antes do 174 Janda Montenegro




Resenhas - Antes do 174


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Naclara 07/10/2023

Antes do 174
Como moradora do RJ, não faço ideia de como não conhecia esse acontecimento. Pelo que vi depois de terminar a leitura, ele é muito famoso, mas como faz muito tempo, e eu nem mesmo era nascida quando aconteceu, não me veio isso.
Enfim, a leitura é curta já que o livro é pequeno. Da pra terminar em um dia, mas demorei 3 kkk é uma leitura meio incômoda não só pelo fato de dela em si, mas de nos colocarmos no lugar dele. Foi um acontecimento horrível, e nesse livro, é o que passava na cabeça dele antes de fazer tal coisa. O motivo de fazer tal coisa. Realmente, ele sofreu muito, não teve uma boa vida, mas não deixa aceitável o que ele fez. Uma coisa não anula a outra. Enfim kkk não sei definir totalmente o que achei dessa leitura, e talvez a intenção dela nem seja pra formar opinião, só pra te incomodar o suficiente para que se entenda minimamente. Talvez para que sejamos capazes de observar melhor nossa sociedade e entender como ela funciona.


" Você tenta. Você bem que tenta. Quer acreditar nesse negócio de que sombra faz barulho, mas não consegue. Se você é uma sombra, e se sombra faz barulho, como não consegue produzir nenhum som? Nadinha mesmo, nem um sonzinho, um ruidozinho sequer? Antes, quando ainda era pequeno, não fazia questão de nada, tudo era novidade, tudo era diferente. "
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Nessa Gagliardi 20/07/2010

Como moradora do Rio de Janeiro, seria impossível não me emocionar com a história acontecida a alguns quilômetros da minha casa.
Assim como a autora e outras milhaes de pessoas, também fiquei grudada no televisor enquanto toda a tragédia se desenrolava à minha frente, em pleno dia dos namorados. Dia naturalmente feliz, que terminou de forma trágica, com dois mortos.
Em "Antes do 174" Janda descreve o que poderia ter se passado na cabeça de Sandro antes de entrar naquele ônibus. Toda sua história de vida influenciando suas decisões em 12 de junho de 2000 e modificando o futuro de algumas delas a fundo.
A narrativa é excelente, te prende ao livro de verdade. Como não são muitas páginas, você lê em uma tacada só, de um fôlego só. E, apesar de ficção, as palavras contidas ali poderiam perfeitamente descrever o que se passava na cabeça do assaltante naquele dia.
O lado negativo do livro fica em dois pontos, que existem justamente por ser um tema polêmico: O primeiro dele diz respeito à 'humanização' do bandido. Tive a mesma sensação ao assistir "Carandiru". O tema me prendia bastante, mas o filme terminava fazendo com que víssemos os bandidos como mocinhos. Em "Antes do 174" senti algo similar, como se a vida difícil e os acontecimentos bizarros anteriores da vida de Sandro (que, inegavelmente não foi fácil) o eximissem de culpa de seus atos posteriores. O segundo ponto que me causou incômodo foi a voz da narrativa, feita em 3ª pessoa, pondo o leitor no papel de protagonista, como se cada um ao ler o livro tivesse que se por no lugar do Sandro. Me incomodou porque não gostei de me sentir o bandido, ainda que de forma ficcional.
Apesar disso, vejo tais pontos como meras discordâncias de opinião, similares às minhas discussões entre amigos sobre remoção das favelas. Há sempre um a favor e um contra. O livro, sua história e fluência não são prejudicados por esse posicionamento.
O intuito de incomodar ela conseguiu, sem dúvida.
Estejamos de olho, Janda tem futuro!
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Janda 18/04/2010

Eu escrevi o livro, logo, me abstenho de fazer resenha. :)
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Érika dos Anjos 19/04/2010minha estante
uahuauhahuahuahuahu amei o comentário! rsssss




Karine Coelho 18/06/2010

Olhe para as sombras...
As palavras me tocaram como ferro em brasa. Entraram em meus ouvidos como um enxame de abelhas, zumbindo na minha cabeça e não me deixando pensar. Elas me possuíram como um espírito. E de repente, eu era Sandro, e Sandro era eu. Desci a velha ladeira que todos os dias desço, naquela cidade esquecida por Deus, e meus pensamentos eram os do Sandro. Andei de cabeça baixa, olhando para o chão, como é meu costume e o do Sandro. Olhei para as pessoas ao redor e elas eram invisíveis: não tinham rosto, nem voz. Eram como eu, como o Sandro, naquela cidade que também não tinha rosto, nem cartão-postal. Todos nós somos invisíveis. Se eu tivesse um espelho veria que não tinha rosto. Se gritasse, perceberia que não tenho voz. As palavras me deixaram sem fôlego, e sem pensamento. Eu não sabia o que pensar. Tudo fazia tanto sentido, mas era tão doloroso. Não quero mais ouvir. Fechei o livro. A verdade incomoda, ela é dura, mas é real. Eu os vejo todos os dias, as pessoas sem rosto, elas me olham de volta. Mas eu também não tenho rosto.

Assim como o Sandro também sou uma sobrevivente, não de uma chacina que ganhou visibilidade mundial, mas da grande tragédia diária que é a nossa vida. Eu quero ser vista também, quero ser ouvida! Quero entrar para a eternidade. Quero ser lembrada. Mas, será que as pessoas irão se lembrar de mim daqui a dez anos, assim como não se lembraram do Sandro? Nem eu mesma me lembrava do Sandro, confesso. Pra mim, havia sido a uma eternidade. Os brasileiros não têm memória. Muito prazer, eu sou Sandro Barbosa, sou João Hélio, sou Isabela Nardoni, sou Gabriela, sou Eloá. Sou Legião: milhares de pessoas que morreram no Rio, em Niterói, em Angra, no Haiti e no Chile (você se lembra do Chile?) Sou aqueles que morreram na chacina da Candelária, os presos que morreram no Carandiru, as vítimas da chacina da Baixada Fluminense. Você se lembra disso? Queremos justiça, gritam os cartazes. Mas, daqui a alguns meses todos terão esquecido. Não, eu não sou Tim Lopes, não sou Daniela Perez. Eles têm rosto, eu não. Eu sou aquele cara estendido no asfalto quente, morto a tiros por sei lá quem. Nem os jornais vêm tirar uma foto do meu corpo sem rosto e sem vida. Assim como o Sandro, eu sou apenas mais um bandido, graças a Deus que morri, menos um bandido no mundo! Bandido bom é bandido morto. Ninguém se interessa pela minha história. Se eu morrer eu também serei mais uma, né, enterrada naquele cemitério horrível escondido naquela cidade sem rosto.

Subi no ônibus. E de repente eu não era mais o Sandro. Eu era eu. Ele escolheu o modo errado de ser visto, eu nunca cometeria esse erro. Eu não quero ser um rosto momentâneo na mídia. Eu quero ser lembrada por quem sou, e pelo que eu fiz. Ou vou fazer. Eu vou olhar para as pessoas sem rosto, vou olhar para as sombras, vou fazer a minha parte. Não vou esquecer. Prometo que não vou esquecer.
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RUDY 16/12/2010

ANTES DO 174 – JANDA MONTENEGRO

Sandro Barbosa do Nascimento é um dos sobreviventes da Chacina da Candelária/RJ que ocorreu em 1993. NO DIA 12 de junho de 2000, Sandro seqüestrou o ônibus 174 que ficou retido no Jardim BotÂnico e teve transmissão ao vivo em rede televisiva nacional.
Em ‘Antes do 174’ Janda coloca as últimas horas que antecedem ao seqüestro do ônibus feito por Sandro. Seus pensamentos, sentimentos, encontros e desencontros, dúvidas e questionamentos.
Em uma narrativa em 1º pessoa onde Sandro expõe um mundo de acordo com sua visão de sombra/sobra... da e na vida.
“ELES NÃO ENTENDEM... A QUESTÃO NÃO É QUERER SE MATAR, VOCê NUNCA QUIS E NUNCA VAI QUERER. É UMA FORMA DE DESAFIAR O SISTEMA QUE SÓ QUER PASSAR POR CIMA DE PESSOAS COMO VOCÊ”.
Essa visão nos faz refletir sobre nossos conceitos e preconceitos. Nos faz analisar o que acontece em cima dos “morros” cariocas (e em outros tantos morros espalhados por todo Brasil) por um prisma totalmente diferente do que é repassado pela mídia e daquele que temos como parâmetro. UMA verdadeira lição de reflexão e mudança de paradigmas.
“NADA DESSAS COISAS QUE PRECISAM, DE FATO, PERMANECEREM. TUDO PARECIA. E TUDO O QUE PARECE NÃO DURA, APENAS ESTÁ ALI. E O VERBO ESTAR É MALEÁVEL, INCONSTANTE, ASSIM COMO AS PESSOAS QUE TEM ROSTO TODOS OS DIAS.”
Janda Montenegro é uma das escritoras dessa nova safra boa de autores brasileiros que vem surgindo. Formada em letras-literatura pela UFRJ e guia de turismo internacional usa seus conhecimentos literários de forma direta, em uma linguagem atualizada, de fácil entendimento e nos põe a pensar e repensar na sociedade e seus comportamentos.
Na minha humilde opinião, o livro é interessantíssimo!
“IMPRESSIONANTE A MESMICE DESSAS PESSOAS. SEMPRE EXIGENTES, SEMPRE VOLUNTARIOSAS. NADA LHES É SUFICIENTE. O QUE TEM NÃO É BOM, É PRECISO TER OUTRA COISA, AQUILO QUE ESTÁ POR VIR. TER O QUE SEQUER EXISTE. ‘TEMPO É DINHEIRO’, ESTÁ ESCRITO NO ROSTO DE UMA DELAS. ‘DINHEIRO É TEMPO’, DIZ O ROSTO DA SEGUNDA. ‘TEMPO E DINHEIRO’ RESUME A ÚLTIMA.”
Janda 18/12/2010minha estante
fico muito contente que o livro tenha lhe possibilitado enxergar melhor nossa sociedade. era esse o objetivo! obrigada rudy.


Michelle 11/04/2023minha estante
Um livro que leva as lágrimas




Vivi 30/08/2010

Ousadia enfurecida!
Pois é assim que vc se sente ao ler o livro de Janda Montenegro! Talvez tenha sido dessa forma que o projeto nascera e é dessa forma que a narração te traz para o mundo dos sem-rosto.

No início, eu tive um pouco de receio. Achei que fosse chorar, ficar deprê... nada disso. Embora tenha sentindo o que sempre senti a minha vida inteira; indignação por conta da situação em que se encontra a nossa sociedade, não perdi a atenção enquanto lia cada parágrafo.

A narrativa te leva por caminhos ao lado do personagem desde o momento em que o rapaz sai de casa até o momento em que entra no ônibus 174.

É muito interessante constatar que a cada parágrafo lido, vc consegue sentir o humor do personagem... mudando, se transformando, se tornando mais melancólico ou mais irritado com as situações à sua volta. Não sei se foi essa a intenção da autora, mas de longe, me pareceu uma estrutura inteligente.

Até porque, dessa forma, vc se prende à história até o fim. Mesmo sabendo que em algum momento ele vai subir naquele ônibus, vc não quer se perder... Vc respeita o espaço e o tempo que ele leva para pensar nas coisas e refletir sobre sua 'insignificância'. Vc respira cada momento junto com ele, sentindo o que ele sente, vendo da maneira como ele vê.

E o irônico é que tudo que é dito, embora algumas vezes em caráter repetitivo, vc sabe que é exatamente como a nossa sociedade vive. É triste, mas é verdade. Infelizmente.

Parabéns, Janda! =) Sinto-me como se te conhecesse melhor. Adorei!
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Priscila 01/01/2011

Finalmente depois de tanto tempo de comprado consegui lê-lo,e confesso que fiquei um tanto impressionada é fato que eu moro em um lugar menos desfavorecido e que por varias vezes vi tudo que se passa no livro acontecer,mais é que tudo esta ficando tão rotineiro que ver uma criança na rua pedindo esmola esta se tornando normal na visão do brasileiro.
Ler antes o 174 me deixou em uma certa agonia de saber que uma pessoa pode se achar tão insignificante aos olhos de outros e algo que te leva a pensar,mas não adianta só pensar também tem que agir.
Fiquei impressionada com como a Janda consegui meio que entrar no personagem e escrever tão bem.Enfim gostei muito e recomendo.
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Janda 03/01/2011minha estante
Pois é, as pessoas me perguntam como eu consegui "entrar na cabeça dele", mas na verdade ele e todos os outros estão aí, todos os dias - como vc mesma disse - pedindo e querendo ser observados, notados.
Obrigada pela leitura e pela resenha Pri!




Leandro Mattos 24/07/2010

A vida de uma Sombra
Livro imperdível, Janda Montenegro nos convida a refletir sobre como anda a nossa sociedade. Esta ficção traz o relato de Sandro e como era sua "vida", ou melhor, sua existência como sombra. É impossível terminar de ler este livro e não fazer uma reflexão de tudo a sua volta, uma reflexão em como ajudamos a manter este status quo de inércia. Tema polêmico e que vai incomodar muita gente, pois fala abertamente umas verdades sobre as pessoas sombras.
Faltam-me palavras para descrever o livro, fala de uma realidade que muitas vezes tentamos esquecer
Livro altamente recomendado. Uma leitura fácil e envolvente, quando começa torna-se difícil não afundar mais.
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Nessie 11/10/2010

Uma vítima da sociedade
O que leva uma pessoa a cometer um crime?
A diferença social sempre vai existir, mas o descaso social precisa mudar! Fazer de uma pessoa "a celebridade do momento" só porque sofreu uma história de tortura e depois deixá-la ao acaso, é mais cruel do que simplesmente não saber de sua existência.
Todos os passos tomados por uma pessoa, que nem se julgava digno de ser chamado de "gente", até a grande tragédia de sua vida. É essa a idéia do livro de Janda Montenegro - Antes do 174.
Ao pegar o livro pra ler, eu não tinha idéia do que me esperava, afinal, esse não é o tipo de literatura da qual eu costumo ler. Mas confesso que fui supreendida por uma obra diferente e agradável. Janda me chamou atenção, nesse livro, da realidade que vivemos: vemos o que queremos, julgamos tudo o que vemos. Mas e o "por que" de tudo, onde fica? Não paramos pra analisar os motivos que levam um jovem a procurar um caminho alternativo...
O que posso dizer do livro "Antes do 174"? Que tá rolando por aí de mão em mão, já o emprestei pra várias pessoas que me devolvem (no mesmo dia, porque a leitura é gostosa e rápida)com uma enxurrada de elogios! O livro é bom, seu conteúdo é um alerta, e não uma desculpa pros erros, apenas uma nova visão do que deve ser mudado.
Janda 14/10/2010minha estante
fiquei sem palavras, sério!
muito obrigada por ler este livro.


Nessie 16/10/2010minha estante
Janda, ler seu livro foi um prazer imenso! Vou estar divulgando sempre!!! :D




mura 08/12/2010

Muito bom!
Uma bela história, que mostra muita coisa verdadeira, que às vezes não queremos enxergar.
Janda 13/12/2010minha estante
exatamente isso! obrigada pela resenha.




cfsardinha 25/10/2010

Quase um livro jogo :P
Quando comecei a ler o livro da Janda, lembrei-me de meus tempos de RPG. Mais precisamente dá época em que conheci os livro-jogos.
A sensação de se sentir na pele do personagem foi tamanha que deu até para experimentar as agonias e os sentimentos dele.
Um livro envolvente com aquele sabor do "e agora, o que será que acontecerá?".
Também um belo trabalho de pesquisa e resgate do passado do personagem, fazendo com ele deixasse de ser mau ou bom. Era simplesmente um homem num dia de fúria.
Parabéns, Janda. Continue nos brindando com textos tão envolventes como este :)
Janda 31/10/2010minha estante
Hhahaha sempre vou rir muito desse teu ponto de vista. Depois que vc me o apontou, entendi um novo mundo da narrativa. Obrigada!




Psychobooks 08/12/2010

"Tive o prazer de conhecer a autora Janda Montenegro na bienal do livro de SP. Ali pude obter mais acesso ao seu trabalho como escritora e ao seu recém lançado Antes do 174. O livro é seu primeiro trabalho como escritora e acreditem: foi escrito em três dias! Sim, a escritora que se mudou para o RJ no dia da tragédia do ônibus, que leva o nome na capa do livro, teve a passagem muito marcada na sua vida e a necessidade de enriquecer a história de Sandro Barbosa do Nascimento, o seqüestrador do ônibus que mobilizou o Brasil.
A história já foi bastante retratada no filme Última Parada 174, porém no livro temos uma visão dos últimos momentos de Sandro antes de embarcar naquele fatídico veículo. A proposta literária de Janda é bem diferente do cotidiano. Além de estrear com um tema polêmico e uma história baseada em fatos reais, o livro possui uma linguagem simples, direta e com um narrador que transforma o leitor no seqüestrador. Nas 78 páginas transcorridas pelo livro você consegue sentir na pele todas as emoções, vivências, frustrações e devaneios de Sandro e esse sem dúvida nenhuma é o grande ponto forte dele. Em alguns momentos pude quase entender, se é que é possível o que motivou o protagonista a realizar a atrocidade em 2000. O livro retrata a história da chacina da candelária e o descaso da sociedade mostrando o lado nu e cru da sociedade brasileira.
Em alguns pontos do livro eu senti alguma repetição de passagem, mas nada que fizesse da leitura prejudicada ou do livro desmerecedor de seus créditos. Outros pequenos detalhes foram percebidos por mim, mas tudo plausível não só por ser o primeiro trabalho da Janda, mas também pelo próprio tempo que o livro foi escrito. Isso inclusive deve ser elogiado, pois em apenas alguns dias a obra mostrou uma estrutura e desenvoltura excelentes."


Resenha feita por Leandro Schulai, autor do livro O Vale dos Anjos para o blog.

Acesse e confira:
http://www.psychobooks.com.br/2010/10/psychobooks-convida-leandro-schulai.html
Janda 31/10/2010minha estante
Que bacana sua resenha Schulai!Obrigada pelo empenho na leitura e em me deixar suas impressões. Sei dos pontos que você fala e concordo que a narrativa seja o ponto forte do livro.
Obrigada mais uma vez!




Bruno Leandro 03/12/2010

Pulsação acelerada e conflitos contínuos.
Primeiro, quero dizer que achei fantástico o ponto de vista que a Janda resolveu usar. Afinal, escrever um livro em segunda pessoa é muito difícil e desafiador. Ou seja, ela foi extremamente corajosa e, creio eu, bem-sucedida no que pretendeu.
O ponto de vista do livro faz duas coisas: primeiro, te faz pensar como o personagem, o que há dentro da cabeça dele, como se você fosse o próprio. No entanto, eu senti algo diferente. Conhecem fadas? É como se houvesse uma fada, ou a consciência do personagem, falando a toda hora. É como se você fosse essa consciência, esse ouvinte secreto descobrindo os últimos pensamentos daquele rapaz antes da entrada no ônibus. Como ele poderia ter se sentido, como ele poderia ter reagido às situações e, claro, aqueles pensamentos que o levam de volta ao passado, onde descobrimos um pouco mais da história de um personagem tão controverso e que já sofreu tanto na vida.
O livro também conta com uma tensão contínua. Simples assim: não há momentos calmos. O pensamento do rapaz é sempre agitado, fazendo com que haja maior ou menor tensão, com vários picos, mas nunca se permitindo uma normalidade. O pensamento é confuso, coflituoso, vertiginoso. Simplesmente não para.
Enfim, o livro cumpre o que promete de maneira magistral. O que vem depois é fato, mas não precisa ser relembrado no livro. Assim, a partir da entrada no ônibus, a história segue novamente seu curso e sai da fantasia (uma fantasia feia, má,tão cruel quanto a realidade, mas, ainda asssim, uma fantasia) e volta à realidade; um campo onde, sabiamente, a autora evita pisar e nos deixa ali, à porta daquele ônibus, onde aquele rapaz, infelizmente, resolveu entrar...
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Janda 13/12/2010minha estante
Que interessante, acho que vc foi o primeiro leitor que até agora conseguiu entrar no que eu originalmente havia proposto, que nao era colocar o leitor como assaltante mas sim colocá-lo junto com ele, observando seus movimentos.
Obrigada pela resenha! Falta avaliar agora. :)


Rodrigo Gomes 16/12/2010minha estante
Bruno,juro que ainda não li esse livro.
Pela forma com que você falou parece ser muito legal,principalmente pela forma com que ela constitui a narração.
Achei Demais!




claudioschamis 05/07/2010

Assim que comecei o livro tentei mentalmente me preparar para aguentar o rojão que viria. Até porque o relato seria algo real, algo verdadeiro, algo que aconteceu e a nossa sociedade fez questão de esquecer.

A autora através de uma linguagem direta com você (leitor) começa a incomodar desde o início. E acredito que tenha sido esse o seu objetivo. E um objetivo nobre de alguém que faz parte de nossa sociedade, vivenciou como todos nós esse dia, mas com uma diferença: a ela isso incomodou DEMAIS da conta. E foi isso com toda a certeza que a impulsionou a escrever não sobre o dia em si, mas sobre o que levou nosso protagonista a acabar aquele 12 de junho em plena zona sul da cidade dentro do ônibus 174.

A autora coloca em nossa cara o como a sociedade lida com fatos e como trata parte das pessoas que não moram na ladeira. E claro com as que moram.

É um desabafo da autora, mas que se torna nosso também. A não ser que você leitor seja desses que acha tudo normal e que um dia a coisa se ajeita. Ou que nada tem mais jeito mesmo e melhor deixar do jeito que está.

É possível sentir junto com a autora o seu sofrimento e com isso acabamos também sofrendo junto. No livro não há mocinhos, bandidos, romance. Há vida real e uma incognita que só a nossa sociedade poderá um dia responder ou dizer com atos de que ela se importa sim.

Minha única ressalva é algumas passagens terem ficado repetitivas, mas que não compromete em nada a leitura.

Mas quando você for ler e no final das 80 páginas você não tiver ficado nem um pouco mexido e incomodado com nada, releia o livro para não ficar igual nossa sociedade de hoje que acha que tudo passa, tudo passará.
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Janice 28/06/2012

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Ao ler este livro, tentei esquecer tudo que sabia dessa história, pois também acompanhei o desenrolar pelos telejornais e achei importante não misturar os fatos e minhas opiniões à ficção. Pois bem, não foi fácil.
O livro é dinâmico, li rapidinho, mas a forma de narração me incomodou desde as primeiras páginas. Não achei legal ver-me na cabeça do Sandro, e apesar de ter uma vida terrível, ele não é um pobre coitado. Entendo que cada um tem sua parcela de culpa nessa sociedade injusta, onde poucos têm muito e muitos não têm quase nada, mas Sandro não é uma vítima, é um algoz.
Nada justifica a violência, e “aquilo que tinha que fazer” não faz sentido algum, na verdade! Apesar de uma infância (não-existência?) sofrida, vilipendiada, onde sua dignidade foi-lhe tirada de diversas formas, ele fez uma escolha. Escolheu causar dor, numa tentativa de vingar o que lhe fizeram, porém sem importar-se com as conseqüências. Teria ele pensado que as pessoas naquele ônibus tinham família? “Fazer o que tinha que fazer” realmente aliviaria sua angústia, seu sofrimento? Creio que não.
Sandro também morreu, mas deixou uma ferida que jamais cicatrizará, despedaçou uma família, e acredito que sua morte foi um bônus PARA ELE, afinal, não precisará pensar na porcaria toda que fez!
Outra coisa nessa narrativa também não fez sentido algum para mim: o uso de palavras e expressões que provavelmente uma pessoa sem estudo e o hábito de ler não usaria. Coisas como: maleável, inconstante, asco, execrações, pesadelos renitentes etc.. Aliás, quando ele usou a palavra horizonte também estranhei, mas essa veio acompanhada de uma explicação tão comovente que passou a fazer todo o sentido na narrativa.
Enfim, recomendo o livro, mas não gostei da autora ter colocado Sandro num papel de vítima da sociedade.
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