Fabio Brust 13/04/2023
Vinte anos depois
Parado de frente para os primeiros volumes de ?Artemis Fowl? e ?A Sétima Torre?, eu tinha uma decisão a tomar, porque minha mãe disse que só ia me dar um. Foi difícil, porque os dois pareciam incríveis, mas decidi por ?A Sétima Torre? e este foi um livro que definiu, até certo ponto, o meu gosto pela literatura. Eu devia ter dez anos, e desde então a curiosidade pela série Artemis Fowl me acompanhou. No ano passado, achei por acaso o livro em um sebo e decidi finalmente ler.
Talvez a minha expectativa fosse bastante grande; é bem provável que esse fosse o caso. Eu esperei uns vinte anos para ler essa história. Na época achei que eu não ia conseguir me identificar com um gênio do crime, e acho que eu estava certo. Afinal a história é bem mais adulta do que parece a princípio, e fico até na dúvida de como eu iria recebê-la enquanto criança.
Agora, adulto, eu tenho certeza de que achei divertidíssimo acompanhar as trapaças de um criminoso infantil e genial. Mas será que uma criança consegue entender um anti-herói como um adulto? Será que eu o veria com olhos bons ou ruins? Agora é tarde para descobrir, mas a reflexão é válida.
Demorei para engrenar na leitura. No começo, talvez a expectativa tenha prejudicado o que ela realmente era, no lugar do que eu esperava. A narrativa de ?Artemis Fowl - O menino prodígio do crime? é bem mais maliciosa do que parecia a princípio, e o começo, no qual estamos ainda às escuras e o personagem tem acesso ao Livro do Povo, é meio obscuro e inicialmente sem propósito. Demorou, mas eu comecei a gostar do livro a partir da metade, quando entendi a lógica dele.
Me agradou, no final das contas, que praticamente toda a história se passe em um período de tempo fechado. Antes mesmo de chegar ao final eu comecei a ter uma sensação boa de noite de Natal, na qual nada poderia dar terrivelmente errado ou, se desse, eu continuaria envolvido em um cobertor de aconchego verde e vermelho. Foi por conta dessa percepção que comecei a realmente gostar do livro.
Muitas informações são escondidas do leitor ao longo da obra para orquestrar reviravoltas, e isso irrita um pouquinho. Mas o transcurso de tudo é bem bacana e as relações entre as personagens é curiosa e divertida. Apesar do meu receio inicial e da dubiedade do Fowl, afinal acho que quero ler o volume dois.