spoiler visualizarGustavo Vital 05/09/2024
O relato e sua relação com o indivíduo/coletivo.
Interessante.
No que esse livro perde se tratando de gerar empatia com a trajetória dos personagens aqui presentes ganha na minuciosa análise do conceito relato. Antes de adentrar na elaboração da ideia que proponho acredito ser importante ter em mente que o próprio autor do livro foi dirigente do partido comunista durante os acontecimento da guerra civil espanhola, e, o narrador do livro compartilha o mesmo histórico.
Durante a leitura vai se apresentando, de forma bem truncada ao meu gosto, o relato trágico e polêmico da família Avendaño. Esse relato é entrecruzado com o contexto pré-guerra civil espanhola, e, mais especificamente, a um incidente de uma revolta de certa faculdade politicamente alinhada ao partido comunista.
A escrita me parece focar demais nos acontecimento em si, e por mais complexos que sejam os personagens os mesmos me parecem artificiais, de modo que eles a todo momento parecem exercer alguma ação que leva ao próximo relato e assim de forma consecutiva. Isso, julgo eu, ocorre pela narrativa transitar entre pensamentos internos dos personagens e conjecturas do narrador que amarram todo o livro.
O maior defeito dessa obra e ao mesmo tempo sua maior qualidade, explico.
Quando o narrador tem a oportunidade de ter seu método de relatar algo observado por um historiador, esse último crítica como a forma não cronológica do narrador de contar uma história pode ser infeliz: " ... em desordem, por associação de idéias, imagens ou momentos, para trás, para a frente..."
Entretanto, talvez essa seja a forma mais fidedigna de retratar como nós humanos relembramos nosso passado, e portanto, qualquer passado.
Esse entendimento esclarece ainda outros questionamentos levantados na própria escrita, por exemplo Mercedez, que antes de iniciar seu relato daquela "morte antiga" se entedia pois está vivendo "... na realidade de um relato e não no relato de uma realidade. Ou seja, buscando ou reproduzindo um mesmo entendimento de certo acontecimento, por que não "histórico", se pode facilmente afastar da essência daquilo que é objeto do relato.
Ainda no exemplo de Mercedez, a mesma almejando um novo relato de um acontecimento que de tantas vezes contado já perdeu seu significado, se questiona: quando um acontecimento termina ou começa de verdade? Ora, por associação qualquer evento começa por qualquer evento anterior, mas não, Mercedez se recorda do quadro de Judite e Holofernes, e, a mudança do início do relato ressignifica aquela tragédia, aproximando talvez o máximo que é possível o relato a realidade para Mercedez.
Até então, escrevi sobre a relação do relato com o indivíduo, porém a relação relato com o coletivo também está presente. Enquanto a família Avendaño não tem mais interesse no espetáculo expiatório, o Delegado Sabuesa admira e defende a expansão daquele festival em escala nacional. Aqui se vê a disputa pelo significado da história em prol de interesses diversos.
Por outro lado, o povo organiza motim contra tal encenação, não há mais conexão da vila com aquela memória que a eles não mais pertence.
Escrevi demais e é isso, obrigado a quem ler essa bobagem.